quinta-feira, 25 de agosto de 2016

CAMPEÕES



Enquanto decorriam os Jogos Olímpicos do Rio e os campeões de sofá avaliavam, com sapiência e um copo de cerveja, a prestação dos nossos atletas, acontecia no país um campeonato de fogueiras. É uma prova que se repete há umas dezenas de anos e que com algumas variações vai ocorrendo ora no centro, ora no sul, ora mais no norte do país, dependendo do tamanho do mato e da inspiração dos pirómanos.

Neste campeonato - que merece sempre um intenso tratamento mediático com imensos comentadores, alguns possuidores de um verdadeiro conhecimento enclicomérdico sobre o assunto -, há estafetas de bombeiros voluntários, acrobacias aéreas e muitas, mas mesmo muitas, fantásticas teses sobre as suas origens.

Como participantes especiais, temos, como é sabido, uma forte e vasta seleção de pirómanos, alguns com sucessivas provas dadas e outros que, ano após ano, vêm surgindo para felicidade de uns tantos que agradecem a tara como uma bênção dos céus.

Assim, enquanto uns corriam pelas medalhas, ou, mais importante, por competir com dignidade com os melhores, mais preparados e sobretudo mais apoiados, nós éramos, indiscutivelmente, campeões europeus de incêndios, o que diga-se de passagem não era difícil, pelo treino intensivo de tantos anos e pela firme vontade de nada fazer para alterar o desinvestimento realizado com tanto esmero retórico e tanta cobardia política.

Na verdade, os bons resultados na área ardida é diretamente proporcional aos fracos resultados em medalhas olímpicas o que leva à conclusão de que não é uma questão de falta de método, antes pelo contrário. Se não investimos no desporto escolar e universitário, assim como não investimos na prevenção e ordenamento das nossas matas o resultados tem de ser o conhecido.

Se não gostamos de planear e somos uns fãs do desenrascanço, o resultado esperado só pode ser o obtido com honra e glória para o improviso e proveito para uns tantos que têm como core business dos seus negócios os incêndios florestais.

Mas todo este processo tem o mérito de que enquanto se vêm as imagens de uns populares a atirar uns baldes de água para cima de um mar de chamas ou enrolados numas mangueiras de jardinagem a esguichar uns pingos de água para salvar as suas casas -, imagens que são vendidas pelas televisões a estações internacionais e difundidas por esse mundo fora como uma das melhores propagandas anti-país que se conhecem -, não se dá pelos políticos que vivem dos incêndios verbais que diariamente ateiam e nos Consomem as energias. Aliás, um dos exercícios interessantes, tipo: onde está o Wally?,  será o de tentar descobrir um deputado no contacto e apoio aos seus eleitores atingidos pelos incêndios.

Campeões, somos campeões nos fogos florestais e para o ano há mais.