sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O CICLO NEUTRO: PPP+MPSD+(CS:2)=CN


Há quem garanta que com a reeleição de Cavaco Silva se iniciou um novo ciclo político. É a tese da direita. Talvez porque o Dr. Paulo Portas está apressado em chegar ao poder na tentativa de fazer submergir o processo dos submarinos. No entanto, uma visão mais global e ampla da situação dá-nos a ideia de que podemos utilizar, para caracterizar o actual momento político, aquele dito popular que nos ficou do tempo das invasões francesas: "Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes".

É verdade  que o reeleito presidente mostrou intenção de uma atitude mais assertiva no exercício das suas competências presidenciais mas nada que indicie uma ruptura ou um novo quadro de relacionamento institucional. Por outro lado a geometria partidária não se alterou e os pressupostos de acção política  estão subordinados a uma visão utilitária, temerosa dos custos de contexto que uma iniciativa de crise poderia originar.

Os movimentos no tabuleiro político estavam estudados e o jogo decorre a meio campo, calculista e expectante. Um jogo que o grande xadrezista Capablanca, o "Mozart do xadrez", detestaria por entediante, sem risco e sem estética. O actual ciclo não é mais do que a continuação do ciclo do medo, que já vem de trás e que tolhe movimentos.

Verdadeiramente dentro deste ciclo talvez possamos, isso sim, encontrar um novo ciclo que é o da anti-campanha negra e com o qual José Sócrates se sentirá particularmente confortado, face a todas as verdadeiras campanhas negras de que tem sido alvo perante o silêncio estratégico de Cavaco Silva que durante todos estes anos não se sentiu incomodado com essas campanhas, parecendo mesmo ter permitido a incubação na sua própria entourage institucional de alguns peritos na matéria. 

Se o rancor é um mau conselheiro, e se Cavaco Silva foi particularmente infeliz no momento pós-eleições, não deixa de ser interessante que na proclamação da sua presidência de cooperação activa tenha tido uma atitude identificadora da defunta presidência de cooperação estratégica com o José Sócrates, na denúncia da tal campanha negra, de cuja intensidade cromática ainda não é possível concluir.

Nesta teoria de ciclos talvez se pudesse dizer que estamos perante um contra-ciclo, caracterizado  por  termos um presidente fragilizado pela abstenção e pelas dúvidas que deixou instalar quanto aquilo que era a sua grande apregoada mais valia - a integridade pessoal e política, o que é um drama para a direita que ambicionava um presidente forte que pudesse dissolver o Parlamento sem contestação e que fosse capaz de aglutinar a direita e o centro direita num projecto global de poder.

É também um contra-ciclo em que o BPN e o negócio dos submarinos emergem em todo o seu esplendor, remetendo a direita para uma posição defensiva dado que estes não são pecados de Sócrates.

Mas para interpretar a situação nada melhor do que recorrer à matemática, sublinhando que não se trata de qualquer exercício de investigação operacional, e utilizar a seguinte fórmula: PPP+MPSD+(CS:2)=CN, sendo que: PPP=Pressa Paulo Portas; MPSD=Medo PSD; CS=Cavaco Silva; CN=Ciclo Neutro.

Portanto: a pressa de Paulo Portas, somada com o medo em que o PSD vive e com Cavaco Silva diminuído dá como resultado um ciclo neutro.

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