Abril,
com o seu molho de cores e de cheiros, é um mês especial e generoso, que nos
habituou a despertar os sentidos e a entusiasmar a razão no caminho do futuro.
Todos os anos, por esta altura, somos heróis, dizemos coisas bonitas e
juramos-lhe fidelidade.
Claro
que este plural é exagerado, muitos criticam-no, geralmente porque se
esqueceram do que eram os idos de Março e porque a insatisfação faz parte da
nossa natureza, mas, por um dia, tenhamos a generosidade de o louvar mesmo que
o criticando porque esta também é uma forma de louvor, chamada liberdade.
Hoje
o nosso Abril já tem em gestação o Outubro das autárquicas o que lhe acrescenta
algum picante no pot-pourri político local e lhe dá uma tonalidade
paradoxalmente mais viva e mais cautelosa. Tudo o que agora se diga e se faça
será visto com um olhar diferente, mais atento e desconfiado, um olhar cheio de
segundas intenções.
Sabendo
que os cidadãos por Coimbra têm forçosamente de ser de esquerda e que a sua
solução organizativa/participativa só pode ser um ninho de cuco, para incubar uma
solução partidária que tem andado às apalpadelas, sem sucesso, num caminho
autárquico que é menos política pura e mais soluções no terreno e em que há uma
acentuada personalização dos candidatos fica-se na expectativa.
Também,
agora que as mimosas já terminaram a sua floração amarela, se aguarda para ver
se há ou não um candidato que, ciente da sua notoriedade pública e enfrentando
a carência de visibilidade mediática que até há pouco merecidamente gozava,
apareceu, qual cometa, como um puro independente mas com uma narrativa igual a
todos os outros.
Há
ainda que aguardar para ver se a sólida coligação que se tem aguentado há
largos anos aqui riba-Mondego, não virá a escolher um rosto mais musical para
combater alguma erosão destes tempos tão mediáticos.
Depois
surgem as certezas. Um candidato vindo da periferia, que sempre teve Coimbra no
horizonte, que simultaneamente agrega e divide a direita na sua orfandade
ideológica e que defendendo discreta e abertamente a fraternidade universal se
alimenta do confronto.
E,
por fim, o candidato que vive para uma Coimbra que conhece bem e que acredita
sinceramente ser o mais capaz de lhe dar futuro, mas que tem a difícil tarefa
de reconquistar uma importante faixa de eleitorado urbano em que não suscita
grande entusiasmo.
Pois
é. Aqui temos um Abril grávido de esperança e de interrogações mas, como sempre
um mês de futuro, do futuro de todos nós que temos o dever de não
desperdiçarmos não nos abstendo de escolher um dos caminhos que nos vão ser
propostos.
(Artigo
publicado na edição de 20 de abril, do Diário de Coimbra)