quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

ANGÚSTIA CÍVICA

1.É inegável que um dos problemas fundamentais que enfrentamos e que a crise pôsa nu de forma exuberante, é o da representação política nas democracias representativas. Por aqui, Presidente da República, Assembleia da República e Governo apresentam uma imagem extremamente baça, não sendo vistos como os dignos, honestos, competentes e necessários representantes políticos que oscidadãos desejam.
À dessacralização do poder, há muito ocorrida, sucede-se uma verdadeira banalização e mesmo apoucamento da dignidade inerente aos tributários do voto democrático. No novomundo onde passeamos há uma proximidade imagética e um à vontade comunicacional que leva todos à intimidade com todos e, consequentemente, a uma ausência dereserva e de pudor relacional que fez cair os poderosos do pedestal onde viviam com distância e respeitabilidade.
A complexidade e simultaneamente a simplicidade deste nosso mundo e a velocidade da informação e da contrainformação, com base no conhecimento ou na mentira, tornaram muito difícil o exercício do poder e trouxeram uma enorme desconfiança dos governados quanto à capacidade e bondade dos que governam. Torna-se, portanto, imperioso, para reganhar alguma confiança no sistema de representação democrática melhorá-lo e conseguir de modo insofismável, creditar o recrutamento dos representantes políticos. Estamos, por isso, no tempo da reforma dos partidos políticos e na busca, aparentemente impossível, de uma ética de governação e de políticos comum profundo sentido de serviço público. Que este seja o primeiro ponto da nossa agenda e que não deixemos de o repetir permanentemente.

2. 15 dias escrevi sobre a expectativa quanto à organização e funcionamento do novo governo autárquico de Coimbra. Confesso, hoje , perante o que entretanto ocorreu e sobretudo pelo que não aconteceu, alguma perplexidade. É evidente que quem está de fora pode facilmente falar e teorizarmos, o exercício aqui feito tem por base aquilo que o cidadão comum sabe e,como tal, pressupõe o mesmo tipo de dúvidas e angústias.
Imaginava que, pela primeira vez, poderia surgir uma plataforma de entendimento à esquerda, na Câmara de Coimbra. Mais do que a atribuição de pelouros a A ou B, o que parecia politicamente importante era que PS, CDU e Cidadãos Por Coimbra encontrassem uma base comum de governo político do Município para os quatro anos. Uma plataforma assente em valores de que a esquerda se reclama e que fizessem da transparência e participação dos cidadãos um paradigma de governance.
Devo confessar, pelas mensagens transmitidas na campanha e pelos resultados obtidos, que seria importante que desse acordo resultasse, por exemplo, a atribuição do pelouro do urbanismo ao vereador eleito na lista dos Cidadãos Por Coimbra.

Mas, como diz o povo, não adianta chorar sobre o leite derramado.

(Artigo publicado na edição de 5/12/2013, do Diário de Coimbra)


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