quinta-feira, 20 de outubro de 2016

PELO SUCESSO TOTAL DA CONFERÊNCIA DA M8 ALLIANCE


Quem conhecia o projeto “Coimbra Cidade da Saúde” e assistiu ao seu assassinato deve ter experimentado sentimentos contraditórios quando foi anunciado que Coimbra vai organizar em 2018 a Conferência Itinerante da Cimeira Mundial de Saúde da M8 Alliance.

Por um lado sentiram a alegria de verem que, independentemente de tudo o que aconteceu, Coimbra aguenta-se como um baluarte do país na área da saúde, por outro a tristeza de acreditarem que hoje a situação poderia ser bastante melhor, não só no que toca às condições de investigação e ensino, mas também em muitos outros aspetos, consideradas num conceito então em voga de cluster e que hoje o jargão tecnocrático apelida de ecossistema.

Fazer de Coimbra Cidade da Saúde era não só exponenciar as competências científicas e tecnológicas já existentes mas conseguir complementá-las no campo económico e numa estruturação urbana que promovia e garantia uma superior qualidade de vida.

O problema é que um projeto desta natureza e dimensão implicava uma concertação estratégica e uma prática séria de atuação multi-institucional que, num país de capelas e capelinhas e numa cidade de tantas igrejas, era difícil conseguir e, por isso, a solução mais fácil, até se pode dizer natural, foi matar a coisa.

O fado de Coimbra cumpriu-se. Este, como vários outros projetos estruturantes, finou-se no silêncio coletivo, com a naturalidade inerente a uma cidade que se procura e que vai vivendo aos repelões, pelo menos na ótica do cidadão comum, que desconfia de que haverá algures um cemitério de Planos Estratégicos de cuja elaboração ouviu falar e que não terão sido baratos, mas de que não conhece qualquer proveito.

Mas adiante. Sabendo-se do mérito com que por aqui se desperdiça a inteligência, a competência e a criatividade de tantos cidadãos também se reconhece que Coimbra sabe responder com galhardia aos desafios que lhe são colocados, particularmente quando surgem do exterior e, por isso, vai receber bem a Conferência da M8 Alliance.

Aliás, nos aspetos organizacionais e na componente científica o sucesso é garantido, o que seria excecional, particularmente para os cidadãos de Coimbra e para todos aqueles que trabalham e procuram os serviços de saúde no Polo III era que este momento fosse aproveitado para uma intervenção de requalificação daquela área da cidade, nomeadamente do que toca aos problemas de mobilidade e estacionamento que ali se verificam.

Então sim, a Conferência da M8 Alliance, em 2018, seria um sucesso total e ficaria para a história da cidade de Coimbra.

(Artigo publicado na edição de 20 de outubro, do Diário de Coimbra)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

COIMBRA E A ECONOMIA DIGITAL



Coimbra viveu um doloroso processo de transformação do seu tecido económico com o desaparecimento, quase em simultâneo, de um conjunto de icónicas empresas tradicionais, que faziam o contraponto a uma omnipresente Universidade.  

Por outro lado, foi-se acentuando a contradição de ter uma significativa classe média e média alta, com capacidade aquisitiva e de não ter a uma oferta comercial adequada e satisfatória.

Às voltas com a recomposição do seu tecido económico, continua a sofrer com a incapacidade de uma mais rápida e consistente renovação do seu espectro comercial no que toca ao comércio tradicional e a tudo o que ele implica no campo do urbanismo comercial, de que a Baixa é paradigmática.

Há, contudo, uma nova realidade, ainda que não tão expressiva quanto as potencialidades de uma cidade universitária tão singular como esta, no que se refere à realidade económica de Coimbra que é pouco percecionada.

É verdade que, por exemplo, um relatório recente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações indica que numa distribuição das startups a nível nacional, Coimbra fica-se pelos 5% bem como Aveiro e Setúbal, Braga assume 9%, Porto 22% e Lisboa 41%. 

Ora isto é muito pouco e, obviamente, que há condições para que o empreendedorismo tecnológico assuma aqui uma dimensão mais relevante, ainda que a nível de empresas consolidadas penso que a percentagem será maior.

É sabido que para crescer na economia digital necessitamos de condições que passam pela existência de talento, pessoas preparadas e incentivos, e é aqui que a UniverCidade tem uma palavra determinante.

O Instituo Pedro Nunes é hoje o ponto de encontro entre a Cidade e a Universidade e o expoente dessa vontade de criar condições para um empreendedorismo de sucesso numa economia digital global, que não tem fusos horários nem limites de criatividade. Contudo, não podemos descurar algumas dimensões do quotidiano que permitam a fixação destas empresas de uma forma sustentada. Precisamos fazer de Coimbra uma cidade com uma superior qualidade de vida.

Talvez, por tudo isto, não fosse despiciendo que o governo da cidade fosse junto de cada uma das empresas e as ouvisse sobre os pontos fortes e os pontos fracos do Município e desenhasse uma intervenção de consolidação e desenvolvimento desta nova realidade do seu tecido económico.  

(Artigo publicado na edição de 6 de outubro, do Diário de Coimbra)