Ano
de ameixas é ano de queixas. Uma rima fácil para uma verdade
empírica em risco de colapso. Este ano há um excesso de ameixas o
que quer dizer que não vão faltar queixas. Contudo, mesmo que não
houvesse uma única ameixa ao cimo da terra nunca faltariam queixas
porque é um ano eleitoral.
As
queixas fazem parte do nosso quotidiano. Queixa-mo-nos de tudo e mais
alguma coisa. Até nos queixamos das queixas. Por isso façamos bom
uso das ameixas e deixemos de lhes imputar a responsabilidade pela
dimensão e intensidade das queixas. Melhor será tentar uma rima ou
um trocadilho que envolva as queixas e as redes sociais porque é aí
que agora está o busílis.
Queixa-mo-nos
do que temos e do que não temos, com a ressalva de que nos queixamos
muito pouco de nós próprios. Eu queixo-me de não me queixar mais.
É uma falha que reconheço e que resulta do facto de gostar – cada
vez mais - do meu país e da minha cidade. Não sou responsável por
ter nascido aqui, mas sou responsável por viver em Coimbra e isso
inibe-me de alguns queixumes.
Há
quem escolha viver num determinado sítio pela negativa, isto é,
escolhe viver ali porque não existem coisas de que não gosta. A
contrario eu escolhi viver aqui porque aqui existem coisas de que
gosto. O que me perturba é ver que há algumas dessas coisas que vão
desaparecendo, ou sendo postas em crise e outras, ainda, que não são
suficientemente exponenciadas.
Estamos
a viver um momento de profundas transformações sociais, económicas
e políticas, a uma velocidade estonteante, e não estamos, por aqui,
a ser capazes de apanhar o ritmo nem de perceber a melodia.
Definitivamente encalhámos. Conseguimos, nestes últimos anos,
resolver muitos problemas infraestruturais e agora que temos a
possibilidade de dar o passo seguinte dá ideia que não há ideias.
Falta rasgo, imaginação, criatividade e, também, um olhar de águia
sobre o nosso quotidiano, que nos obrigue a corrigir as
pequenas/grandes maleitas que nos desgostam.
Pior.
Entrámos, à semelhança do que acontece por esses país fora, em
modo festivaleiro, consumindo recursos relevantes, sem mérito e sem
retorno, que nos irão fazer falta para projetos estruturais e de
futuro. Há uma espécie de esquizofrenia, caracterizada por um mar
de queixas de baixos salários, desemprego jovem, taxas moderadoras
na saúde, preço dos combustíveis, etc, etc, etc., e, por outro,
por um mar de festivais financiados com dinheiros públicos pelas
autarquias ou pagos, e bem pagos, por milhares de queixosos.
Hoje,
está provado, que podem faltar ameixas mas o que não faltam são
queixas.
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