terça-feira, 5 de junho de 2012

INCOMPATIBILIDADES


Para reflectir... e sorrir.


O Primeiro Ministro considera que não são incompatíveis as funções que o Dr. António Borges exerce como responsável (?) pelos processos de privatização em curso e as actividades de gestão num grupo económico.

Uma Direcção Regional para pagar um serviço prestado por uma corporação de Bombeiros Voluntários exige ao presidente da sua Direcção uma Declaração em que diga expressamente: 

"... vem, nos termos e para os efeitos previstos na alínea d) do n.º 2 do Artigo 3.º da Portaria n.º 9/2012 de 10 de Janeiro, declarar sob compromisso de honra que nenhum dos titulares dos orgãos sociais da sua representada, bem como nenhum dos seus colaboradores ou funcionários, respectivo cônjuge, parente ou afim em linha recta ou até ao segundo grau da linha colateral, ou ainda pessoa com quem viva em economia comum, é colaborador ou ex-colaborador da ... (nome da Direcção Regional)".

segunda-feira, 4 de junho de 2012

POBRE ESQUERDA

Na sequência da avaliação da troika, dada hoje a conhecer, o ministro das finanças, mostrou o seu contentamento e disse que: "Cumprimos todos os critérios quantitativos e objectivos estruturais."

Os partidos da oposição, num puro ritual mediático, contestaram e criticaram a alegria do ministro.

Quanto à satisfação do ministro pelos resultados da sua acção política é obviamente sincera porque corresponde às suas reais intenções. O que está a acontecer é o que o governo verdadeiramente deseja. Há uma mudança acelerada de paradigma económico, que o governo e os partidos que o apoiam estão a realizar com êxito e que pretendem, na fase dois, venha a ter correspondência numa mudança aprofundada nas áreas social e política.

Querem desenhar um novo país e por isso a destruição das actuais estruturas e sobretudo dos conceitos solidários de um modelo social que veio sendo construído na sequência de Abril. Quanto maior e mais profunda for a destruição, realizada num momento de confusão e apatia, melhor. A área laboral é aquela que mais pretendem atingir. 

Mão de obra barata, desqualificação profissional, pressão sobre os sindicatos, elitização do ensino, diferenciação na prestação de cuidados de saúde, etc., são desígnios que prosseguem como sustentação do modelo económico e social que anseiam.

Passos Coelho e Victor Gaspar andaram a preparar-se para isto e é óbvio que têm de se sentir felizes por conseguir levar à prática os seus objectivos. É a realização do seu sonho!

No que toca à oposição, hoje toda à esquerda, é um penar ver a sua absoluta incapacidade de acção concertada e convergente na defesa de valores que apregoa como essenciais mas que secundariza na prática. Em Portugal não há hipótese de um governo de esquerda nem de uma oposição organizada de esquerda, pelo que a sua derrota vai acontecendo step by step. O conteúdo e a forma da sua critica ao governo é uma alegria para este e para a direita que o apoia. É um carimbo do seu sucesso.

Pobre esquerda que vai assistindo, em murmúrios inconsequentes,  à sua derrota. Esquerda de que não vai sobrar nada, nem saudades... pela incompetência manifesta de não ter sabido ser poder e por agora não conseguir ser oposição.

sábado, 2 de junho de 2012

NÃO HÁ ESPIÕES EM COIMBRA



A boa notícia é que os jacarandás estão aí esplendorosos de flores, tal como os seus congéneres de Lisboa. Por eles não há diferenças entre a capital e a província. A eles o nosso obrigado.

A má notícia é que por cá não temos espiões. Ninguém nos espia, ninguém quer saber da nossa vida, ninguém investiga os nossos amigos, gostos e as nossas manias pessoais. É frustrante.

Das nossas empresas também não há notícia de guerras, apenas um silêncio de falências.

Parafraseando Zeca podemos dizer que: “Eles espiam tudo e não nos deixam nada.”

Não será bem assim. Temos um arremedo de espionagem, muito primária, sobre algumas cenas de saias e de copos, mas coisas menores que não ajudam a que convidemos John le Carré para se instalar na Casa da Escrita a congeminar o enredo do seu novo livro.

Falta-nos mundo, cosmopolitismo e sofisticação e, sobretudo, grandes empresas de comunicação social como aquelas que agora se entretêm a vender-nos histórias de espiões, como se todas elas não fizessem “coisas daquelas” e não andassem, todas elas, todos os dias, a aliciar “gente daquela”.

Apesar de tudo ainda há esperança que apareça um sms, dum agente secreto conhecido, sobre o Metro Mondego. Um sms a propor a nomeação do Dr. Carlos Encarnação para tratar do processo.

Se não há devia haver e, por isso, se for possível acrescentem lá isso no processo de investigação.

Nós merecemos um pouco de atenção, até porque conseguimos transformar, com a natural apatia coimbrã, um drama local numa comédia nacional.  

DO DESEMPREGO AO BAIRRO DE LATA



Hoje os “empregados” falam do desemprego com a ligeireza dos anjos.

Os números e as suas estimativas são jogados com um "edificante" desprezo pelo sofrimento.

O sistema promove a desvalorização do valor do trabalho numa sistémica campanha de marketing que nos leva a desejar o sucesso de estar desempregado. 

António Borges, proprietário e autarca em Alter do Chão, homem da Goldman Sachs e delegado da troika para as privatizações, cobre todas as paradas no que toca à defesa da redução dos salários dos assalariados.

Amanhã os “empregados abastados” retomarão a estratégia “urbanística” dos bidonville e dos bairros de lata, para acantonar mão-de-obra dócil, disponível a qualquer hora, que luta entre si por umas horas de trabalho.

É fácil prever o futuro, difícil é saber quanto tempo somos incapazes de perceber o que se está verdadeiramente a passar e qual o absurdo da herança que estamos a construir.

Acho que devemos reler o “Mito de Sísifo”, de Camus e perguntarmo-nos, como ele fez, se a realização do absurdo exige o suicídio? Camus responde: "Não. Exige revolta".