Um descuido costuma ser às vezes a melhor recomendação das boas qualidade. A inveja tem o seu ostracismo, tanto mais civil que criminal: acusa o muito prerfeito por pecar em não pecar, e condena em absoluto quem é perfeito em tudo. Converte-se em Argos para procurar defeitos no muito bom, embora seja por consolo. A censura fere, como o raio, as mais nobres qualidade. Que dormite Homero de vez em quando e, para acalmar a malevolência (não vá rebentar de veneno), finja-se algum descuido na inteligência ou no talento, mas nunca na prudência. É como lançar a acapa ao touro da inveja para salvar a imoralidade.
A Arte da Prudência
Baltazar Gracián
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