terça-feira, 18 de outubro de 2011

APELO À DIRECÇÃO DO PS. NÃO A ESTE ORÇAMENTO!


A Direita que realizou o sonho de ter um presidente, uma maioria e um governo, apresenta o seu primeiro Orçamento. Não é um orçamento qualquer!

Escudando-se com a crise e porque ainda duvida de que sociologicamente seja maioritária no país – para além de todos os que se afirmam de esquerda ainda há, no seu seio, uns sociais democratas relutantes –, tem vindo a encenar uma dramatização da situação e uma diabolização da contestação tendentes a levar á aceitação dum orçamento que é a primeira grande peça do seu projecto político-ideológico.

Tendo chegado ao poder através de um processo de concertação estratégica que envolveu o presidente da República e que contou com os erros do PS, a inconsciência política do BE e o sectarismo do PCP, tenta, através dum condicionamento multicanal, obter a vitória final, que é a de conseguir a mais ampla legitimação possível através da abstenção do PS na votação do seu Orçamento.

Claro que nunca aceitaria o sim, isso seria comprometedor, também não desejaria o não porque isso significaria alguma margem de liberdade política e por isso a sua ambição é a de obter a abstenção do PS garantindo assim a sua “amarração” e o seu controlo, com o mínimo de problemas.

Um pobre PS, vergado, sem coragem e sem alternativas, é a cereja no bolo que a direita almeja neste momento que é o seu novo ciclo.

O caceiteirismo económico de que o Orçamento para 2012 é expoente, não reflecte os compromissos internacionais que o PS negociou e que o País assumiu, é algo de muito diferente. Não se trata da resolução de um problema como é dito, o que está a ser proposto é uma mudança radical do nosso modelo social através da absoluta degradação do valor do trabalho, do desprezo pela nossa cultura e pela nossa idiossincrasia e da alienação das nossas mais valias económicas, através do triunfo absoluto do capital.

A gravidade do que está a ser proposto, vai traduzir-se, seguramente, num aprofundar de desigualdades em mais pobreza e sofrimento e o PS não pode aceitar isto. Não pode lavar as mãos e abster-se perante a gravidade da situação. O PS não pode acobardar-se. Se o fizer ficará não só refém da direita como será desprezado por toda a esquerda, por todos as mulheres e homens de esquerda. O PS não terá perdão se não tiver a coragem política de votar contra este Orçamento.

Por mim, simples militante de base, fica o apelo à Direcção do PS para que vote contra este Orçamento. O voto contra do PS não suscita qualquer problema ao país, os mercados, que conhecem bem quem nos governa, não querem saber disso para nada e os portugueses precisam de ter esperança numa alternativa.

Qualquer voto do PS que não seja o não será um erro histórico, que suscitará uma imensa indignação e levará a profundas divisões internas.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

LIGA DOS AMIGOS DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE


O Serviço Nacional de Saúde vai fazer, no dia 15 de Setembro, 31 anos. Apesar de ser um jovem adulto a sua saúde é motivo de preocupação. Com efeito, os tempos não estão de feição e teme-se que mais do que uma simples virose venha a ser atingido por grave maleita, pelo que todos aqueles que o desejam forte e saudável não podem deixar de estar preocupados com as ameaças à sua integridade e à sua saúde.

Filho dilecto de Abril tem sido protagonista central na melhoria da nossa qualidade de vida e instrumento determinante de coesão social. Os seus méritos são conhecidos e se, como todas as organizações humanas, tem defeitos, a verdade é que tudo o que lhe devemos supera em muito aquilo que lhe possamos recriminar.

Universal, geral e tendencialmente gratuito é o grande pilar de um Sistema de Saúde, que emergiu com a liberdade e a democracia. Reflectindo um sentido de generosidade interclassista, ajudou a evitar mais mágoas e mais dores, perante as injustiças e as distâncias económicas e culturais herdadas do passado mas também forjadas no presente.

Mais do que qualquer auto-estrada levou a encontros de informação e prestação de cuidados de saúde, com a consequentemente partilha de expectativas mais igualitárias de esperança de vida. Assumiu-se, desde o primeiro sopro de vida, como um apóstolo da disseminação da ciência e das técnicas mais sofisticadas, no campo da saúde, pelos difíceis caminhos das periferias, onde ainda não há muitos anos prevaleciam tisanas e abandonos.

Já em tempos se viu alvo de um ataque que felizmente acabou por ser debelado, mas hoje vive uma situação de risco muito elevado, em que, sob a capa de reais dificuldades financeiras e de necessidade de adaptações e melhorias organizacionais, se vislumbram transformações radicais, determinadas por visões contrárias à sua natureza e estatuto.

