quinta-feira, 13 de junho de 2019

PARAÍSO AUTOMÓVEL


O arranque do Rally de Portugal junto da Universidade (Rua Larga, Largo D. Dinis e Porta Férrea), bem como a fotografia de grupo dos pilotos participantes tirada na Biblioteca Joanina, foram motivo de inexplicável controvérsia.

No fundo tratou-se de um breve upgrade de uma realidade quotidiana e, por isso, não se vê motivo para qualquer estranheza.

Quem não se lembra do drama que foi acabar com o parque automóvel no Pátio das Escolas?! E quem não se extasia com a beleza do atual parque junto da Porta Férrea, da Biblioteca Geral e da Faculdade de Letras. Ali, naquele espaço histórico e de culto das humanidades, está bem espelhado o triunfo e a adoração da máquina que, em Coimbra, vem do séc. XX e perdura a contra-futuro no séc. XXI.

Aliás, o problema em Coimbra é geral e todos aos Polos universitários são um paraíso para os carros, são eles que mandam. Não se percebe, por isso, a polémica sobre a cerimónia de inicio do Rally de Portugal acontecer junto da Universidade, porque aqui, hoje, não é o homem que é a medida de todas as coisas mas sim o carro. Foi muito bem escolhido!

Por exemplo, veja-se a vantagem comparativa da Universidade de Coimbra relativamente a outras universidade europeias que com ela competem, e que fazem gala dos seus campus e espaços impecavelmente tratados e ajardinados. Como é possível não reconhecer a nossa superioridade e pensar: “Que pobreza. Que tipos tão atrasados. Nem um carrinho para amenizar este canteiros.” Note-se que este raciocínio se aplica igualmente à cidade.

Portanto Coimbra e a sua Universidade, com a imagem dos bólides alinhados à sua histórica porta, confirmaram a ideia de que são espaços amigos dos automóveis. Se vão conseguir novos ganhos não se sabe. Ganhar mais turismo será importante se houver uma estratégia global de acolhimento e não caminhar para uma perigosa pressão, por exemplo, sobre a Biblioteca Joanina, que a podem pôr em risco.

À partida a ganhadora certa é a organização que vende a ideia de lucros, que nunca são avaliados numa análise custo-benefício, mas que consegue apoios de diversa natureza que lhe garantem a ela, isso sim, pagar os custos organizacionais e arrecadar lucros certos imediatos.

Ah, já agora, porque o CUHC também é um estabelecimento universitário, onde os carros são um importante elemento, não só decorativo mas também “promotor de saúde”, e porque se quer uma nova(?) maternidade no espaço dos HUC, por que não proceder à sua instalação em rulotes? Mantém-se o paradigma automóvel e confirma-se que Coimbra não merece mais.





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