quinta-feira, 6 de junho de 2019

AUTO-AJUDA PARTIDÁRIA


Há uns anos uma delegação de deputados federais brasileiros visitou Coimbra, tendo-me cabido, enquanto membro do Executivo, fazer-lhes uma apresentação da orgânica e dos poderes de um Município, exemplificando com o caso concreto de Coimbra.

Recordo-me de alguma dificuldade de entendimento da nossa realidade, em especial pelo facto da Câmara (orgão executivo) ser composta por eleitos de diversos partidos e forças partidárias.

Contudo, penso que não me saí mal de todo porque acabei por ser tratado durante o resto da visita deferentemente por “profêssor”. No entanto houve uma dúvida que ficou a pairar, que teve a ver com o facto de um dos deputados me ter vindo oferecer, com dedicatória e tudo, uma livro da sua autoria que, se bem me lembro, tinha como título “Como ganhar eleições”.

Na altura o que me intrigou foi por que razão alguém vinha do Brasil carregado com uma pasta cheia de livros para oferecer num país distante, sobre a melhor forma de ganhar eleições, e que depois de o ter folheado me pareceu que tinha a ver, obviamente, com uma realidade muito diferente e que não ensinava nada de relevante.

Hoje confesso, que o devia ter lido com atenção e até recomendado para leitura em alguns partidos políticos, porque estes cometem tantos erros de palmatória que custa acreditar.

Com outra densidade e maior proximidade é a obra do antigo primeiro-ministro francês Eduoard Balladur “Maquiavel em Democracia” lançado em 2006, portanto já com uns anitos mas que, mesmo assim, merece leitura. Estou certo de que à semelhança do que se passa com a literatura de auto-ajuda pessoal, que diariamente nos dá a conhecer novas obras e novos autores, também haverá imensos livros sobre auto-ajuda partidária, ainda que não sejam muito visíveis os seus efeitos.

As empresas de marketing e os marketeers são o alfa e o ómega das campanhas eleitorais, descurando os partidos, tanto quanto me apercebo, uma palavra mais profunda sobre a forma como as campanhas se devem desenrolar e muito especialmente sobre as mensagens a divulgar.

Assim, acontece o que foi visível na recente campanha eleitoral para as europeias, em que não só não houve a capacidade de mobilizar os eleitores, como aqueles partidos que adotaram uma narrativa nacional, provinciana e trauliteira, para fixação, segundo parece, do seu eleitorado, tiveram os piores resultados.

Pensando um bocadinho e conhecendo a nossa idiossincrasia, que leva a que entre nós gostemos de nos menorizar e confrontar mas ao mesmo tempo não gostamos que se diga mal de nós perante os estranhos (os estrangeiros) teriam percebido que era um erro. Pois se era para ir para Bruxelas representar o país que sentido fazia estar a menorizar os adversários portugueses, para mais não falando do que iam para lá fazer?

O resultado aí está. É, por isso, bom que para além de todas as análises elaboradíssimas que agora vão fazer, nas próximas eleições não descurem a leitura de alguns livrinhos de auto-ajuda partidária.

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