quinta-feira, 6 de abril de 2017

ILETERACIA BOTÂNICA



Foi notícia que um casal, com a ajuda de um agricultor já idoso (observação importante) fez uma plantação de cannabis nos seus terrenos, inclusivamente numa estufa, convencido de que estava a fazer uma plantação de açafrão. Também foi noticiado que na Baixa de Lisboa se anda a vender louro prensado para fumar, sem que os consumidores saibam o que é louro.

Ora estas duas notícias, quase em simultâneo, revelam uma enorme iliteracia botânica - há alguns anos diríamos que era uma questão de ignorância mas hoje com uma maior sofisticação terminológica dizemos iliteracia -, que neste caso se verifica em Lisboa e na província, o que não pode deixar de ser visto como um problema nacional. 

É óbvio, que temos de rapidamente por termo a esta situação dado que não só um casal de meia-idade bem como um agricultor idoso não sabem distinguir cannabis de açafrão, assim como há o perigo de que o uso intensivo do louro para fumar provoque a extinção dos loureiros o que iria agravar os nossos problemas porque, como diz um bom amigo, há muito boa gente que não come bifes por não ter louro para os temperar.

Por tudo isto torna-se evidente a necessidade de promover ações de informação e esclarecimento que minimizem a iliteracia botânica que, como se vê, grassa no nosso país. Não é aceitável que em vez da Tabaqueira passemos a ter a Loureira, assim como é um risco ir comprar uma embalagem de açafrão para temperar, por exemplo, uma paella e desatarmos numa dança marada à volta da paelheira porque acabámos de ingerir uma boa dose de cannabis. 

É claro que tem surgido uma nova geração de agricultores, jovens agricultores até perto dos cinquenta anos, e que o impulso que vem sendo dado á atividade agrícola implica um forte investimento na formação porque entre açafrão, cannabis e louro não é fácil a distinção e daqui a dias vamos ter plantações de loureiros por toda a Lisboa na convicção de que estão a plantar açafrão.  

Felizmente nós, aqui por Coimbra, temos uma dinâmica e competente equipa no Jardim Botânico, que tem vindo a fazer um enorme esforço de divulgação e informação sobre diversas espécies vegetais, a quem poderá ser pedido o auxílio para melhorar o conhecimento sobre as espécies em causa. 

Mas, mais importante mesmo é que, mesmo que não tenhamos dúvidas, façamos uma visita revigorante ao Jardim Botânico, porque a sua beleza e quietude fazem bem ao corpo e à alma, e é muito mais saudável e económica do que uns charros de cannabis ou de louro prensado.

(Artigo publicado na edição de 6 de abril, do Diário de Coimbra)

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