Foi
notícia que um casal, com a ajuda de um agricultor já idoso (observação
importante) fez uma plantação de cannabis nos seus terrenos, inclusivamente
numa estufa, convencido de que estava a fazer uma plantação de açafrão. Também foi
noticiado que na Baixa de Lisboa se anda a vender louro prensado para fumar,
sem que os consumidores saibam o que é louro.
Ora
estas duas notícias, quase em simultâneo, revelam uma enorme iliteracia
botânica - há alguns anos diríamos que era uma questão de ignorância mas hoje
com uma maior sofisticação terminológica dizemos iliteracia -, que neste caso
se verifica em Lisboa e na província, o que não pode deixar de ser visto como
um problema nacional.
É
óbvio, que temos de rapidamente por termo a esta situação dado que não só um
casal de meia-idade bem como um agricultor idoso não sabem distinguir cannabis
de açafrão, assim como há o perigo de que o uso intensivo do louro para fumar
provoque a extinção dos loureiros o que iria agravar os nossos problemas porque,
como diz um bom amigo, há muito boa gente que não come bifes por não ter louro
para os temperar.
Por
tudo isto torna-se evidente a necessidade de promover ações de informação e
esclarecimento que minimizem a iliteracia botânica que, como se vê, grassa no
nosso país. Não é aceitável que em vez da Tabaqueira passemos a ter a Loureira,
assim como é um risco ir comprar uma embalagem de açafrão para temperar, por
exemplo, uma paella e desatarmos numa
dança marada à volta da paelheira porque acabámos de ingerir uma boa dose de
cannabis.
É
claro que tem surgido uma nova geração de agricultores, jovens agricultores até
perto dos cinquenta anos, e que o impulso que vem sendo dado á atividade
agrícola implica um forte investimento na formação porque entre açafrão,
cannabis e louro não é fácil a distinção e daqui a dias vamos ter plantações de
loureiros por toda a Lisboa na convicção de que estão a plantar açafrão.
Felizmente
nós, aqui por Coimbra, temos uma dinâmica e competente equipa no Jardim
Botânico, que tem vindo a fazer um enorme esforço de divulgação e informação
sobre diversas espécies vegetais, a quem poderá ser pedido o auxílio para
melhorar o conhecimento sobre as espécies em causa.
Mas,
mais importante mesmo é que, mesmo que não tenhamos dúvidas, façamos uma visita
revigorante ao Jardim Botânico, porque a sua beleza e quietude fazem bem ao
corpo e à alma, e é muito mais saudável e económica do que uns charros de
cannabis ou de louro prensado.
(Artigo
publicado na edição de 6 de abril, do Diário de Coimbra)
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