Estava a saborear a
textura da areia da praia e a digerir a tese de que as sucessivas crises que nos
amachucam têm muito a ver com a degradação das instituições - como defende
Niall Fergunson no seu último livro “O Declínio do Ocidente” -, quando me
lembrei do paguro. O paguro, também conhecido por caranguejo-ermitão ou casa
alugada, é uma espécie de caranguejo que esconde o seu mole abdómen dentro de
conchas vazias e que vai mudando há medida que precisa de mais espaço para
desenvolver as suas molezas. A associação entre a decadência institucional e os
paguros só me surgiu porque andar para trás e viver oportunisticamente são duas
pagurices de uns tantos que por aí andam e que muito têm contribuído para a
degradação das nossas instituições.
Apesar da necessidade
de procurarmos muitas e várias razões para uma certa decadência que sentimos
estar a viver, não deixa de ser verdade que há uma ligação causal da degradação
das nossas instituições (públicas e da sociedade civil) com este tempo de crise
e angústia. É sabido que é difícil alcançar um conjunto de boas instituições e
que quando predominam instituições desqualificadas surge: a ignorância; a
pobreza; a doença; a insegurança; e a violência. Claro que as instituições não
são coisas abstratas. São os homens e as mulheres que as fazem, as alimentam e
as gerem e por isso elas assumem as suas qualidades e defeitos. Assim a sua
critica assume, ainda que inadvertidamente, uma autocritica. Os políticos e os
partidos políticos que tão ferozmente atacamos, são uma criação nossa e
portanto devemos começar por avaliar e ponderar como foi possível termos
permitido que sejam como são e que atuem como atuam. E, desculpem lá meus
amigos, mas nós, de certa forma, ainda idolatramos Alves dos Reis e por isso
não há quem não aprecie um daqueles truques partidários que faz surgir e
multiplicar o Jacinto Leite Capelo Rêgo ou “trazer” um morto a pagar quotas.
Um dia, já lá vão uns
anos, caí na tentação de me candidatar a um cargo partidário. Apesar de saber
que a política não é coisa para gente de estômago fraco, o que vivi e assisti então
– e que reservei como exclusivo património da minha memória -, imunizou-me para
qualquer nova aventura nesse mundo e impeliu-me ao afastamento da atividade
partidária. E hoje permite-me assistir, com enorme gozo, a declarações de
pureza e gritos de revolta por ofensa, a tantos que durante anos praticaram, ou
foram coniventes, com os nefandos “crimes” que agora denunciam.
Não sei se as mulheres
e os homens santos que se anseia ver caminhar para as sedes partidárias existem
e sobretudo não sei se aqueles que afirmam essa esperança não serão os
primeiros a desafiá-los ao pecado ou a condená-los ao ostracismo, por isso,
talvez uma pitada de autocrítica, seguida de algum tempo de jejum e
abstinência, temperado com um banho de ética e uma ingestão de valores fossem
um bom remédio.
Um alerta ineficaz:
cuidado com os paguros políticos.