quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O ANO DA MORTE DE NELSON MANDELA



1. Este será o ano que a memória coletiva recordará como o ano da morte de Nelson Mandela. Um ano aziago. Para os portugueses foi um ano de sofrida aprendizagem e dolorosas vivências. Parece que as sete pragas do Egito, em versão atualizada, caíram sobre nós. 
 
Vimos agravar-se a miséria e o sofrimento, assistimos à diminuição do emprego, dos direitos laborais e sociais e sentimos a quebra de segurança na saúde e na velhice. O ano de 2013 tornou-se pior que o anterior, que já fora pior do que o outro anterior, apesar das promessas vencedoras em 2011, que nos diziam que com a austeridade e a troika (coisa não vinda de leste como a expressão, mas das américas e das alemanhas) iríamos vencer os dramas causados por uma vampiresca crise financeira.

Pois sim. Tudo foi correndo cada vez pior e fomos percebendo que estávamos perante o mel do empobrecimento, dos baixos salários, da submissão a uma agenda internacional executada por uns rapazes da casa, que tinha inscrita, ao mesmo tempo, a venda do nosso património estratégico e a nossa transformação em mão de obra barata a favor do lucro financeiro. Até o investimento em “massa cinzenta” que tínhamos vindo a fazer passou a ser intensamente colhido por outros. Continuámos a aprender como a mentira pode ser apresentada de tantas formas e feitios e que ajustamento é uma forma eufemística de dizer: crise; recessão; falências; desemprego; miséria; fome; retrocesso social, cultural e económico. E se ainda não tínhamos percebido bem também ficámos a saber o que significa neoliberalismo e que contrariamente àquela estória do pragmatismo político as ideologias estão bem vivas ainda que escondidas e vestidas de forma angélica.

2. Mas se o empobrecimento é a estratégia global para o país, espantosamente realizada pelo próprio governo da Nação, a verdade é que não parece que tenhamos feito, aqui por Coimbra, o necessário trabalho de casa na contabilização das consequências para a nossa cidade e para o nosso município dessa estratégia e dos estragos duradouros que vai provocar. 

Uma cidade que vive dos serviços, em particular na área do ensino e da saúde, que vê a ser canibalizados a toda a brida, bem como a diminuição da massa salarial dos seus ativos e as reformas dos seus aposentados e reformados, e que não consegue ter investimento infraestrutural do Estado, não pode deixar de arrancar os cabelos de desespero e de frustração.

Coimbra talvez tenha vivido sempre “bem de mais” e por isso vive uma indiferença suicidária, mas veja-se com atenção os dados relativos ao poder de compra concelhio - IpC do INE – recentemente publicados e atente-se que o valor relativo a 2011 é já bastante inferior a 2000 e decerto será assustadoramente mais baixo nos próximos anos.

O ano da morte de Nelson Mandela ficará no calendário marcado como um ano de desgraça para Coimbra, em particular pelo acelerar de um processo de anorexia económico-financeira, para o qual não nos vejo preparados nem tão pouco despertos.

(Artigo publicado na edição de 19/12/2013 do Diário de Coimbra)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

NASCEM COMO COGUMELOS



Na minha aldeia quando vinham as chuvas de outono, algumas bem intensas, os homens que não podiam trabalhar a terra iam pelos pinhais, com a chuva a fustigá-los, à procura de cogumelos (chamavam-lhes cracomelos).

Depois faziam uma enfiada num junco e voltavam para a lareira onde os assavam nas brasas. De seguida espremiam-nos, desfiavam-nos para um prato e temperavam-nos com azeite, vinagre, alho e pimenta (quando havia). Eram uma excelente petisqueira para acompanhar um copo de água-pé e, sobretudo, para ajudar a aguentar as longas horas de "prisão" caseira a que os dias escuros e sombrios obrigavam.

Nesses tempos nasciam cogumelos mas não havia partidos políticos.

Hoje, na minha aldeia já não há quem vá aos “cracomelos” mas há quem fale de política e se espante com a facilidade como aparecem partidos, movimentos políticos, etc. Nascem como cogumelos.

A recomendação que fica é que preciso passá-los pelas brasas e espremê-los, depois logo se verá se merecem tempero e degustação.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

PARA UM NATAL COM MENOS STRESS





No momento em que muitos dos meus amigos se aprestam a enfrentar um dos piores tormentos das suas vidas – a espera nas filas dos supermercados para pagar as compras –lembrei-me de lhes dar uma ajuda resumindo uma solução preconizada por Richard Robinson, e que é a seguinte. 

Primeiro avalie o perfil psicológico de cada pessoa que está na fila pontuando de 1 a 10 os seguintes aspetos: 
. teimosia (propensão para pôr em causa o preço de tudo); 
.esquecimento (probabilidade de se lembrarem à última hora de um coisa que precisam e irem-se embora à procura dela);
. Incerteza (probabilidade de terem perdido a carteira no fundo da mala ou bolso, ou será que ficou no carro?...);
. simpatia (probabilidade de serem amigos próximos da família da empregada da caixa, Maria, e terem de saber durante horas sobre a sobrinha); e
. idade.

Some as pontuações para as pessoas de todas as filas (P).

Depois, some o total de produtos em todos os carros (X).

Terceiro, o pagamento demora tanto tempo quanto o de passar trinta produtos pelo detetor de preços, por isso, adicione o número total de pessoas e fila (n) x 30 para calcular o tempo de pagamento. 

Por último, divida pela velocidade do assistente, que é dada idade (Y).
A fórmula completa para cada fila é: (P+X+30n):y
 
Faça isto para todas as filas das caixas registadoras e depois comece tudo outra vez, porque depois desta conta, as filas estarão diferentes. Depois de fazer tudo outra vez, decida que não vale a pena e junte-se feliz e contente, à fila mais próxima.

Claro que há muitas outras interessantes e inteligentes sugestões. Esta é uma das mais simples e por isso me dei ao trabalho de a descrever e a apresentar como um contributo para um Natal mais feliz dos meus amigos.

Agora sem ironia, lembro a importância do comércio tradicional e as boas soluções de preço/qualidade que aí encontramos, para além do atendimento personalizado e da relação humana que se estabelece e que ajuda a dar mais sentido ao Natal.





terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UMA LONGA VIDA A FAZER COISAS EXTRAORDINÁRIAS


O perigo das afirmações descontextualizadas é grande.

Por exemplo, vi algures uma afirmação feita no The Economist, relativa ao perigo que as bactérias representam para o homem: “A chave para uma longa vida ao que parece, está em não fazer grande coisa”.
Se tivéssemos em conta esta afirmação na atividade política e nos acomodássemos a não fazer nada tínhamos agora o exemplo de Mandela para nos corrigir, porque viveu uma longa vida e fez coisas extraordinárias, mesmo depois da sua morte.

Portanto entre o medo das “bactérias” e a luta pelas nossas convicções e pelos superiores valores que nos norteiam, devemos seguir o exemplo de Mandela e acreditar que fazer coisas pode significar uma longa vida.