quarta-feira, 29 de junho de 2011

A QUADRATURA DO CICLO


Há um fenómeno intrigante relativamente aos apoios aos candidatos a secretário-geral do PS. É que uma enorme percentagem de dirigentes e militantes que apoiaram nortecoreanamente o anterior secretário-geral, que protagonizou o anterior ciclo político - que só foi ciclo e anterior porque perdeu as eleições - são os que agora mais empenhadamente apregoam e apoiam um "Novo Ciclo".

Não há dúvida que o cheiro pelo poder consegue mesmo fazer a "quadratura do ciclo".

terça-feira, 28 de junho de 2011

GANHAR O FUTURO


Face à enorme incerteza que nos rodeia a política passou a assumir uma dimensão muito mais modesta do que aquela a que estávamos habituados. Os tempos de enorme contingência que vivemos trouxeram-nos uma grande insegurança, levando-nos a duvidar da possibilidade de tomar boas e racionais decisões.

Por outro lado vivemos órfãos de grandes líderes, a quem seguíamos sem reservas, e passámos a dispor de uma maior capacidade de intervenção política e pública, potenciada por mais conhecimento, mais informação e por uma rede de contactos imediatos, o que nos permite questionar e por em crise qualquer verdade insofismável que nos apresentem.

Neste contexto temos de encontrar um novo tipo de líder. Um líder com uma superior argúcia, uma enorme capacidade de leitura global da realidade, de adaptação perante as situações e de formulação de respostas consentâneas com um quadro referencial de valores e de princípios de âmbito colectivo, que tende a evoluir de forma vertiginosa.

Temos, por outro lado de considerar o contexto do exercício da sua liderança e ter em conta as competências e capacidades mais adequadas á defesa e enriquecimento de um projecto político que tenha em conta o momento de enorme complexidade e turbulência que existe e que, tudo indica, vai ser regra doravante.

Para mais a esquerda atravessa um momento de grande nostalgia, de pessimismo e de descrença que é preciso vencer e, por isso, não pode perder tempo num arcaico politicamente correcto que não tem a ver com o presente e muito menos com o futuro.

Por tudo isto procuram-se, cada vez mais, líderes capazes de sobreviver em sociedades extremamente complexas e imprevisíveis e, à esquerda, líderes que recuperem a esperança e sejam capazes de transformar a política revertendo a ideia de fatalidade que atacou a esquerda e a tem levado a fazer a política da direita.

Estrutural e organicamente os partidos estão obrigados a mudar: A realidade vai impor-se-lhes, sem qualquer dúvida, pelo que, no essencial, precisam, isso sim, de encontrar os tais líderes que tenham ideias, tragam caminhos de esperança, palavras de confiança e o vento mobilizador que arrasta.

Por mim, numa reflexão, tão atenta e informada quanto possível, e neste quadro de entendimento, e porque o PS precisa de voltar a sentir-se confortável com a ideia de progresso e de futuro, fui ganhando a convicção de que Francisco Assis é a melhor solução para liderar o PS e, por isso, tem o meu apoio.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 84

 
Saber valer-se dos inimigos.

É necessário saber apanhar todas as coisas, não pelo gume, para que firam, mas pelo punho, para que defendam; especialmente a emulação. Ao homem sábio são mais úteis os seus inimigos que ao néscio os seus amigos. A malevolência consegue aplanar montanhas de dificuldades que a benevolência não se atreveria a pisar. A muitos, foram os inimigos que fabricaram a sua grandeza. É mais feroz a lisonja que o ódio, pois este aponta defeitos que se podem corrigir, enquanto aquele os dissimula. O prudente faz da animosidade alheia um espelho, espelho mais fiel que o do afecto; prepara também para reduzir ou emendar os defeitos. A cautela é grande quando se vive com a emulação e a malevolência.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CONTRIBUTOS PARA UMA ESCOLHA


Uma das dificuldades com que me debato é a de acompanhar certos discursos, ou melhor: certas narrativas como se passou a dizer, de alguns destacados socialistas que apoiaram sem reservas e com grande entusiasmo o anterior secretário-geral, justificaram semana a semana, para não dizer dia a dia ou mesmo hora a hora, a sua acção política, o endeusaram, e agora vêm apregoar, numa urgência inspirada, o apoio a um candidato a secretário-geral com o argumento que este é o melhor para garantir a ruptura imediata com o passado.

No fundo apregoam, com veemência e sem se aperceberem, a ruptura com o seu recente passado político, com um tão estranho e despudorado à vontade que espanta, e não se pode dizer que sejam ingénuos ...

Que diabo, andaram atrás do homem, justificaram-lhe tudo e mais alguma, rejeitaram e calaram qualquer opinião critica à sua acção e agora defendem com um inexplicável panache alguém que renegue de imediato o passado recente que tão convincentemente (?) aplaudiram e defenderam.

Se este exercício configurasse uma auto-critica ainda se percebia, mas não... resolvem tudo com a mesma segurança da passada semana numa postura de duplo descomprometido e desmomoriado.  Será que não percebem que seria politicamente útil um certo tempo de luto e de contenção a bem da sua imagem e do próprio partido?

