quarta-feira, 1 de junho de 2011

AJUDEM-NOS A RESOLVER ESTE DILEMA


É difícil acreditar que a actual campanha eleitoral suscite qualquer reflexão sobre o nosso futuro colectivo e que permita uma racional escolha partidária.

O ruído, o vazio, os ódios e as acusações sobrepõem-se aos argumentos e a qualquer visão prospectiva. Aliás, um olhar sereno e tão descomprometido quanto possível, leva-nos a algumas espantosas ilações, que mais do que esclarecer fomentam dúvidas e interrogações.

Uma das questões marcantes é a do surgimento de uma nova perspectiva, já identificada noutros países, de antagonismo entre os defensores da justiça social e os apologistas do progresso. Quem defende a justiça social fá-lo hoje barricado na defesa das conquistas do passado e na rejeição de uma visão progressista e inovadora da sociedade, porque só adivinha derrotas e retrocessos.

Também, espantosamente, os conservadores de ontem aparecem hoje como os grandes partidários da modernização, numa interpretação de que este é o seu tempo e que o futuro é construindo obrigatoriamente por si, dado que a esquerda está esgotada e sem margem de manobra política.

Como alguns observadores vêm fazendo notar, parece que é verdadeira a ideia de que a defesa de uma visão de progresso passou gradualmente da esquerda para a direita, que fala em avançar, acelerar, adaptar-se, reformar, etc.

Aliás a esquerda não apresenta qualquer projecto de sociedade estruturado e exequível, sendo, ou uma esquerda radical que está fora do tempo e do espaço, ou uma esquerda que não tem mais do que um discurso antidireita. A esquerda parece o território do puro pessimismo que reflecte a incapacidade de parar a tal direita que assume descarada a vitória antes do tempo porque o programa vencedor, conhecido e validado antes das eleições, é o seu.

A esquerda de poder, no fundo, bate-se pela ideia de resistência e de moderação de um programa de direita à luz de um pragmatismo militante onde não há espaço para a utopia que decorria, no passado recente, da sua confiança no futuro e no progresso e sustentava uma visão optimista e reconfortante do nosso desenvolvimento.

A direita, por seu lado, onde não se percebem distinções programáticas, até passou a ser optimista e a aparecer com a convicção de que só ela é futuro, só ela é esperança, segurança e progresso.

Mais ainda, parece que a esquerda se apresenta sem visão e sem paixão, encurralada entre novas formas de participação cívica que lhe roubam protagonismo e protagonistas, e sem capacidade de garantir uma correcta governança perante a pressão de uma direita que usa a redutora visão do contribuinte em detrimento do cidadão.


Depois, globalmente, os políticos assumiram, num estranho haraquiri, o discurso de que na política não só vale tudo como é óbvia a sua subordinação a projectos de realização pessoal, destruindo a confiança e o necessário élan colectivo.

É pena a incapacidade da construção de um projecto de esquerda com as esquerdas. Os puros terão, porventura, o reino dos céus mas nunca vencerão neste reino terreno, e os outros, os pecadores, não são capazes de confessar os seus pecados, pelo que vamos tendo o que não merecemos mas o que construímos com anos de rancor e disputas herdadas de um século que já passou há tanto tempo.

E agora o que fazer? Deixar a direita ganhar para que a esquerda se possa reconstruir ou apostar na esquerda a fazer de direita para tentar minorar as maldades subscritas?

Temos uma semana para decidir. Por isso, ajudem-nos a resolver este dilema e digam-nos alguma coisa de verdadeiramente substancial e interessante sobre o futuro…

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