A
Câmara quer candidatar Coimbra a Capital Europeia da Cultura em
2027, mas não sei se Coimbra quer ter essa responsabilidade.
Nas
últimas décadas foi afirmado que Coimbra queria isto aquilo, quase
sempre relevantes projetos, que envolveram diversificados grupos de
trabalho, reputados técnicos, aprofundados estudos e muito dinheiro
gasto, com resultados dececionantes ou nulos.
Coimbra
quis ser Cidade da Saúde, investiu numa feira temática, em trabalho
técnico com apoio comunitário e foi tudo por água abaixo. Quis
participar no EURO 2004, e acabou por ter acrescidos encargos porque
os opositores da participação - por causa dos custos -, uma vez no
poder, gastaram mais de um milhão de contos (moeda da altura) num
outro estádio (?) de futebol de que ainda hoje não se sabe se está
em situação legal. Quis ter o seu Programa Polis e porque houve
mudança de poder autárquico viu o projeto truncado e acabado a
meio.
Coimbra
quis ter um metro ligeiro de superfície, como tantas outras cidades
europeias de idêntica dimensão, para substituir uma velha e
ultrapassada solução ferroviária pesada que, para mais, lhe
barrava o acesso ao rio e acabou, muito graças ao contributo duma
intensa guerrilha interna, que o poder central agradeceu, por chegar
até aos dias de hoje sem solução pesada nem ligeira.
Coimbra
foi Capital Nacional da Cultura e o resultado foi frustrante acabando
por contribuir para a falência desse projeto nacional.
E,
tudo isto, porquê? Razões muitas não faltarão. Mas a inexistência
de uma visão global para a cidade, assumida pelos diversos poderes
aqui existentes; o medo do futuro, fruto de um saudosismo doentio; a
falta de lideranças políticas e sociais qualificadas e
mobilizadoras; a infantilização das disputas partidárias; a
dificuldade em olhar e cativar a região em redor; e, muito em
particular, a incapacidade de mobilização transversal dos cidadãos
de uma cidade média que é culturalmente e socialmente diversa.
Claro
que um projeto desta natureza, que implica uma visão de médio
prazo, suscita múltiplas interrogações e uma basilar,
particularmente para o Grupo de Trabalho, será a de perceber que
Cidade será ou pode ser Coimbra em 2027. Haverá uma “nova”
cidade, um novo paradigma urbano nesta cidade universitária,
determinado pelo contexto externo e/ou por vontade e mérito
endógeno?
O
Grupo de Trabalho da Candidatura de Coimbra a Capital Europeia da
Cultura 2027 vai trabalhando e do seu trabalho vai decerto resultar
uma proposta competente, devendo no entanto ter em conta que se a
candidatura não tiver vencimento lhe serão imputados todos os males
e cobrados todos os cêntimos; e que se for vencedora dificilmente
verá muitas das suas propostas concretizadas porque entretanto
haverá dois atos eleitorais autárquicos e logo irredutíveis
vontades de mudar tudo.
A
manter-se o atual ambiente urbano de acédia coletiva e porque a
cultura não é aqui hoje capital, será que Coimbra quer mesmo ser
Capital Europeia da Cultura em 2027?