quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ESCOLHAS

Por muito que reclamemos temos de convir que, apesar de algumas contrariedades que tantas vezes nos atormentam, vivemos num pequeno paraíso. Aliás, os últimos tempos têm-nos trazido boas e reconfortantes notícias, aos mais diversos níveis.

Contrariamente, quando lançamos um olhar mais vasto confronta-mo-nos com um mundo onde milhões de seres humanos vivem uma existência de inaudito sofrimento. São mais do que as sete pragas do Egipto que martirizam, sem descanso, crianças mulheres e homens, por decisões da natureza ou de outros homens que semeiam a desumanidade.

Para as decisões dos homens procuramos causas e responsáveis e tentamos num contexto de um mundo globalizado encontrar soluções de compromisso que contenham os demónios da ganância, da ambição, ou da loucura suicida.

O problema é que tudo acontece cada vez mais depressa, de uma forma praticamente incontrolável, com a agravante de que passámos a ter verdadeiras notícias falsas, dadas por muitos dos que deveriam ser uma fonte de verdade e rigor.

Por estes dias tivemos um momento exemplar das contradições deste mundo em que vivemos. Ouvimos um homem de um pequeno país, António Guterres, fazer um grande discurso na abertura da 72.ª Assembleia Geral da ONU, um discurso que honra a humanidade, e, logo a seguir, tivemos a intervenção boçal na forma e arrepiante no conteúdo do presidente de um grande país, Donald Trump.

O mais dramático é que temos consciência de que o grande discurso tenderá a ficar no papel e o praguejar do investidor multimilionário, que não era político, mas que ambicionou governar politicamente o mundo e está a consegui-lo, tenderá a ter consequências.

Mas estes dois homens foram escolhas. Uma com base mais na racionalidade, sem esquecer o trabalho de bastidores e os compromissos que foi possível estabelecer. Outro foi eleito com base na emoção, na mentira e na exploração de baixos e mesquinhos sentimentos alimentados pelas tais fake news.

Por esse mundo fora haverá cada vez mais quem se interrogue, e de forma particular as elites norte americanas, como foi possível chegarmos aqui e como sair daqui. Eu, aqui, em Coimbra, no centro do mundo, não sei, mas há uma coisa que sei: é que em todas as circunstancias não podemos deixar de fazer escolhas ponderadas.

Não podemos deixar que sejam os outros a escolher por nós e ao escolher quem nos governa temos de abdicar, tanto quanto possível, de emoções e procurar razões concretas e objetivas para a decisão que vamos tomar, para não cairmos naquilo a que Ulrich Beck chamou de “irresponsabilidade organizada”, tanto mais que não são decisões para um momento ou por um momento são compromissos de anos e de futuro.