sexta-feira, 17 de maio de 2013

AGRADECIMENTO AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA



Se a vida nos faz permanentes surpresas tenho de confessar que o presidente Cavaco Silva, de quem nunca esperei politicamente nada de jeito,  acabou por me surprender e levar, com a sua recente revelação mariana e santifica, a consultar um “Dicionário dos Santos”, que por mera curiosodade intelectual e prevenção – não fosse um dia vir a ter uma eventrual crise religiosa –, resolvi um dia comprar e que se encontrava arrumado serena e pacatamente entre uns outros dicionários.


Sem ambições políticas mas sabendo que a ignorância não é vida, decidi recorrer ao referido dicionário e passear a minha curiosidade pelo calendário romano e dos beatos portugueses, não vá o presidente, numa nova pedagógica e sábia intervenções invocar, hoje mesmo, um qualquer taumaturgo que eu desconheça e me deixe envergonhado perante os meus amigos.


Pois bem, descobri que hoje, dia 17 de maio, é dia de São Pascoal Baylon. Tenham paciência mas não vou contar-vos o resultado de toda a minha investigação -, é bom que também investiguem e que não passem o tempo a cantar a Grândola Vila Morena  ou a rir-se do e para o Gaspar -, mas notarei que os Franciscanos,  que o acolheram como irmão converso, lhe deram no mosteiro, tarefas muito modestas como: porteiro, servente de refeitório, esmoler, etc. 


Ora convenhamos que esta é uma figura de santo particularmente atractiva para os discursos do presidente da República,  que em conjugação com o actual governo nos vai preparando para estas honradas e modestas tarefas, concretamente a de abrir a porta aos membros da troika, servir-lhes as refeições (bom peixe e bom vinho potuguês) e pedir-lhes, nesta caso também com a intervenção da Senhora de Fátima, que desbloqueiem as verbas previstas após a sétima avaliação positiva do nosso empobrecimento.


Obrigado presidente Cavaco por me ter obrigado a dar uso ao “Dicionário dos Santos”. Por isto nunca mais o esquecerei.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O FUNERAL DAS FESTAS ACADÉMICAS



O formato das festas académicas que vão acontecendo por esse país fora é, sem dúvida, cópia do modelo desenvolvido, com sucesso, aqui por Coimbra, nos últimos anos, pelas empresas produtoras de eventos e de cerveja.

Não têm nada de genuíno, nem são qualquer valia “académica” para os intervenientes, resumindo-se a um bom negócio para as “grandes indústrias” e numa pequena parte para algumas áreas de comércio das cidades.

Morta a simbologia que lhe esteve na origem, hoje pouco resta do ritual de passagem, tendo-se a convicção de que apenas continuarão a existir enquanto derem lucro.

Apesar de tudo muitos ainda acreditavam que havia uma réstia de amizades e cumplicidades que se consolidava nestes momentos, dando nós para o futuro.

Pois bem, o que aconteceu no Porto veio trazer-nos a evidência mais dramática que poderíamos ter da mentira em que se baseiam estas festas. Ficou provado que uns barris de cerveja são muito mais valiosos do que era a vida do Marlon. 

A Federação Académica do Porto pela forma como reagiu ao assassino do Marlon passou a primeira certidão de óbito a estas festas académicas.

Pergunto-me: será que em Coimbra a reação seria diferente? Fico-me com a maldita dúvida: se calhar não.

A REINVENÇÃO DE COIMBRA

Por estes dias os candidatos às eleições autárquicas e os seus apoiantes atarefam-se a fazer os programas de candidatura. Regra geral, documentos circunstanciados, informados por boas ideias e prenhes de promessas salvíficas.

Por mim, e pela experiência acumulada, parece-me que um documento sintético, sem palavras vãs ou promessas incumpríeis, seria o ideal. Ninguém, hoje, lê um programa eleitoral ou, pior ainda, acredita em qualquer programa eleitoral.

Mas o exercício é necessário e útil. Obriga os candidatos a ordenar ideias, dá aos eleitores fidelizados uma justificação de voto e aos mais reflexivos uma busca de mensagens, explícitas e implícitas, para uma tomada de decisão. Diga-se que a decisão mais difícil, no contexto de desconfiança e de desconforto com a ação dos políticos, é a de ir votar, mas adiante.

Independentemente da forma, que os consultores de marketing mais ou menos encartados, irão aconselhar e determinar e que não é despiciendo, o que será que os eleitores de Coimbra esperam ler? Sinceramente não sei! Cada cabeça sua sentença, como diz o povo. Cá por mim, gostava de ser confrontado com uma proposta de reinvenção da minha cidade.

Uma cidade de história e cenário, mas confusa e hesitante, que precisa urgentemente de um novo paradigma existencial. Com tradições adulteradas, espaço desqualificados e valores pervertidos, parece-me que há uma reconstrução a fazer em que os futuros autarcas têm um relevante papel a desempenhar. 

Há um novo espaço público, em que a transparência e o debate assumem particular importância, e a nossa futura Câmara tem de ser uma plataforma de encontro e de partida para novas e aliciantes realidades.

Vivendo, o que podemos chamar de uma “economia de guerra”, sabemos que os escassos meios financeiros de que dispomos exigem não só uma gestão criteriosa mas um direcionamento cirúrgico. Este é um tempo de grande contenção, mas, simultaneamente, um tempo de coragem e de grande ambição no sentido do desenho do futuro. Um futuro digno e, mais uma vez, singular.  

Como eu gostava que me apresentassem uma proposta de reinvenção de Coimbra!