O verdadeiro problema é de uma inversão de papeis em que o SNS deixe de ser o elemento fundamental do Sistema de Saúde e consequentemente o garante da universalidade e generalidade de prestação de serviços de saúde para o tornar num serviço reduzido, disperso, tecnicamente desqualificado, destinado a “pobres e indigentes”.

Simbolicamente, anuncia-se Coimbra como um dos primeiros campos de batalha no processo de transformação anunciado e também escondido e tudo o que aqui se passar vai ter óbvias repercussões nacionais. Confiante na nossa habitual incapacidade de entendimento e concertação o poder central aposta em fazer-nos exemplo silencioso dessas mudanças contranatura.

Os nossos Hospitais Centrais vão ser o primeiro grande exemplo dado à Nação das transformações pretendidas e o nosso eventual silêncio a chancela pretendida para justificar o futuro requiem pelo SNS.

No próximo dia 15 de Setembro, celebra-se o dia do SNS. Um dia para relembrar e reflectir, mas também um desejável dia de afirmação na defesa de uma conquista civilizacional dos Portugueses.

Talvez pudéssemos, para esse dia equacionar a criação de uma “LIGA DOS AMIGOS DO SNS”, que se assumisse como um fórum permanente de debate sobre políticas de saúde, num contexto de defesa e modernização dum serviço público precioso.

Teríamos assim um instrumento de mobilização cívica, a intervir organizadamente no espaço público, numa tarefa de reflexão tendente a combater a intoxicação e deturpação da realidade, de que alguns se vão servir para justificar opções políticas de subordinação a compromissos entre interesses particulares ou de grupo, em detrimento de uma perspectiva de defesa do bem comum consagrada no nosso SNS.

Fica a proposta e o desafio a Coimbra.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A QUADRATURA DO CICLO


Há um fenómeno intrigante relativamente aos apoios aos candidatos a secretário-geral do PS. É que uma enorme percentagem de dirigentes e militantes que apoiaram nortecoreanamente o anterior secretário-geral, que protagonizou o anterior ciclo político - que só foi ciclo e anterior porque perdeu as eleições - são os que agora mais empenhadamente apregoam e apoiam um "Novo Ciclo".

Não há dúvida que o cheiro pelo poder consegue mesmo fazer a "quadratura do ciclo".

terça-feira, 28 de junho de 2011

GANHAR O FUTURO


Face à enorme incerteza que nos rodeia a política passou a assumir uma dimensão muito mais modesta do que aquela a que estávamos habituados. Os tempos de enorme contingência que vivemos trouxeram-nos uma grande insegurança, levando-nos a duvidar da possibilidade de tomar boas e racionais decisões.

Por outro lado vivemos órfãos de grandes líderes, a quem seguíamos sem reservas, e passámos a dispor de uma maior capacidade de intervenção política e pública, potenciada por mais conhecimento, mais informação e por uma rede de contactos imediatos, o que nos permite questionar e por em crise qualquer verdade insofismável que nos apresentem.

Neste contexto temos de encontrar um novo tipo de líder. Um líder com uma superior argúcia, uma enorme capacidade de leitura global da realidade, de adaptação perante as situações e de formulação de respostas consentâneas com um quadro referencial de valores e de princípios de âmbito colectivo, que tende a evoluir de forma vertiginosa.

Temos, por outro lado de considerar o contexto do exercício da sua liderança e ter em conta as competências e capacidades mais adequadas á defesa e enriquecimento de um projecto político que tenha em conta o momento de enorme complexidade e turbulência que existe e que, tudo indica, vai ser regra doravante.

Para mais a esquerda atravessa um momento de grande nostalgia, de pessimismo e de descrença que é preciso vencer e, por isso, não pode perder tempo num arcaico politicamente correcto que não tem a ver com o presente e muito menos com o futuro.

Por tudo isto procuram-se, cada vez mais, líderes capazes de sobreviver em sociedades extremamente complexas e imprevisíveis e, à esquerda, líderes que recuperem a esperança e sejam capazes de transformar a política revertendo a ideia de fatalidade que atacou a esquerda e a tem levado a fazer a política da direita.

Estrutural e organicamente os partidos estão obrigados a mudar: A realidade vai impor-se-lhes, sem qualquer dúvida, pelo que, no essencial, precisam, isso sim, de encontrar os tais líderes que tenham ideias, tragam caminhos de esperança, palavras de confiança e o vento mobilizador que arrasta.

Por mim, numa reflexão, tão atenta e informada quanto possível, e neste quadro de entendimento, e porque o PS precisa de voltar a sentir-se confortável com a ideia de progresso e de futuro, fui ganhando a convicção de que Francisco Assis é a melhor solução para liderar o PS e, por isso, tem o meu apoio.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 84

 
Saber valer-se dos inimigos.

