Há
uns anos uma delegação de deputados federais brasileiros visitou
Coimbra, tendo-me cabido, enquanto membro do Executivo, fazer-lhes
uma apresentação da orgânica e dos poderes de um Município,
exemplificando com o caso concreto de Coimbra.
Recordo-me
de alguma dificuldade de entendimento da nossa realidade, em especial
pelo facto da Câmara (orgão executivo) ser composta por eleitos de
diversos partidos e forças partidárias.
Contudo,
penso que não me saí mal de todo porque acabei por ser tratado
durante o resto da visita deferentemente por “profêssor”. No
entanto houve uma dúvida que ficou a pairar, que teve a ver com o
facto de um dos deputados me ter vindo oferecer, com dedicatória e
tudo, uma livro da sua autoria que, se bem me lembro, tinha como
título “Como ganhar eleições”.
Na
altura o que me intrigou foi por que razão alguém vinha do Brasil
carregado com uma pasta cheia de livros para oferecer num país
distante, sobre a melhor forma de ganhar eleições, e que depois de
o ter folheado me pareceu que tinha a ver, obviamente, com uma
realidade muito diferente e que não ensinava nada de relevante.
Hoje
confesso, que o devia ter lido com atenção e até recomendado para
leitura em alguns partidos políticos, porque estes cometem tantos
erros de palmatória que custa acreditar.
Com
outra densidade e maior proximidade é a obra do antigo
primeiro-ministro francês Eduoard Balladur “Maquiavel em
Democracia” lançado em 2006, portanto já com uns anitos mas que,
mesmo assim, merece leitura. Estou certo de que à semelhança do que
se passa com a literatura de auto-ajuda pessoal, que diariamente nos
dá a conhecer novas obras e novos autores, também haverá imensos
livros sobre auto-ajuda partidária, ainda que não sejam muito
visíveis os seus efeitos.
As
empresas de marketing e os marketeers são o alfa e o ómega das
campanhas eleitorais, descurando os partidos, tanto quanto me
apercebo, uma palavra mais profunda sobre a forma como as campanhas
se devem desenrolar e muito especialmente sobre as mensagens a
divulgar.
Assim,
acontece o que foi visível na recente campanha eleitoral para as
europeias, em que não só não houve a capacidade de mobilizar os
eleitores, como aqueles partidos que adotaram uma narrativa nacional,
provinciana e trauliteira, para fixação, segundo parece, do seu
eleitorado, tiveram os piores resultados.
Pensando
um bocadinho e conhecendo a nossa idiossincrasia, que leva a que
entre nós gostemos de nos menorizar e confrontar mas ao mesmo tempo
não gostamos que se diga mal de nós perante os estranhos (os
estrangeiros) teriam percebido que era um erro. Pois se era para ir
para Bruxelas representar o país que sentido fazia estar a menorizar
os adversários portugueses, para mais não falando do que iam para
lá fazer?
O
resultado aí está. É, por isso, bom que para além de todas as
análises elaboradíssimas que agora vão fazer, nas próximas
eleições não descurem a leitura de alguns livrinhos de auto-ajuda
partidária.
Sem comentários:
Enviar um comentário