Enquanto
decorriam os Jogos Olímpicos do Rio e os campeões de sofá avaliavam, com
sapiência e um copo de cerveja, a prestação dos nossos atletas, acontecia no
país um campeonato de fogueiras. É uma prova que se repete há umas dezenas de
anos e que com algumas variações vai ocorrendo ora no centro, ora no sul, ora
mais no norte do país, dependendo do tamanho do mato e da inspiração dos
pirómanos.
Neste
campeonato - que merece sempre um intenso tratamento mediático com imensos comentadores,
alguns possuidores de um verdadeiro conhecimento enclicomérdico sobre o assunto
-, há estafetas de bombeiros voluntários, acrobacias aéreas e muitas, mas mesmo
muitas, fantásticas teses sobre as suas origens.
Como
participantes especiais, temos, como é sabido, uma forte e vasta seleção de
pirómanos, alguns com sucessivas provas dadas e outros que, ano após ano, vêm
surgindo para felicidade de uns tantos que agradecem a tara como uma bênção dos
céus.
Assim,
enquanto uns corriam pelas medalhas, ou, mais importante, por competir com
dignidade com os melhores, mais preparados e sobretudo mais apoiados, nós
éramos, indiscutivelmente, campeões europeus de incêndios, o que diga-se de
passagem não era difícil, pelo treino intensivo de tantos anos e pela firme
vontade de nada fazer para alterar o desinvestimento realizado com tanto esmero
retórico e tanta cobardia política.
Na
verdade, os bons resultados na área ardida é diretamente proporcional aos
fracos resultados em medalhas olímpicas o que leva à conclusão de que não é uma
questão de falta de método, antes pelo contrário. Se não investimos no desporto
escolar e universitário, assim como não investimos na prevenção e ordenamento
das nossas matas o resultados tem de ser o conhecido.
Se
não gostamos de planear e somos uns fãs do desenrascanço, o resultado esperado
só pode ser o obtido com honra e glória para o improviso e proveito para uns
tantos que têm como core business dos seus negócios os incêndios
florestais.
Mas
todo este processo tem o mérito de que enquanto se vêm as imagens de uns
populares a atirar uns baldes de água para cima de um mar de chamas ou
enrolados numas mangueiras de jardinagem a esguichar uns pingos de água para
salvar as suas casas -, imagens que são vendidas pelas televisões a estações
internacionais e difundidas por esse mundo fora como uma das melhores
propagandas anti-país que se conhecem -, não se dá pelos políticos que vivem
dos incêndios verbais que diariamente ateiam e nos Consomem as energias. Aliás,
um dos exercícios interessantes, tipo: onde está o Wally?, será o de tentar descobrir um deputado no
contacto e apoio aos seus eleitores atingidos pelos incêndios.
Campeões,
somos campeões nos fogos florestais e para o ano há mais.