É necessário saber apanhar todas as coisas, não pelo gume, para que firam, mas pelo punho, para que defendam; especialmente a emulação. Ao homem sábio são mais úteis os seus inimigos que ao néscio os seus amigos. A malevolência consegue aplanar montanhas de dificuldades que a benevolência não se atreveria a pisar. A muitos, foram os inimigos que fabricaram a sua grandeza. É mais feroz a lisonja que o ódio, pois este aponta defeitos que se podem corrigir, enquanto aquele os dissimula. O prudente faz da animosidade alheia um espelho, espelho mais fiel que o do afecto; prepara também para reduzir ou emendar os defeitos. A cautela é grande quando se vive com a emulação e a malevolência.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CONTRIBUTOS PARA UMA ESCOLHA


Uma das dificuldades com que me debato é a de acompanhar certos discursos, ou melhor: certas narrativas como se passou a dizer, de alguns destacados socialistas que apoiaram sem reservas e com grande entusiasmo o anterior secretário-geral, justificaram semana a semana, para não dizer dia a dia ou mesmo hora a hora, a sua acção política, o endeusaram, e agora vêm apregoar, numa urgência inspirada, o apoio a um candidato a secretário-geral com o argumento que este é o melhor para garantir a ruptura imediata com o passado.

No fundo apregoam, com veemência e sem se aperceberem, a ruptura com o seu recente passado político, com um tão estranho e despudorado à vontade que espanta, e não se pode dizer que sejam ingénuos ...

Que diabo, andaram atrás do homem, justificaram-lhe tudo e mais alguma, rejeitaram e calaram qualquer opinião critica à sua acção e agora defendem com um inexplicável panache alguém que renegue de imediato o passado recente que tão convincentemente (?) aplaudiram e defenderam.

Se este exercício configurasse uma auto-critica ainda se percebia, mas não... resolvem tudo com a mesma segurança da passada semana numa postura de duplo descomprometido e desmomoriado.  Será que não percebem que seria politicamente útil um certo tempo de luto e de contenção a bem da sua imagem e do próprio partido?

Num momento de escolha como este, confrontado com certos apoios a um determinado candidato, confesso que a ideia que me assalta é a de atravessar para o outro lado da rua.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

UM DIA DESTES VOU ESCOLHER


Confesso a minha dificuldade numa escolha apriorística do candidato a Secretário-geral do PS. Preciso de algum tempo de descoberta, de mais informação e de avaliação de projectos e de ideias para o futuro. 

Para mais estou assustado com a rapidez com que indefectíveis apoiantes, até ontem, do anterior Secretário-geral apareceram entusiasmados a apoiar os novos candidatos que assumem tão significativas diferenças de personalidade, de estilo e até de propostas.

A volatilidade de convicções é por demais "assustadora". A rapidez da varridela de todo um percurso de aplausos entusiásticos para com o homem de ontem e a velocidade de transferência do aplauso para um dos homens de hoje é desorientadora, quando há tento para debater e compreender.

Contudo reconheço o meu erro de avaliação lendo Pessoa: 

"Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida."

Assim vou tentar ser uma criatura menos superficial e perante a avalanche de apoios que me vão fazendo chegar dum lado e doutro, porque tenho de os ver e de esbarrar com eles, um dia destes vou escolher: É a vida! 

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 83

Permitir-se algum deslize venial.

Um descuido costuma ser às vezes a melhor recomendação das boas qualidade. A inveja tem o seu ostracismo, tanto mais civil que criminal: acusa o muito prerfeito por pecar em não pecar, e condena em absoluto quem é perfeito em tudo. Converte-se em Argos para procurar defeitos no muito bom, embora seja por consolo. A censura fere, como o raio, as mais nobres qualidade. Que dormite Homero de vez em quando e, para acalmar a malevolência (não vá rebentar de veneno), finja-se algum descuido na inteligência ou no talento, mas nunca na prudência. É como lançar a acapa ao touro da inveja para salvar a imoralidade.

A Arte da Prudência
Baltazar Gracián

quarta-feira, 1 de junho de 2011

AJUDEM-NOS A RESOLVER ESTE DILEMA


É difícil acreditar que a actual campanha eleitoral suscite qualquer reflexão sobre o nosso futuro colectivo e que permita uma racional escolha partidária.

O ruído, o vazio, os ódios e as acusações sobrepõem-se aos argumentos e a qualquer visão prospectiva. Aliás, um olhar sereno e tão descomprometido quanto possível, leva-nos a algumas espantosas ilações, que mais do que esclarecer fomentam dúvidas e interrogações.

