1.É inegável que um dos problemas fundamentais que enfrentamos
e que a crise pôsa nu de forma exuberante, é o da representação
política nas democracias representativas. Por aqui, Presidente da
República, Assembleia da República e Governo apresentam uma imagem
extremamente baça, não sendo vistos como os dignos, honestos, competentes
e necessários representantes políticos que oscidadãos desejam.
À
dessacralização do poder, há muito ocorrida, sucede-se uma verdadeira
banalização e mesmo apoucamento da dignidade inerente aos tributários do
voto democrático. No novomundo onde passeamos há uma proximidade
imagética e um à vontade comunicacional que leva todos à intimidade com
todos e, consequentemente, a uma ausência dereserva e de pudor
relacional que fez cair os poderosos do pedestal onde viviam com
distância e respeitabilidade.
A complexidade e simultaneamente a
simplicidade deste nosso mundo e a velocidade da informação e da
contrainformação, com base no conhecimento ou na mentira, tornaram
muito difícil o exercício do poder e trouxeram uma enorme desconfiança
dos governados quanto à capacidade e bondade dos que governam. Torna-se,
portanto, imperioso, para reganhar alguma confiança no sistema de
representação democrática melhorá-lo e conseguir de modo insofismável,
creditar o recrutamento dos representantes políticos. Estamos, por isso,
no tempo da reforma dos partidos políticos e na busca, aparentemente
impossível, de uma ética de governação e de políticos comum profundo
sentido de serviço público. Que este seja o primeiro ponto da
nossa agenda e que não deixemos de o repetir permanentemente.
2. Há 15
dias escrevi sobre a expectativa quanto à organização e funcionamento do
novo governo autárquico de Coimbra. Confesso, hoje , perante o que
entretanto ocorreu e sobretudo pelo que não aconteceu,
alguma perplexidade. É evidente que quem está de fora pode facilmente
falar e teorizarmos, o exercício aqui feito tem por base aquilo que o
cidadão comum sabe e,como tal, pressupõe o mesmo tipo de dúvidas e
angústias.
Imaginava que, pela primeira vez, poderia
surgir uma plataforma de entendimento à esquerda, na Câmara de Coimbra.
Mais do que a atribuição de pelouros a A ou B, o que
parecia politicamente importante era que PS, CDU e Cidadãos Por Coimbra
encontrassem uma base comum de governo político do Município para os
quatro anos. Uma plataforma assente em valores de que a esquerda se
reclama e que fizessem da transparência e participação dos cidadãos um
paradigma de governance.
Devo confessar,
pelas mensagens transmitidas na campanha e pelos resultados obtidos, que
seria importante que desse acordo resultasse, por exemplo, a atribuição
do pelouro do urbanismo ao vereador eleito na lista dos Cidadãos Por
Coimbra.
Mas, como diz o povo, não adianta chorar sobre o leite derramado.
(Artigo publicado na edição de 5/12/2013, do Diário de Coimbra)
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