Uma
pandemia é uma coisa rara e de enormes consequências. A do
covid-19, em que somos sujeitos concretos, vai ficar na história e
levar a que sejamos repetidamente avaliados e recordados pela forma
como a vivemos.
Sendo
uma brutal lição para uma humanidade pouco humana, de uma
convencida arrogância de domínio da natureza e de um persistente
aprofundamento de desigualdades entre seres humanos, resta saber se
vamos aprender as múltiplas lições que nos estão a ser dadas ou
se vamos ser uns farsantes que, passado o pior, voltamos à anterior
vidinha.
Confinados
fisicamente, seguimos com superior atenção o que se passa num mundo
doente e confuso, em que diariamente alguns dos principiais atores
políticos se empenham em ridículos e tristes espetáculos de
stand-up comedy, ao mesmo tempo que os verdadeiros atores vivem
momentos extremamente difíceis.
E
nós, por aqui, “afastados socialmente”, nesta Coimbra de
cantados afetos, como vamos? O que sabemos resulta do olhar
solitário pela janela, dum outro olhar caótico e veloz pelos media
e do olhar mais particular e humanizado trazido pela comunicação
social local.
É
nestes momentos que melhor nos apercebemos como são importantes os
jornais locais. Jornais que nos ajudam a superar o confinamento e o
afastamento do familiar, do vizinho e do amigo com quem sorvíamos
aquele delicioso e aromático café, nas pausas de uma cavaqueira
sussurrada a centímetros, numa Coimbra luminosa. Jornais que sofrem
acrescidas dificuldades para continuarem a sua missão.
Antes
da pandemia já por aqui sugeri o apoio à imprensa local com a
oferta de assinaturas dos jornais locais para os jovens estudantes do
Município, pela Câmara. Era um ajuda preciosa, sem possibilidades
de compra de influência, com uma perspetiva de ganhar futuros
assinantes e de formsr cidadãos mais informados e conhecedores da
realidade que os cerca.
Hoje,
mais do que nunca, parece-me que esta seria uma ideia interessante,
com assinaturas que até poderão se digitais. Fica, renovada, a
sugestão.
Outro
ensinamento pandémico é do reconhecimento da importância do nosso
Serviço Nacional de Saúde e, para nós conimbricenses, a evidência
da falta de uma estratégia clara de consagração de “Coimbra
cidade da saúde”, que, aliás, só não existe porque em tempos a
mesquinhez político-partidária e os interesses a boicotaram.
Depois
a pandemia veio, mais uma vez, evidenciar a pobreza da qualidade da
nossa política local. Enquanto assistimos à forma exemplar como os
membros dos diversos órgãos de soberania souberam, a nível
nacional, concertar posições e atenuar divergências, colocando,
acima de tudo, o interesse do país. Por aqui nem o covid-19
conseguiu pacificar relacionamentos e trazer um certo “sentido de
cidade”, que tão importante era e é necessário. Quiseram provar
como é necessário, perante novos futuros e novos cenários, o
aparecimento de novas políticas e de novos protagonistas locais.