Num momento de escolha como este, confrontado com certos apoios a um determinado candidato, confesso que a ideia que me assalta é a de atravessar para o outro lado da rua.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

UM DIA DESTES VOU ESCOLHER


Confesso a minha dificuldade numa escolha apriorística do candidato a Secretário-geral do PS. Preciso de algum tempo de descoberta, de mais informação e de avaliação de projectos e de ideias para o futuro. 

Para mais estou assustado com a rapidez com que indefectíveis apoiantes, até ontem, do anterior Secretário-geral apareceram entusiasmados a apoiar os novos candidatos que assumem tão significativas diferenças de personalidade, de estilo e até de propostas.

A volatilidade de convicções é por demais "assustadora". A rapidez da varridela de todo um percurso de aplausos entusiásticos para com o homem de ontem e a velocidade de transferência do aplauso para um dos homens de hoje é desorientadora, quando há tento para debater e compreender.

Contudo reconheço o meu erro de avaliação lendo Pessoa: 

"Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida."

Assim vou tentar ser uma criatura menos superficial e perante a avalanche de apoios que me vão fazendo chegar dum lado e doutro, porque tenho de os ver e de esbarrar com eles, um dia destes vou escolher: É a vida! 

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 83

Permitir-se algum deslize venial.

Um descuido costuma ser às vezes a melhor recomendação das boas qualidade. A inveja tem o seu ostracismo, tanto mais civil que criminal: acusa o muito prerfeito por pecar em não pecar, e condena em absoluto quem é perfeito em tudo. Converte-se em Argos para procurar defeitos no muito bom, embora seja por consolo. A censura fere, como o raio, as mais nobres qualidade. Que dormite Homero de vez em quando e, para acalmar a malevolência (não vá rebentar de veneno), finja-se algum descuido na inteligência ou no talento, mas nunca na prudência. É como lançar a acapa ao touro da inveja para salvar a imoralidade.

A Arte da Prudência
Baltazar Gracián

quarta-feira, 1 de junho de 2011

AJUDEM-NOS A RESOLVER ESTE DILEMA


É difícil acreditar que a actual campanha eleitoral suscite qualquer reflexão sobre o nosso futuro colectivo e que permita uma racional escolha partidária.

O ruído, o vazio, os ódios e as acusações sobrepõem-se aos argumentos e a qualquer visão prospectiva. Aliás, um olhar sereno e tão descomprometido quanto possível, leva-nos a algumas espantosas ilações, que mais do que esclarecer fomentam dúvidas e interrogações.

Uma das questões marcantes é a do surgimento de uma nova perspectiva, já identificada noutros países, de antagonismo entre os defensores da justiça social e os apologistas do progresso. Quem defende a justiça social fá-lo hoje barricado na defesa das conquistas do passado e na rejeição de uma visão progressista e inovadora da sociedade, porque só adivinha derrotas e retrocessos.

Também, espantosamente, os conservadores de ontem aparecem hoje como os grandes partidários da modernização, numa interpretação de que este é o seu tempo e que o futuro é construindo obrigatoriamente por si, dado que a esquerda está esgotada e sem margem de manobra política.

Como alguns observadores vêm fazendo notar, parece que é verdadeira a ideia de que a defesa de uma visão de progresso passou gradualmente da esquerda para a direita, que fala em avançar, acelerar, adaptar-se, reformar, etc.

Aliás a esquerda não apresenta qualquer projecto de sociedade estruturado e exequível, sendo, ou uma esquerda radical que está fora do tempo e do espaço, ou uma esquerda que não tem mais do que um discurso antidireita. A esquerda parece o território do puro pessimismo que reflecte a incapacidade de parar a tal direita que assume descarada a vitória antes do tempo porque o programa vencedor, conhecido e validado antes das eleições, é o seu.

A esquerda de poder, no fundo, bate-se pela ideia de resistência e de moderação de um programa de direita à luz de um pragmatismo militante onde não há espaço para a utopia que decorria, no passado recente, da sua confiança no futuro e no progresso e sustentava uma visão optimista e reconfortante do nosso desenvolvimento.

A direita, por seu lado, onde não se percebem distinções programáticas, até passou a ser optimista e a aparecer com a convicção de que só ela é futuro, só ela é esperança, segurança e progresso.

Mais ainda, parece que a esquerda se apresenta sem visão e sem paixão, encurralada entre novas formas de participação cívica que lhe roubam protagonismo e protagonistas, e sem capacidade de garantir uma correcta governança perante a pressão de uma direita que usa a redutora visão do contribuinte em detrimento do cidadão.


Depois, globalmente, os políticos assumiram, num estranho haraquiri, o discurso de que na política não só vale tudo como é óbvia a sua subordinação a projectos de realização pessoal, destruindo a confiança e o necessário élan colectivo.

É pena a incapacidade da construção de um projecto de esquerda com as esquerdas. Os puros terão, porventura, o reino dos céus mas nunca vencerão neste reino terreno, e os outros, os pecadores, não são capazes de confessar os seus pecados, pelo que vamos tendo o que não merecemos mas o que construímos com anos de rancor e disputas herdadas de um século que já passou há tanto tempo.

E agora o que fazer? Deixar a direita ganhar para que a esquerda se possa reconstruir ou apostar na esquerda a fazer de direita para tentar minorar as maldades subscritas?

Temos uma semana para decidir. Por isso, ajudem-nos a resolver este dilema e digam-nos alguma coisa de verdadeiramente substancial e interessante sobre o futuro…