Uma das questões marcantes é a do surgimento de uma nova perspectiva, já identificada noutros países, de antagonismo entre os defensores da justiça social e os apologistas do progresso. Quem defende a justiça social fá-lo hoje barricado na defesa das conquistas do passado e na rejeição de uma visão progressista e inovadora da sociedade, porque só adivinha derrotas e retrocessos.

Também, espantosamente, os conservadores de ontem aparecem hoje como os grandes partidários da modernização, numa interpretação de que este é o seu tempo e que o futuro é construindo obrigatoriamente por si, dado que a esquerda está esgotada e sem margem de manobra política.

Como alguns observadores vêm fazendo notar, parece que é verdadeira a ideia de que a defesa de uma visão de progresso passou gradualmente da esquerda para a direita, que fala em avançar, acelerar, adaptar-se, reformar, etc.

Aliás a esquerda não apresenta qualquer projecto de sociedade estruturado e exequível, sendo, ou uma esquerda radical que está fora do tempo e do espaço, ou uma esquerda que não tem mais do que um discurso antidireita. A esquerda parece o território do puro pessimismo que reflecte a incapacidade de parar a tal direita que assume descarada a vitória antes do tempo porque o programa vencedor, conhecido e validado antes das eleições, é o seu.

A esquerda de poder, no fundo, bate-se pela ideia de resistência e de moderação de um programa de direita à luz de um pragmatismo militante onde não há espaço para a utopia que decorria, no passado recente, da sua confiança no futuro e no progresso e sustentava uma visão optimista e reconfortante do nosso desenvolvimento.

A direita, por seu lado, onde não se percebem distinções programáticas, até passou a ser optimista e a aparecer com a convicção de que só ela é futuro, só ela é esperança, segurança e progresso.

Mais ainda, parece que a esquerda se apresenta sem visão e sem paixão, encurralada entre novas formas de participação cívica que lhe roubam protagonismo e protagonistas, e sem capacidade de garantir uma correcta governança perante a pressão de uma direita que usa a redutora visão do contribuinte em detrimento do cidadão.


Depois, globalmente, os políticos assumiram, num estranho haraquiri, o discurso de que na política não só vale tudo como é óbvia a sua subordinação a projectos de realização pessoal, destruindo a confiança e o necessário élan colectivo.

É pena a incapacidade da construção de um projecto de esquerda com as esquerdas. Os puros terão, porventura, o reino dos céus mas nunca vencerão neste reino terreno, e os outros, os pecadores, não são capazes de confessar os seus pecados, pelo que vamos tendo o que não merecemos mas o que construímos com anos de rancor e disputas herdadas de um século que já passou há tanto tempo.

E agora o que fazer? Deixar a direita ganhar para que a esquerda se possa reconstruir ou apostar na esquerda a fazer de direita para tentar minorar as maldades subscritas?

Temos uma semana para decidir. Por isso, ajudem-nos a resolver este dilema e digam-nos alguma coisa de verdadeiramente substancial e interessante sobre o futuro…

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 82



Nunca exaurir nem o mal nem o bem.

Um sábio reduziu toda a sabedoria à moderação em tudo. Exaurir o direito é injustiça, e a laranja que muito se espreme, amarga. Até no prazer nunca se deve chegar aos extremos. O próprio talento se esgota se é axaurido e tirará sangue em vez de leite quem colher como se fosse um tirano.

A Arte da Prudência
Baltasar Grácian

quinta-feira, 21 de abril de 2011

CONTINUO A GOSTAR DE CRAVOS VERMELHOS, PÁ!


Sinto-me cercado de escritas temáticas e repetitivas e, por isso, tenho a sensação que tudo está diariamente dito.

A angústia da sabedoria tornou-se assim dolorosa. Todos sabem de tudo. Todos sabem tudo. Todos sabem tudo sobre o mesmo. Todos são categóricos. Todos têm certezas. Todos têm verdades absolutas.

Não me deixam uma ponta de dúvida com todas as contradições com que me confrontam.

Por tudo isto, porquê ter o cansaço de reflectir?

Os fóruns radiofónicos e televisivos são não só encontros de ódio de todos os puros e bons, como momentos de profunda sabedoria sobre a causa das coisas e sobretudo de soluções para todos os males. Sinto-me verdadeiramente esmagado.

Todos os que não queriam há algum tempo um governo de maioria política hoje querem uma maioria alargada. Todos os que desejavam a clarificação política hoje professam o desejo de um cocktail partidário. Todos os que não salvaram as velhinhas de serem atropeladas na passadeira hoje sabem como salvar o país, a Europa e o mundo.

