quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

CORRER ATRÁS DO RABO




Correr atrás do rabo

A proposta de transformação do aeródromo Bissaya Barreto em aeroporto, que polarizou o debate política na última campanha para as autárquicas, gerando forte controvérsia, continua, ainda que com evoluções, a preparar-se, para mal dos nossos pecados, para voltar a ser o grande tema das próximas autárquicas.

Agora a ideia é um aeroporto de raiz, que o governo diz que vai estudar (o que é que queriam que dissesse?), havendo, mesmo, quem já queira aprovar o seu nome, apesar da forte contestação inicial, pelo que decerto a irá incluir no seu programa eleitoral.

Por outro lado, eventuais interessados na coisa e fundamentais ao desenvolvimento do projeto, se alguma vez ele viesse a ser considerado, retomaram, com energia, a defesa da abertura da Base Militar de Monte Real ao tráfego aéreo civil, mostrando que a Região Centro tem mais buracos estratégicos do que um queijo Suíço.

É verdade que há em todo este processo uma questão de fé, dado que um dos grandes argumentos para a construção do novo aeroporto reside na ideia da sua importância para o turismo religioso, concretamente, a vinda de charters de peregrinos para ouvir missa em Fátima.

Ora o dito turismo religioso de que Fátima é o polo central, tem desde há muito um circuito mais vasto, que envolve cidades e vilas da Região Oeste – Óbidos, Nazaré, Alcobaça, Batalha, etc. - que, tendo fortes apoios nas estruturas económicas e políticas da capital, não estão minimamente interessadas em qualquer aeroporto localizado entre Coimbra e Leiria ou em Monte Real.

Por outro lado algum atrativo religioso que, por exemplo, Coimbra poderia oferecer com uma significativa ressonância internacional - como seja o da metamorfose de Dom Fernando Martins, de apelido Bulhões, no Frade Menor António, posteriormente Santo e Doutor da Igreja e que Pádua e Lisboa assumem como seu -, nunca fez parte da estratégia da Igreja nem da Cidade.

Resta, portanto, o fundamento da importância dum aeroporto na região centro como elemento de coesão territorial do país e do seu desenvolvimento económico o que, obviamente, vai contra toda a estratégia de há muito seguida de que o país se estrutura nos dois grandes polos: Lisboa e Porto, complementados pelo “reino dos Algarves”, neste caso enquanto o turismo der.

Assim, enquanto se anunciam para Lisboa e Porto fortíssimos investimentos em transportes coletivos e infraestruturas ferroviárias, a nós é-nos dado o privilégio de discutir a construção de um aeroporto que, obviamente, nunca existirá, por tudo o que já disse e ainda porque isso seria contrário aos interesses da “senhora ANA”.

Uma discussão que só fará gastar energias e fragilizar a Região, por acentuar a clivagem entre as suas principais cidades.

Esta questão faz lembrar aquela cena, que não leva a lado nenhum e que já todos viram, do cão a correr atrás do rabo, e que os especialistas consideram tratar-se da reação a um determinado incómodo ou apenas a uma tentativa de chamar a atenção.





quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CENTRO DE ARTES OU SALA DE EXPOSIÇÕES


Coimbra está tão habituada a ser esquecida que quando lhe dizem que vai aqui ser exposta, por um tempo, a coleção de arte do BPN (196 obras) desata a gritar de alegria como se tivesse recebido uma enorme dádiva.

Aliás, num frequente comportamento ciclotímico entrou em euforia falando na criação na cidade de um centro de artes a instalar, num espaço municipal, sem ponderar um conjunto de questões preliminares fundamentais a um projeto dessa natureza.

Com efeito, a criação de um centro de arte (digno desse nome) implica perceber várias coisas entre as quais, desde logo: que tipo de centro de arte e qual a sua natureza e âmbito - municipal ou nacional?

É que um projeto de natureza e dimensão nacional é uma coisa, de natureza municipal é outra. Investir num projeto municipal, a nascer com base nas referidas 196 obras, implica a garantia de que as referidas obras são cedidas formal e definitivamente ao Município de Coimbra e que este deverá, num prazo razoável, apresentar e desenvolver um projeto concreto para o seu acolhimento.

Considerar a criação de um centro de artes de natureza nacional implica desde já a vontade expressa do governo no desenvolvimento desse projeto e o estabelecimento de uma agenda de trabalho com vista à definição concreta da sua natureza; modelo de articulação com a Câmara; etc.; etc.; etc.

Falar de repente num centro de arte e indicar logo um local para acolher a coleção (o seu embrião) parece-me ser o pior caminho para ir a algum sítio. Se queremos um equipamento cultural que signifique uma verdadeira mais valia para Coimbra e para a Região Centro não podemos embarcar numa precipitação primária que vai acabar, com toda a certeza, em mais uma frustração coletiva.

Aliás, como é que é possível apontar as antigas instalações da Manutenção Militar, que estão devolutas há anos a degradar-se e para as quais foi sussurrado um museu da cidade (?) Na verdade esta proposta apenas mostra que não só não há qualquer ideia do que se pretende fazer como demonstra não haver nenhuma ideia séria sobre o destino das referidas instalações, há longo tempo desocupadas. No fundo é qualquer coisa que de repente está mais à mão, e pronto!

Depois, se há a possibilidade de considerar, em conjunto com o governo, um centro de artes de âmbito regional e/ou nacional por que não pensar na adaptação do edifício da Estação Nova, que dizem vai ser desativado como estação ferroviária, ou então construir um edifício de raiz como um novo ícone de atração numa cidade que tão esquecida tem sido?

Antes de mais parece-me que o essencial é conseguir que a coleção seja exposta no edifício indicado pelo governo e depois que a Câmara consiga promover um forte debate na cidade e a mobilização institucional e cidadã que torne irreversível a instalação dum Centro de Artes de que nos possamos orgulhar. Chega de salas de exposições temporárias!

Na mesma altura em que a ministra da Cultura noticiou a instalação em Coimbra da coleção do BPN deu nota de que vai ser dada prioridade à instalação do Museu Nacional da Música em Mafra. Há anos que ando a sugerir que este era um interessante museu a instalar em Coimbra, tanto mais que há aqui uma imensa tradição e vida musical. Nunca ouvi uma palavra de apoio a esta ideia, porque decerto não tinha nem tenho qualquer razão, mas a minha teimosia leva-me a dizer que é uma pena Coimbra não se ter proposto acolher este museu. Tenho a certeza de que seria uma mais valia par a nossa cidade e que, pelo que se vê, até poderia ter sido instalada na antigas instalações da Manutenção Militar.