quinta-feira, 11 de julho de 2019

ANO DE AMEIXAS


Ano de ameixas é ano de queixas. Uma rima fácil para uma verdade empírica em risco de colapso. Este ano há um excesso de ameixas o que quer dizer que não vão faltar queixas. Contudo, mesmo que não houvesse uma única ameixa ao cimo da terra nunca faltariam queixas porque é um ano eleitoral.

As queixas fazem parte do nosso quotidiano. Queixa-mo-nos de tudo e mais alguma coisa. Até nos queixamos das queixas. Por isso façamos bom uso das ameixas e deixemos de lhes imputar a responsabilidade pela dimensão e intensidade das queixas. Melhor será tentar uma rima ou um trocadilho que envolva as queixas e as redes sociais porque é aí que agora está o busílis.

Queixa-mo-nos do que temos e do que não temos, com a ressalva de que nos queixamos muito pouco de nós próprios. Eu queixo-me de não me queixar mais. É uma falha que reconheço e que resulta do facto de gostar – cada vez mais - do meu país e da minha cidade. Não sou responsável por ter nascido aqui, mas sou responsável por viver em Coimbra e isso inibe-me de alguns queixumes.

Há quem escolha viver num determinado sítio pela negativa, isto é, escolhe viver ali porque não existem coisas de que não gosta. A contrario eu escolhi viver aqui porque aqui existem coisas de que gosto. O que me perturba é ver que há algumas dessas coisas que vão desaparecendo, ou sendo postas em crise e outras, ainda, que não são suficientemente exponenciadas.

Estamos a viver um momento de profundas transformações sociais, económicas e políticas, a uma velocidade estonteante, e não estamos, por aqui, a ser capazes de apanhar o ritmo nem de perceber a melodia. Definitivamente encalhámos. Conseguimos, nestes últimos anos, resolver muitos problemas infraestruturais e agora que temos a possibilidade de dar o passo seguinte dá ideia que não há ideias. Falta rasgo, imaginação, criatividade e, também, um olhar de águia sobre o nosso quotidiano, que nos obrigue a corrigir as pequenas/grandes maleitas que nos desgostam.

Pior. Entrámos, à semelhança do que acontece por esses país fora, em modo festivaleiro, consumindo recursos relevantes, sem mérito e sem retorno, que nos irão fazer falta para projetos estruturais e de futuro. Há uma espécie de esquizofrenia, caracterizada por um mar de queixas de baixos salários, desemprego jovem, taxas moderadoras na saúde, preço dos combustíveis, etc, etc, etc., e, por outro, por um mar de festivais financiados com dinheiros públicos pelas autarquias ou pagos, e bem pagos, por milhares de queixosos.

Hoje, está provado, que podem faltar ameixas mas o que não faltam são queixas.





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