Quem
conhecia o projeto “Coimbra Cidade da Saúde” e assistiu ao seu assassinato deve
ter experimentado sentimentos contraditórios quando foi anunciado que Coimbra
vai organizar em 2018 a Conferência Itinerante da Cimeira Mundial de Saúde da
M8 Alliance.
Por
um lado sentiram a alegria de verem que, independentemente de tudo o que
aconteceu, Coimbra aguenta-se como um baluarte do país na área da saúde, por
outro a tristeza de acreditarem que hoje a situação poderia ser bastante
melhor, não só no que toca às condições de investigação e ensino, mas também em
muitos outros aspetos, consideradas num conceito então em voga de cluster e que
hoje o jargão tecnocrático apelida de ecossistema.
Fazer
de Coimbra Cidade da Saúde era não só exponenciar as competências científicas e
tecnológicas já existentes mas conseguir complementá-las no campo económico e
numa estruturação urbana que promovia e garantia uma superior qualidade de
vida.
O
problema é que um projeto desta natureza e dimensão implicava uma concertação
estratégica e uma prática séria de atuação multi-institucional que, num país de
capelas e capelinhas e numa cidade de tantas igrejas, era difícil conseguir e,
por isso, a solução mais fácil, até se pode dizer natural, foi matar a coisa.
O
fado de Coimbra cumpriu-se. Este, como vários outros projetos estruturantes,
finou-se no silêncio coletivo, com a naturalidade inerente a uma cidade que se
procura e que vai vivendo aos repelões, pelo menos na ótica do cidadão comum,
que desconfia de que haverá algures um cemitério de Planos Estratégicos de cuja
elaboração ouviu falar e que não terão sido baratos, mas de que não conhece
qualquer proveito.
Mas
adiante. Sabendo-se do mérito com que por aqui se desperdiça a inteligência, a
competência e a criatividade de tantos cidadãos também se reconhece que Coimbra
sabe responder com galhardia aos desafios que lhe são colocados, particularmente
quando surgem do exterior e, por isso, vai receber bem a Conferência da M8
Alliance.
Aliás,
nos aspetos organizacionais e na componente científica o sucesso é garantido, o
que seria excecional, particularmente para os cidadãos de Coimbra e para todos
aqueles que trabalham e procuram os serviços de saúde no Polo III era que este
momento fosse aproveitado para uma intervenção de requalificação daquela área
da cidade, nomeadamente do que toca aos problemas de mobilidade e
estacionamento que ali se verificam.
Então
sim, a Conferência da M8 Alliance, em 2018, seria um sucesso total e ficaria
para a história da cidade de Coimbra.
(Artigo
publicado na edição de 20 de outubro, do Diário de Coimbra)