Reconheço-me exausto com tantos números, medidas, políticas e, sobretudo, com tantos salvadores.

Não sei o que faça ou o que possa fazer no meu quotidiano apagado de cidadão comum que vê surgirem sábios a cada esquina. Aliás, a minha dificuldade está em descobrir os outros homens comuns com quem me cruzo e que ainda conseguem sonhar ou ir trabalhar.

Não pude escolher o tempo nem o local onde nasci e agora nem posso escolher o meu futuro. Está tudo decidido. Pedem-me, tão só, que daqui a dias vá confirmar as escolhas. Escolhas que não são as minhas mas que afirmam eu ter de validar para continuar a existir como cidadão.

Reconheço que cheguei ao tempo dos sábios, de todos os sábios, que num momento particular se congregaram neste canto da Península Ibérica e que me tenho de deixar ir pela sua mão… Negam-me alternativas.

Até acabaram com as distinções semânticas e uma hierarquia de valores republicanos.

Devo estar doente. Continuo a gostar muito de cravos vermelhos, pá!

sexta-feira, 18 de março de 2011

A ACADÉMICA NÃO TEM CULPA


No momento certo, quer como autarca quer como cidadão, expressei publicamente a minha indignação pela nomeação do Presidente da Académica como Director Municipal da responsabilidade do então presidente da Câmara de Coimbra – Dr. Carlos Encarnação.

Argumentei com os riscos que tal promiscuidade suscitava e contestei política e eticamente tal decisão perante uma indiferença quase total, arrostando por isso com o mau-olhado político de muitos dos meus camaradas de partido que nunca me perdoaram o atrevimento.

Fui ameaçado com um processo judicial e ostracizado entre outras coisas também por esta, porque era necessário um silêncio conveniente que se sobrepusesse a valores e princípios éticos e porque no jogo político-partidário era preciso não “perder” o apoio dos adeptos.

Nunca acusei o presidente da Académica de qualquer crime, acusei, isso sim e com vigor, o presidente da Câmara pela decisão política da nomeação e apontei-lhe as responsabilidades que cabem a alguém que sendo o principal responsável da Câmara sempre se escondeu perante graves denúncias indiciadoras de problemas na área urbanística, por força da situação que ele criara na procura de um mero ganho político pessoal.

Hoje, perante uma decisão judicial condenatória do presidente da Académica, independentemente de futuros desenvolvimentos que o processo venha a ter, quem apareceu publicamente acusado acabou por ser a Académica e isto não é justo.

O verdadeiro e principal culpado é o Dr. Carlos Encarnação que teve o cuidado de ter fugido a tempo, gozando de um esquecimento imperdoável. Aliás, não deixa de ser interessante lembrar que uns dos actos finais do seu consulado se traduziu na tentativa de uma defesa antecipada das “condenações” que lhe caberão.

Com a legitimidade da razão que me assiste nesta questão, entendo dever afirmar que o verdadeiro condenado é o Dr. Carlos Encarnação e que se alguém não tem culpa de nada é a Académica.

Ainda que nunca tenha invocado essa condição a verdade é que sou de há muito sócio da Académica e me repugna ver o seu nome enxovalhado em consequência de golpes dados em nome da grande política e tolerados em nome da pequena política.

Por Coimbra ficará o silêncio dos culpados, que deviam pedir desculpa à cidade e à Académica pelo imenso mal que lhes causaram, particularmente o Dr. Carlos Encarnação, de quem ninguém se parece lembrar e cujo afastamento originou um geral respirar de alívio.

Também aqueles ingénuos e úteis defensores da promiscua decisão que levou a esta triste situação deviam ter agora a coragem de, pelo menos, virem dizer publicamente que, no meio de tudo isto, quem não tem culpa é a Académica.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ETERNO RETORNO


Por vezes apetece ficar farto de eleições. E isto porque se é democrata. É que parte das eleições não passam de meros rituais.

Que motivação se pode encontrar se o vencedor já está encontrado, o discurso não tem contraditório e depois de aplaudido nunca mais se encontra na prática?

Há momentos em que até a intriga criadora e a conspiração bondosa se esfumam perante a inevitabilidade e este é um deles. Para mais, quando mais fazem falta ideias, pior é. É que por detrás da porta está o poder, esse maldito veneno que inibe corajosos e espicaça oportunistas.

É verdade que se voto logo existo mas a existência pode ser precária, cheia de dores e de solidão se não é o voto certo - explicitamente demonstrado -, se não é o voto no vencedor. Pior ainda, se não se vota bem e se apregoam ideias.

