sexta-feira, 23 de junho de 2017
quinta-feira, 15 de junho de 2017
O ELEITOR QUE CONFUNDIU UMA CANDIDATURA COM UMA BICICLETA
O
eleitor consciente do seu dever cívico e que sabia já haver candidaturas às
próximas eleições, decidiu começar uma empenhada busca de esclarecimentos para
uma decisão ponderada e consciente. Para além dos fáceis gosto e das partilhas
do facebook não queria deixar, em matéria como esta, de tomar decisão informada
e de ir votar.
Foi
assim que encontrou referências a uma já ativa candidatura, apoiada por quatro
partidos e forças políticas, cujas siglas apareciam nos cartazes esmagadas pelo
candidato comum, que vinha declarando distancia dos partidos e intenção de
constituir uma equipa com independentes.
Claro
que o eleitor estava curioso e confuso. Mas a política tem destas coisas, tão
depressa se agregam partidos e se apela à fraternidade universal com se
excluem os pobres que aceitam o grande arquiteto da coligação.
Outra
coisa que intrigou o eleitor foi ver, no meio de tanto ativismo, discursos
repetidos sem pingo de novidade. Para a apregoada salvação da cidade não se
percebia quais os principais desígnios nem as grandes medidas políticas. O que
contava era a crítica e a acusação sem critério. É verdade que até às eleições
haverá tempo para um programa claro, bem desenhado e fundamentado, ainda que
não seja fácil com tantos partidos apoiantes e tantos ambicionados
independentes.
Para
já havia por ali muita oscilação, muita tremura e confusão de ideias. Mas todas
as coisas têm o seu tempo, como vem na Bíblia.
Estava
o eleitor neste emaranhado de dúvidas e interrogações quando olhou com atenção
e percebeu que tinha, por lapso, misturado na sua leitura informações sobre a
candidatura e um artigo sobre bicicletas. Da confusa candidatura tinha saltado
para o desenho e características do selim, o tipo de mudanças (com um nome
japonês), o tamanho das rodas, o sistema de travagem, o modelo mais adequado ao
uso na cidade ou os modelos indicados para todo o terreno. Tudo coisas sobre
bicicletas.
Como
sabem os leitores estes acasos levam muitas vezes às grandes descobertas, às
grandes ideias ou às mais intrigantes dúvidas sobre a origem do universo ou a
natureza dos candidatos.
Instintivamente
percebeu que havia ali qualquer coisa de premonitório.
Depois
de se revolver em interrogações lembrou-se que uma coisa essencial numa
bicicleta é o equilíbrio. O equilíbrio dos seus componentes e a capacidade de
equilíbrio do seu utilizador. Uma solução anárquica, com carretos desajustados,
rodas desconformes e sem adequado sistema de travagem é um problema. Ainda, por
cima, se o condutor pedala aos zig-zag sem saber para onde verdadeiramente quer
ir, dá mau resultado.
E
foi assim que o consciencioso eleitor, que pretendia aproveitar as férias para
se ir informando e adquirindo uma ideia segura sobre o futuro sentido do seu
voto acabou ali, naquele momento, por chegar a uma inesperada conclusão: tinha
confundido uma candidatura com uma bicicleta.
Talvez
não tenha sido um mero acaso mas uma relevante coincidência. Agora ia esperar
para ver quantos tombos o impulsivo ciclista não iria dar até outubro.
(Artigo
publicado na edição de 15 de junho, do Diário de Coimbra)
quinta-feira, 1 de junho de 2017
É FÁCIL, É BARATO E DÁ...
Dentro
de dias vai iniciar-se uma das maiores, senão a maior, campanha de marketing de
um país, a nível mundial: a Volta a França em Bicicleta - “Le Tour”.
É
um espetáculo desportivo e televisivo em que verdadeiramente não se sabe se o
mais relevante é o ciclismo se a venda da imagem da França. O ciclismo é o
argumento mas desde há muito é o turismo e um conjunto de atividades económicas
a ele ligadas, que é promovido de uma forma particularmente inteligente.
O
“Giro” e a “Vuelta” são soluções decalcadas da prova francesa, assim como a
nossa Volta a Portugal, só que as características do país, a sua dimensão,
paisagem, riqueza histórica e cultural, bem como o património edificado,
dão-lhe uma dimensão inigualável. Depois e não menos relevante, há uma
consciência nacional da importância da imagem do país que suscita uma enorme
participação popular.
Aprecie-se,
por isso, o esforço e o mérito dos ciclistas mas olhe-se para as imagens dos
espaços envolventes da prova, para o arranjo dos espaços públicos, dos
edifícios históricos e mesmo das casas com jardins e flores que transmitem a
imagem de um país cuidado e de grande beleza e organização.
Sabemos,
todos, que na realidade a periferia das grandes cidades é, em muitos casos,
assustadora e que as imagens que nos são apresentadas escondem realidades sociais
bem duras, mas a imagem global com que se fica é altamente positivas.
Há,
mesmo, um aspeto particular, que no nosso país é vulgar e muito associado ao
poder local que são as rotundas. As rotundas, que são uma boa e económica
solução a nível de segurança e de qualidade de circulação, são muitas vezes
criticadas e com razão, por uma implantação excessiva e/ou deficiente conceção
técnica.
Ora,
como nos é abundantemente mostrado por essa França fora, as rotundas são não só
equipamentos de natureza funcional mas também elementos estéticos, de
embelezamento das entradas das cidades e tradutores de identidades regionais e
locais.
É
evidente que também temos bons exemplos, mas a verdade é que há ainda muito a
fazer e que as nossas cidades vilas e aldeias terão muito a ganhar com a
requalificação desses locais de encontro e de circulação por onde passa um
enorme volume de trânsito e que são vistas por imensos cidadãos.
As
rotundas são hoje um cartão-de-visita das cidades e também um elemento
distintivo do interesse dos seus autarcas pela estética dos seus espaços, pela
sua valorização ambiental e turística e pela criação de empatia com os
visitantes e, se virmos bem, o seu alindamento é fácil, é barato e dá…
(Artigo
publicado na edição de 1 de junho, do Diário de Coimbra)
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