O Dr. Rui Rio veio, na qualidade
de presidente da Junta Metropolitana do Porto, propor que se “pegasse nos
muitos bombeiros voluntários e se criasse um batalhão à escala metropolitana”,
conseguindo, assim, “maior eficácia e menores custos”.
Não sei se esta inopinada
proposta tem fundamento nalgum estudo concreto, que permita concluir qual o
aumento da eficácia e quais as economias conseguidas com aquela solução ou, se pelo
contrário, se tratou de um mero palpite, o que a acontecer parece não se
coadunar com a imagem de grande rigor e competência com que se apresenta.
A questão merece, contudo,
reflexão, não na mera perspectiva da estruturação da protecção civil e do papel
dos bombeiros na área Metropolitana do Porto mas num contexto mais alargado,
porque a questão tem de ser equacionada a nível nacional uma vez que a ser adoptada
no referido território tenderia, inevitavelmente, a estender-se a todo o país.
Ao apresentar a sua proposta o
Dr. Rui Rio adivinhou logo a dificuldade da solução, só que a sustentou em “resistências
a diversos níveis”, argumentário fácil e frágil, tanto mais que há boas e
legitimas resistências de defesa do interesse dos cidadãos, do interesse colectivo
e do interesse do país.
Maior eficácia e menores custos
com os bombeiros, são duas ideias sustentadas numa visão tecnocrática e
economicista da missão dos bombeiros voluntários e das Associações Humanitárias
em que se inserem, esquecendo a história dessas associações, o seu papel social,
cultural e a visão humanista que levou à sua criação. Mais, revela um profundo
desconhecimento dos mecanismos de recrutamento voluntário e de tudo aquilo que
subjaz de enquadramento grupal e de integração social que as corporações de
bombeiros voluntários permitem.
Os bombeiros voluntários têm sido
a espinha dorsal da protecção civil no país, no país real e profundo, em que os
cidadãos ainda se juntam não para discutir a partilha de prebendas mas para
aprender a combater um fogo, a acudir a uma vitima de acidente, ou a salvar um
concidadão e a proteger os seus bens.
Há uma ideia e um espírito de
missão em acção, em movimento, todos os dias por esse país fora, que serão
inevitavelmente colocados em crise com uma macro organização como a preconizada
pelo Dr. Rui Rio. Aliás, a primeira e inevitável consequência seria a de uma
profissionalização dos bombeiros com encargos acrescidos, contrariando a tese
poupadinha do Dr. Rui Rio.
Está, por isso, profundamente
errado o Dr. Rui Rio. No dia em que houver uma estrutura formal, obrigatória,
com enquadramento de natureza institucional, seja de âmbito municipal, regional
ou nacional o que o Dr. Rui Rio terá são bombeiros profissionais, à semelhança,
aliás, dos bombeiros que já tem no Batalhão de Bombeiros Sapadores que integra
a Câmara, a quem terá de pagar de acordo com uma carreira profissional, aumentando
exponencialmente os custos em recursos humanos.
2011 foi declarado pelo Conselho
de Ministros da União Europeia “Ano
Europeu das Actividades Voluntárias que Promovam uma Cidadania Activa” pelo que
talvez seja um bom momento para reflectir se pretendemos continuar a ter no
nosso país o privilégio da existência de organizações de cidadãos voluntários,
como são as associações humanitárias de bombeiros, muitas delas centenárias,
que emergindo da sociedade civil são um património de valores e uma solução
concreta para muito dos problemas de socorro e segurança dos cidadãos, ou se
pretendemos sacrificá-las à luz duma imponderada visão tecnocrática e
economicista, sem sustentação técnica ou económica fundamentada.
Num tempo de egoísmos e de
exacerbada competição o que o Dr. Rui Rio nos propõe é que abdiquemos do
esforço voluntário e solidário de milhares de homens e mulheres, organizados em
torno das suas associações, para passarmos a ter pretensos bombeiros voluntários
a pataco.
Nota: Artigo publicado na edição de 6.2.2011, do Jornal de Notícias.
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