É dura a democracia. Para resultar melhor deviam ser sempre as minorias a ganhar. E resultava. Há alguns que estão sempre com a maioria mesmo que esta mude e zaguezaguei e por isso mereciam perder sempre. O pior eram os ressentidos que podiam acabar por ganhar e um vencedor ressentido é um perigo.

Não me julguem mal. Não aqui nenhum agastamento democrático mas tão só a tentativa de compreender o que era isso do "Eterno retorno" de que, por exemplo, falava Nietzsche.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

BOMBEIROS A PATACO


O Dr. Rui Rio veio, na qualidade de presidente da Junta Metropolitana do Porto, propor que se “pegasse nos muitos bombeiros voluntários e se criasse um batalhão à escala metropolitana”, conseguindo, assim, “maior eficácia e menores custos”.

Não sei se esta inopinada proposta tem fundamento nalgum estudo concreto, que permita concluir qual o aumento da eficácia e quais as economias conseguidas com aquela solução ou, se pelo contrário, se tratou de um mero palpite, o que a acontecer parece não se coadunar com a imagem de grande rigor e competência com que se apresenta.

A questão merece, contudo, reflexão, não na mera perspectiva da estruturação da protecção civil e do papel dos bombeiros na área Metropolitana do Porto mas num contexto mais alargado, porque a questão tem de ser equacionada a nível nacional uma vez que a ser adoptada no referido território tenderia, inevitavelmente, a estender-se a todo o país.

Ao apresentar a sua proposta o Dr. Rui Rio adivinhou logo a dificuldade da solução, só que a sustentou em “resistências a diversos níveis”, argumentário fácil e frágil, tanto mais que há boas e legitimas resistências de defesa do interesse dos cidadãos, do interesse colectivo e do interesse do país.

Maior eficácia e menores custos com os bombeiros, são duas ideias sustentadas numa visão tecnocrática e economicista da missão dos bombeiros voluntários e das Associações Humanitárias em que se inserem, esquecendo a história dessas associações, o seu papel social, cultural e a visão humanista que levou à sua criação. Mais, revela um profundo desconhecimento dos mecanismos de recrutamento voluntário e de tudo aquilo que subjaz de enquadramento grupal e de integração social que as corporações de bombeiros voluntários permitem.

Os bombeiros voluntários têm sido a espinha dorsal da protecção civil no país, no país real e profundo, em que os cidadãos ainda se juntam não para discutir a partilha de prebendas mas para aprender a combater um fogo, a acudir a uma vitima de acidente, ou a salvar um concidadão e a proteger os seus bens.

Há uma ideia e um espírito de missão em acção, em movimento, todos os dias por esse país fora, que serão inevitavelmente colocados em crise com uma macro organização como a preconizada pelo Dr. Rui Rio. Aliás, a primeira e inevitável consequência seria a de uma profissionalização dos bombeiros com encargos acrescidos, contrariando a tese poupadinha do Dr. Rui Rio.

Está, por isso, profundamente errado o Dr. Rui Rio. No dia em que houver uma estrutura formal, obrigatória, com enquadramento de natureza institucional, seja de âmbito municipal, regional ou nacional o que o Dr. Rui Rio terá são bombeiros profissionais, à semelhança, aliás, dos bombeiros que já tem no Batalhão de Bombeiros Sapadores que integra a Câmara, a quem terá de pagar de acordo com uma carreira profissional, aumentando exponencialmente os custos em recursos humanos.

2011 foi declarado pelo Conselho de Ministros da União Europeia “Ano Europeu das Actividades Voluntárias que Promovam uma Cidadania Activa” pelo que talvez seja um bom momento para reflectir se pretendemos continuar a ter no nosso país o privilégio da existência de organizações de cidadãos voluntários, como são as associações humanitárias de bombeiros, muitas delas centenárias, que emergindo da sociedade civil são um património de valores e uma solução concreta para muito dos problemas de socorro e segurança dos cidadãos, ou se pretendemos sacrificá-las à luz duma imponderada visão tecnocrática e economicista, sem sustentação técnica ou económica fundamentada.

Num tempo de egoísmos e de exacerbada competição o que o Dr. Rui Rio nos propõe é que abdiquemos do esforço voluntário e solidário de milhares de homens e mulheres, organizados em torno das suas associações, para passarmos a ter pretensos bombeiros voluntários a pataco.

Nota: Artigo publicado na edição de 6.2.2011,  do Jornal de Notícias.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O CICLO NEUTRO: PPP+MPSD+(CS:2)=CN


Há quem garanta que com a reeleição de Cavaco Silva se iniciou um novo ciclo político. É a tese da direita. Talvez porque o Dr. Paulo Portas está apressado em chegar ao poder na tentativa de fazer submergir o processo dos submarinos. No entanto, uma visão mais global e ampla da situação dá-nos a ideia de que podemos utilizar, para caracterizar o actual momento político, aquele dito popular que nos ficou do tempo das invasões francesas: "Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes".

