Dizia o escritor Richard Zimler, na última edição do semanário SOL (local sem dúvida apropriado), que não compreendia tanto ódio nem tantas emoções primárias em relação a Sócrates.
Com efeito, é difícil compreender certas acusações e ataques de pessoas que temos por "equilibradas e inteligentes", que ultrapassam a esfera política e se inscrevem numa irracionalidade e num primarismo verdadeiramente perturbadores.
Sabemos que o poder sempre suscitou "ódios", particularmente daqueles que o ambicionam e não são capazes de o conseguir, mas entre esse "comportamento normal" e o que tem acontecido relativamente ao actual primeiro-ministro vai uma enorme distância. É um fenómeno que merecerá estudo e que, para nosso bem, se espera não faça escola.
Se quisermos olhar para o que se tem passado, podemos dizer, utilizando um jargão em moda e tendo em conta aquilo que é a sua caracterização técnica, que estamos perante uma situação de bullying político.
Com efeito há, por parte de um vasto conjunto de políticos, analistas, comentadores e jornalistas, um reiterado comportamento agressivo e negativo para com José Sócrates que implica o insulto, a divulgação de rumores negativos, a depreciação política e pessoal, o sarcasmo e, inclusivamente, o envolvimento da sua família em questões que em nada têm a ver com a actividade política.
Há, portanto, um conjunto de factores que caracterizam o designado bullying, que nunca foram vistos relativamente a outro primeiro-ministro.
Estamos perante uma deriva analítica e de combate político que é perigosa, a que não estávamos habituados e que contém um conjunto de germes de destruição com evidentes consequências futuras.
Sabemos que a política é violenta, que não há contemplações, e que exige, mesmo, um constante e profundo contraditório e um combate ideológico, sem os quais não há possibilidade de um governo democrático, mas isso é muito diferente do que se tem vindo a passar. Hoje prevalece o insulto gratuito, a insinuação e a afronta pessoal e não a afronta ao poder e às ideias de quem o exerce.
Dir-se-à que José Sócrates não é uma vítima indefesa, porque tem poder, tem um partido que o apoia e está respaldado no voto popular, mas não é bem assim. Não tem nem pode usar armas iguais às dos seus opositores,que abandonaram a contenção democrática das palavras, dos meios e dos valores e se assumiram como inimigos figadais para quem vale tudo.
Pode-se discordar das políticas, do modo de governação, do estilo do governante - até dentro do PS há quem tenha estas discordâncias - mas é difícil entender o aviltamento reiterado e permanente e a substituição de tudo o que são pressupostos de acção política, ou de princípios deontológicos, no combate a um homem e ao homem.
Há um excesso hoje patente na nossa vida política, nunca antes visto, que vai ter graves consequências futuras e que não é nada saudável.
O necessário combate ideológico e político de que o país precisa está a ser submergido pela calúnia e pelo ódio pessoal e isso é algo profundamente lamentável, de todo desnecessário e que merece, também ele, ser condenado como um verdadeiro acto de bullying político, que efectivamente é.
Tudo o que se tem lido ultimamente vai no mesmo sentido. Mistura-se luta política com insulto fácil (e muitas vezes cobarde, já que a maior parte dos escritos não estão assinados).
ResponderEliminarAqui está uma opinião que pela sua oportunidade e sensatez merece o meu modesto aplauso.
Parabéns!
Sereno, justo e verdadeiro o seu comentário, como é seu timbre.
ResponderEliminarTenho tido muitos momentos de desacordo com as decisões do actual PM.
Tenho, também, a convicção profunda de que este está a ser objecto de uma campanha orquestrada. Campanha que decorre de alguns não reconhecerem a sua legitimidade democrática para governar e quererem alcançar o poder, socorrendo-se da difamação e da calúnia.
Campanha que resultou de, no início da sua governação, ter posto em causa muito poderes instalados.