quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A UM CONIMBRICENSE IMAGINÁRIO



1. Caro amigo A.P., emitir opiniões neste estranho mês de agosto não é difícil, até porque há vasta e variada matéria para opinar e perdoe-me mas, num país em que toda a gente tem opiniões seguras sobre tudo, mal ficaria se eu não arranjasse matéria para encher esta coluna. Ainda há alguns meses, nesses fóruns radiofónicos e televisivos que a maior parte das vezes nos infernizam o dia, não havia quem não emitisse opinião definitiva sobre o Bosão de Higgs (a chamada partícula de Deus), o que, deixe-me que lhe diga, muito me alegrou porque mostrou o enorme nível de conhecimento da generalidade dos cidadãos do nosso país sobre matéria tão específica e difícil. Mas nós portugueses somos assim: sabemos tudo de tudo e se eu me angustio com a minha ignorância - permita-me a inconfidência, mas à medida que vou envelhecendo cada vez mais me sinto mais ignorante -, não é por qualquer mania, é fruto dos anos e idiossincrasia. 

Voltemos ao que nos trouxe, caro amigo A.P. Já lá vai tempo que nesta altura em Coimbra não acontecia nada e a nível nacional as revistas e jornais enchiam as suas páginas com inquéritos – às vezes bem pouco inteligentes –, que permitiam degustar os dias de férias sem angústias e com um sorriso. Este ano só se fala de dinheiro; de bancos - bons e maus; de banqueiros - bons e maus; e até de bancários. Mais, há uma campanha eleitoral a decorrer para eleições partidárias aberta a todo o tipo de clientes,  perdão, simpatizantes. Enfim uma bagunça de questões que não nos deixa estar postos em sossego. Por isso amigo A.P., deixo-lhe aqui a primeira opinião, é mais uma sugestão, entretenha-se a ler o “Livro dos Seres Imaginários”, de Jorge Luís Borges, e vai ver que para além de se divertir e se instruir ainda vai encontrar, neste turbilhão de vidas, seres que lhe vão fazer lembrar alguém conhecido. 

2. Mas, caro amigo A.P., sendo um conimbricense de gema, apesar de ter nascido cá, se quiser aproveitar este agosto para deambular pela nossa cidade e pelas questões que a atormentam. Faça-o, mas não exagere. Lembre-se que agora a Coimbra não é só nossa, tem parte que é Património da Humanidade. Na parte que é só nossa veja se descobre o Memorial a Miguel Torga e quede-se um pouco a meditar sobre o Mondego, a sua navegabilidade e a relação com a cidade. Não pense na areia nem nos paredões que o contêm, particularmente na margem direita, essas são questões há muito tratadas e não haverá inverno que perturbe. Já agora, tenha a maçada e na quietude de uma biblioteca, com todo o ripanço, leia as posições dos ativistas pró-Metro Mondego quando o projeto foi anunciado e lançado, já lá vão uns anitos. Depois requisite, se não quiser comprar: “As cidades Invisíveis” de Italo Calvino, vá saborear um café e comece logo a leitura que se inicia por um capítulo com o título “As cidades e a memória.”

Caro amigo A.P., tenho de ficar por aqui, mas deixo-lhe uma dica, pergunte onde fica o Panteão Nacional. Desejo-lhe boas respostas e boas férias! 

(Artigo publicado na edição de 14 agosto 2014, no Diário de Coimbra)

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