É verdade  que o reeleito presidente mostrou intenção de uma atitude mais assertiva no exercício das suas competências presidenciais mas nada que indicie uma ruptura ou um novo quadro de relacionamento institucional. Por outro lado a geometria partidária não se alterou e os pressupostos de acção política  estão subordinados a uma visão utilitária, temerosa dos custos de contexto que uma iniciativa de crise poderia originar.

Os movimentos no tabuleiro político estavam estudados e o jogo decorre a meio campo, calculista e expectante. Um jogo que o grande xadrezista Capablanca, o "Mozart do xadrez", detestaria por entediante, sem risco e sem estética. O actual ciclo não é mais do que a continuação do ciclo do medo, que já vem de trás e que tolhe movimentos.

Verdadeiramente dentro deste ciclo talvez possamos, isso sim, encontrar um novo ciclo que é o da anti-campanha negra e com o qual José Sócrates se sentirá particularmente confortado, face a todas as verdadeiras campanhas negras de que tem sido alvo perante o silêncio estratégico de Cavaco Silva que durante todos estes anos não se sentiu incomodado com essas campanhas, parecendo mesmo ter permitido a incubação na sua própria entourage institucional de alguns peritos na matéria. 

Se o rancor é um mau conselheiro, e se Cavaco Silva foi particularmente infeliz no momento pós-eleições, não deixa de ser interessante que na proclamação da sua presidência de cooperação activa tenha tido uma atitude identificadora da defunta presidência de cooperação estratégica com o José Sócrates, na denúncia da tal campanha negra, de cuja intensidade cromática ainda não é possível concluir.

Nesta teoria de ciclos talvez se pudesse dizer que estamos perante um contra-ciclo, caracterizado  por  termos um presidente fragilizado pela abstenção e pelas dúvidas que deixou instalar quanto aquilo que era a sua grande apregoada mais valia - a integridade pessoal e política, o que é um drama para a direita que ambicionava um presidente forte que pudesse dissolver o Parlamento sem contestação e que fosse capaz de aglutinar a direita e o centro direita num projecto global de poder.

É também um contra-ciclo em que o BPN e o negócio dos submarinos emergem em todo o seu esplendor, remetendo a direita para uma posição defensiva dado que estes não são pecados de Sócrates.

Mas para interpretar a situação nada melhor do que recorrer à matemática, sublinhando que não se trata de qualquer exercício de investigação operacional, e utilizar a seguinte fórmula: PPP+MPSD+(CS:2)=CN, sendo que: PPP=Pressa Paulo Portas; MPSD=Medo PSD; CS=Cavaco Silva; CN=Ciclo Neutro.

Portanto: a pressa de Paulo Portas, somada com o medo em que o PSD vive e com Cavaco Silva diminuído dá como resultado um ciclo neutro.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 81


Renovar o brilho.

É um privilégio da ave fénix. A excelência costuma envelhecer, e com ela a fama. O hábito diminui a admiração e uma novidade mediana costuma vencer a maior eminência uma vez envelhecida. É necessário renovar o valor, o talento, o êxito, tudo. É necessário eventurar-se a renovar o fulgor, amanhecendo muitas vezes como o sol, alterando as actividades do luzimento. A privação provocará o desejo, e a novidade o aplauso.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RESSENTIMENTOS


Se há palavra que possa caracterizar a eleição presidencial de ontem é: ressentimento. Talvez possa haver uma palavra mais dura ou menos simpática mas fiquemo-nos pelo ressentimento.

O discurso final do presidente eleito, dirigido aos seus apoiantes, são o epílogo de uma longa sucessão de atitudes e práticas elucidativas de que de há muitos meses o ressentimento vem percorrendo a  política portuguesa. 

O cívico Fernando Nobre é um candidato "filho" de um certo ressentimento, com origem em Nafarros, que nunca foi desmentido -  ressentimento contra Manuel Alegre e a sua candidatura de há cinco anos - e a votação que obteve é, também ela, o resultado desse ressentimento somado com o ressentimento de muitos cidadãos com os partidos e as políticas partidárias.

A votação obtida por José Manuel Coelho é igualmente o resultado de um ressentimento,  concretamente com Alberto João Jardim e o seu desbragado e arrivista discurso político e particularmente com a sua antidemocrática prática política.

O discurso pós-eleitoral do PCP é, para não dizer surreal, profundamente contraditório com os seus objectivos, mas também um discurso de profundo ressentimento com o país e com os eleitores.

