quinta-feira, 27 de junho de 2019

ONDE ESTAMOS E PARA ONDE QUEREMOS IR


Coimbra é uma boa cidade para viver, mas podia ser melhor. Esta é a síntese do que se ouve, do que se lê e do que se sente. Havendo um contentamento pelo que a cidade oferece nota-se uma certa falta de “joie de vivre”, motivada por insuficiências de planeamento e organização e, sobretudo, pela ausência de um sentido de futuro.

Duas coisas parecem hoje cada vez mais evidentes no processo de gestão das cidades: a procura duma inteligência global na sua organização e funcionamento e um desígnio de felicidade coletiva.

Em Coimbra não tem faltado quem se pronuncie sobre estas questões e agora que se aproxima o Dia da Cidade (4 de julho) decerto que não faltarão mais reflexões, comentários e discursos que, independentemente do ponto de vista dos seus autores, deverão merecer atenção, tanto mais que estamos a viver um momento de elementares indefinições e de incoerências.

Dizia há dias António Guterres que a sua geração, de que faço parte, falhou na resposta à emergência climática e eu sou tentado a dizer que a minha geração conimbricense está a falhar na resposta à emergência de uma Coimbra confusa, insegura e tristonha. Para mais é incompreensível que numa cidade de smart people não haja a capacidade de encontrar pontos de apoio para, parafraseando Arquimedes (Deem-me um ponto de apoio e levantarei o mundo), alavancar Coimbra.

Noticiava o Diário de Coimbra as Festas de Coimbra e dava conta de um extenso programa de 7 dias, com eventos variados, mas em que o destaque vai para músicos nacionais, por isso sublinhava “Made in Portugal” em detrimento de uma ambicionado “Made in Coimbra”. Mas fará sentido uma programação de 7 dias (!) de festa com tantas contratações de espetáculos com elevados custos, para assinalar o dia da cidade? Mais, haverá aqui alguma visão estratégica de preparação da candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura em 2027, como outras cidade já estão a fazer? O dia da cidade não deveria ser um momento especial e particular de exaltação dos seus valores, méritos, competências e capacidades, que um programa de festas como este menoriza completamente?

Aliás se pensarmos no que aconteceu na celebração da passagem de ano em que se gastaram milhares de euros em variadíssimos espetáculos na Baixa, que se dizia tinham em vista contribuir para a revitalização daquele espaço, concluiremos que de uma macro despesa resultou um micro beneficio apenas para alguns estabelecimentos comercias que estiveram abertos naquela noite, porque de resto na Baixa nada mudou.

Contando com as festas académicas e com outras festividades avulsas, Coimbra está-se a transformar numa “sempre em festa” em que se pretende animar para colmatar a ausência da verdadeira animação que é a de melhorar inteligentemente o seu quotidiano em termos de limpeza, de arranjo dos espaços públicos e de modernização das suas infraestruturas.

E quando se pensa num dos principais problemas que a cidade enfrenta – a mobilidade, é legitimo perguntar-mo-nos se faz sentido, no mesmo momento em que se aposta e muito bem nos transportes coletivos e na mobilidade elétrica, falar em parques de estacionamento no centro da cidade? Isto não é um contra senso, para mais quando se reativa a Ecovia que é uma aposta em parques periféricos com transporte público urbano dedicado?

Mais ainda, que sentido faz a aposta serôdia em eventos motorizados, para mais dentro da cidade, quando a grande aposta das cidades vai no sentido da diminuição do automóvel e na consolidação da ideia de que as cidades são para as pessoas?

Veja-se Zurique, que é apontada como um exemplo no que se refere à mobilidade urbana e ao uso do transporte público, e oiçam-se os seus responsáveis referir que o processo que hoje é visível mas que começou vai para três décadas. Portanto este é um processo longo e difícil, tanto mais que a poderosa indústria automóvel não vai facilitar, que exige uma estratégia clara, coerente e consequente.

Até apostámos no arranque de um rally no coração da cidade e da universidade por razões de marketing turístico quando a oferta turística na cidade se resume, em larga medida, a uma visita à Universidade – e atenção também aqui deveríamos olhar para o que ainda recentemente Bruges decidiu na limitação do acesso turístico pela degradação urbana que está a provocar – e depois a um carreirinho de formigas que vai por ali abaixo, desce o Quebra Costas e chega à Portagem.

Não sei se será pedir muito mas, no tempo que resta há minha geração, gostaria de ver a minha cidade mais organizada, mais interveniente nos grandes combates como seja o das questões climáticas, que saiba para onde quer ir e, consequentemente, mais feliz e não pressentir a censura futura de que fomos incapazes de preservar e valorizar esta cidade, que é boa para viver mas que poderá ser muito melhor.



Sem comentários:

Enviar um comentário