terça-feira, 30 de março de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - XIV

O vice-presidente estava nervoso, não sabia onde colocar as mãos e o sorriso amarelo era indisfarçável. Por seu lado o presidente mostrava descontracção e até um certo ar de inexplicável felicidade.

- Então, meu caro, o que me diz dos resultados - perguntou o presidente.

- Ora, senhor presidente, não era aquilo desejávamos era o que temíamos e por isso não posso deixar de dizer que não me sinto lá muito satisfeito - respondeu o vice-presidente.

- Não me diga isso. Então não era isto que esperávamos e que desejávamos!? Onde é que foi buscar essa ideia? Sempre disse que ia ser este o resultado e por mim estou muito satisfeito. Ele até nasceu em Coimbra. Aliás, aconselho-o vivamente a expressar a maior alegria pelo resultado obtido pelo nosso novo líder - atalhou convicto o presidente.

- Mas... senhor presidente, nós apoiámos publicamente outro candidato, não sei se recorda!? - referiu confuso o vice-presidente.

- Olhe, meu caro, veja o que me acabou de dizer. Se reparar, falou no passado. Isso é uma questão ultrapassada e esquecida. Na verdade o nosso apoio ao novo líder é inequívoco e entusiástico. Neste momento temos tão só de começar desde já a organizar devidamente as coisas - acrescentou o presidente.

- Organizar as coisas... Mas a que coisas se refere, senhor presidente - interrogou um confuso vice-presidente.

- Bem, por exemplo, temos de escolher a música que devemos usar nas nossas recepções. É importante adoptar música clássica, concretamente árias de ópera e acabar com isso do fado de Coimbra, pois como sabe ele faz exercícios de canto e de certo não é canto gregoriano. Mais, temos de pensar nas nossas gravatas e sobretudo no nó. E eu que gosto tanto deste nó largo..., mas enfim o mais importante é o poderzinho. Vá por mim, meu caro - disse com tom decidido o presidente.

- Olhe, senhor presidente, eu decididamente não tenho a sua capacidade de encaixe - disse amargurado o vice-presidente.

- Pois é, é por isso que é só vice-presidente, mas olhe que como já lhe disse tem de treinar para assumir isto. Anime-se, homem. Vá lá, ombros para cima, encha o peito de ar e repita comigo: Fizemos uma excelente escolha. Foi sempre a nossa verdadeira opção. Temos um grande líder! - exclamou o presidente e acrescentou - Não se esqueça, a partir de amanhã gravatinha lisa e tons azulados. Vai ver que até lhe fica bem. Quanto ao nó, vamos esperar mais algum tempo para ver...

O vice-presidente sentia-se, ele sim, um pouco azulado e com um nó na garganta.

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