A candidatura de Defensor de Moura é puro ressentimento com Cavaco Silva e o seu halo de integridade pessoal e política.

A dimensão da abstenção é, também ela, um sinal de grande ressentimento dos eleitores  com o sistema político e com os actuais protagonistas políticos.

Finalmente e tal como disse inicialmente, o discurso de encerramento do já eleito Presidente Cavaco Silva é, todo ele, uma peça de absoluta ressentida suspeição e de acusação, que deixa a nu uma faceta escondida de alguém que assistiu impávido e sereno a campanhas negras contra outros agentes políticos, que até terá na sua entourage institucional peritos nesse tipo de campanhas, e que agora se assume como uma virgem ofendida.

No fundo, o ressentimento com nós próprios, com o que somos, como nos organizamos e governamos, é uma evidência que a campanha e a eleição presidencial certificou.

sábado, 8 de janeiro de 2011

NÃO À LEGITIMIDADE DA DÚVIDA


A actual campanha para as eleições presidências veio provar a afirmação de que não há perguntas embaraçosas, apenas respostas embaraçosas e isto é o que menos desejaríamos num contexto de enorme incerteza, dúvidas e confusões. 

A campanha eleitoral deveria ser um momento de respostas claras perante perguntas difíceis e embaraçosas e não o contrário, dado que está em causa uma escolha e o estabelecimento de um contrato de confiança ao mais alto nível.

Mas não é isto que está a acontecer e, também aqui, o veneno da finança foi derramado levando a que qualquer que seja o resultado final possa ficar uma mancha na camisa do vencedor, seja porque ganhou apesar de, seja porque venceu graças a.

A força de um Presidente da República reside especialmente na sua integridade pessoal e política, que dão a garantia de que saberá sempre respeitar e honrar a Constituição - único programa político a que  se submete - que vai jurar cumprir e fazer cumprir.  

Sabemos das nuances que a leitura constitucional envolve e por isso também escolhemos leituras e acentuações diferenciadas mas, o que não pudemos aceitar, são dúvidas sobre a integridade dos candidatos, para mais alicerçadas em respostas embaraçosas ou na sua falta. 

Não é justo acrescentar à crise económica que vivemos e a uma eventual crise social, uma crise política permanente, decorrente duma eleição em que o vencedor, apesar da legitimidade dos votos, arrasta a legitimidade da dúvida.  

Que se esclareçam definitivamente todas as perguntas embaraçosas.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 80


Cautela ao informar-se.

Vive-se mais do que se ouve que daquilo que se vê. Vivemos da fé alheia. O ouvido é a segunda porta da verdade e a principal da mentira. Normalmente, a verdade vê-se, e só excepcionalmente se ouve. Raramente nos chega a sua essência pura e muito menos quando vem de longe: traz sempre consigo parte dos ânimos por onde passou. A paixão tinge com as suas cores tudo o que toca, contra ou a favor. Tende sempre a impressionar: é preciso ter muito cuidado com aqueles que elogiam, mais que com aqueles que criticam. É necessária muita atenção neste ponto para descobrir a intenção do intermediário, sabendo de antemão de que pé coxeia. A cautela deve ser um contrapeso em relação ao incompleto e ao falso.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sábado, 1 de janeiro de 2011

COIMBRA PRECISA DE SER ESCUTADA


Mais do que declarações de amor, ou voluntaristas e inconsequentes iniciativas, que não passam de fogachos mediáticos determinados por ambições pessoais e políticas, que já demonstraram - umas e outras - que não passam de um logro e levam ao descrédito, talvez o mais necessário e elementar  exercício que possamos fazer a bem da nossa Cidade e do seu futuro, neste ano complexo e difícil ano que agora se inicia, é escutá-la com atenção.

Só que para isso é preciso ter em atenção que:

"Não possuímos o dom da receptividade total e tão-pouco temos o dom da ubiquidade. Ou estamos aqui, ou estamos ali; não podemos estar em dois sítios ao mesmo tempo. Mentalmente, podemos situar-nos muito longe do lugar que pisamos, mas quando empreendemos esta viagem mental não estamos em parte nenhuma, porque a cabeça encontra-se longe dos pés ou então os pés estão longe da cabeça. Para escutar com atenção, é preciso ter a cabeça muito perto dos pés, há que estar fisicamente num lugar e, além disso, estar com a mente e com o coração."

"A Arte De Saber Escutar" 
Francesc Torralba

PORQUE HOJE É 1 DE JANEIRO

Paul Cézanne: "Os Jogadores de Cartas"

 Porque hoje é 1 de Janeiro, vai haver eleições e a vida é um jogo.