Coimbra
é uma boa cidade para viver, mas podia ser melhor. Esta é a síntese
do que se ouve, do que se lê e do que se sente. Havendo um
contentamento pelo que a cidade oferece nota-se uma certa falta de
“joie de vivre”, motivada por insuficiências de planeamento e
organização e, sobretudo, pela ausência de um sentido de futuro.
Duas
coisas parecem hoje cada vez mais evidentes no processo de gestão
das cidades: a procura duma inteligência global na sua organização
e funcionamento e um desígnio de felicidade coletiva.
Em
Coimbra não tem faltado quem se pronuncie sobre estas questões e
agora que se aproxima o Dia da Cidade (4 de julho) decerto que não
faltarão mais reflexões, comentários e discursos que,
independentemente do ponto de vista dos seus autores, deverão
merecer atenção, tanto mais que estamos a viver um momento de
elementares indefinições e de incoerências.
Dizia
há dias António Guterres que a sua geração, de que faço parte,
falhou na resposta à emergência climática e eu sou tentado a dizer
que a minha geração conimbricense
está
a falhar na resposta à emergência de uma Coimbra confusa, insegura
e tristonha. Para
mais é incompreensível
que numa cidade de smart people não haja a capacidade de encontrar
pontos de apoio para, parafraseando Arquimedes (Deem-me
um ponto de apoio e levantarei o mundo), alavancar Coimbra.
Noticiava
o Diário de Coimbra
as Festas
de Coimbra e
dava conta de um extenso programa de 7 dias, com eventos variados,
mas em que o destaque
vai
para músicos
nacionais, por
isso sublinhava
“Made in Portugal” em detrimento de uma ambicionado “Made in
Coimbra”. Mas fará
sentido uma programação de 7 dias (!) de festa
com
tantas
contratações de espetáculos com
elevados
custos, para assinalar o dia da cidade? Mais, haverá aqui alguma
visão
estratégica
de preparação da candidatura de Coimbra a Capital Europeia da
Cultura em 2027, como outras cidade já estão a fazer? O dia da
cidade não deveria ser um momento especial e particular de exaltação
dos seus valores, méritos, competências e capacidades, que um
programa de festas como este menoriza completamente?
Aliás
se pensarmos no que aconteceu na celebração da passagem de ano em
que se gastaram
milhares
de euros em variadíssimos espetáculos na
Baixa, que se dizia tinham em vista contribuir para a revitalização
daquele espaço, concluiremos que de uma macro despesa resultou um
micro beneficio apenas
para
alguns estabelecimentos comercias que
estiveram abertos naquela
noite, porque de resto na Baixa nada mudou.
Contando
com as festas académicas e com outras festividades avulsas, Coimbra
está-se
a transformar
numa “sempre em festa” em
que
se pretende animar para colmatar
a ausência
da verdadeira
animação que é a de melhorar inteligentemente o seu quotidiano em
termos de limpeza, de arranjo dos espaços públicos e de
modernização das suas infraestruturas.
E
quando se pensa num dos principais problemas que a cidade enfrenta –
a mobilidade, é legitimo perguntar-mo-nos se faz sentido, no mesmo
momento em que se aposta e muito bem nos transportes coletivos e na
mobilidade elétrica, falar em parques de estacionamento no centro da
cidade? Isto não é um contra senso, para mais quando se reativa a
Ecovia que é uma aposta em parques periféricos com transporte
público
urbano
dedicado?
Mais
ainda, que sentido faz
a
aposta serôdia em eventos motorizados, para mais dentro da cidade,
quando a grande aposta das cidades vai no sentido da diminuição do
automóvel e
na consolidação da ideia de que as cidades são para as pessoas?
Veja-se
Zurique, que é apontada como um exemplo no que se refere à
mobilidade urbana e ao uso do transporte público, e oiçam-se os
seus responsáveis referir
que o processo
que hoje é visível mas que começou vai para três décadas.
Portanto este é um processo longo e difícil, tanto mais que a
poderosa indústria automóvel não vai facilitar, que exige uma
estratégia clara, coerente
e
consequente.
Até
apostámos
no arranque de um rally no coração da cidade e da universidade por
razões de marketing turístico quando a oferta turística na cidade
se resume,
em larga medida, a uma visita à Universidade – e atenção também
aqui deveríamos olhar para o que ainda recentemente Bruges decidiu
na limitação do acesso turístico pela degradação urbana que está
a provocar – e depois a um carreirinho de formigas que vai por ali
abaixo, desce o Quebra Costas e chega
à Portagem.
Não
sei se será pedir muito mas, no
tempo que resta há minha geração, gostaria de ver a minha cidade
mais organizada, mais
interveniente nos grandes combates como seja o das questões
climáticas, que saiba para onde quer ir e,
consequentemente,
mais
feliz e não pressentir a censura futura de que fomos incapazes de
preservar e valorizar esta cidade, que é boa para viver mas que
poderá ser muito melhor.
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