Correr
atrás do rabo
A
proposta de transformação do aeródromo Bissaya Barreto em
aeroporto, que polarizou o debate política na última campanha para
as autárquicas, gerando forte controvérsia, continua, ainda que com
evoluções, a preparar-se, para mal dos nossos pecados, para voltar
a ser o grande tema das próximas autárquicas.
Agora
a ideia é um aeroporto de raiz, que o governo diz que vai estudar (o
que é que queriam que dissesse?), havendo, mesmo, quem já queira
aprovar o seu nome, apesar da forte contestação inicial, pelo que
decerto a irá incluir no seu programa eleitoral.
Por
outro lado, eventuais interessados na coisa e fundamentais ao
desenvolvimento do projeto, se alguma vez ele viesse a ser
considerado, retomaram, com energia, a defesa da abertura da Base
Militar de Monte Real ao tráfego aéreo civil, mostrando que a
Região Centro tem mais buracos estratégicos do que um queijo Suíço.
É
verdade que há em todo este processo uma questão de fé, dado que
um dos grandes argumentos para a construção do novo aeroporto
reside na ideia da sua importância para o turismo religioso,
concretamente, a vinda de charters de peregrinos para ouvir missa em
Fátima.
Ora
o dito turismo religioso de que Fátima é o polo central, tem desde
há muito um circuito mais vasto, que envolve cidades e vilas da
Região Oeste – Óbidos, Nazaré, Alcobaça, Batalha, etc. - que,
tendo fortes apoios nas estruturas económicas e políticas da
capital, não estão minimamente interessadas em qualquer aeroporto
localizado entre Coimbra e Leiria ou em Monte Real.
Por
outro lado algum atrativo religioso que, por exemplo, Coimbra poderia
oferecer com uma significativa ressonância internacional - como seja
o da metamorfose de Dom Fernando Martins, de apelido Bulhões, no
Frade Menor António, posteriormente Santo e Doutor da Igreja e que
Pádua e Lisboa assumem como seu -, nunca fez parte da estratégia da
Igreja nem da Cidade.
Resta,
portanto, o fundamento da importância dum aeroporto na região
centro como elemento de coesão territorial do país e do seu
desenvolvimento económico o que, obviamente, vai contra toda a
estratégia de há muito seguida de que o país se estrutura nos dois
grandes polos: Lisboa e Porto, complementados pelo “reino dos
Algarves”, neste caso enquanto o turismo der.
Assim,
enquanto se anunciam para Lisboa e Porto fortíssimos investimentos
em transportes coletivos e infraestruturas ferroviárias, a nós
é-nos dado o privilégio de discutir a construção de um aeroporto
que, obviamente, nunca existirá, por tudo o que já disse e ainda
porque isso seria contrário aos interesses da “senhora ANA”.
Uma
discussão que só fará gastar energias e fragilizar a Região, por
acentuar a clivagem entre as suas principais cidades.
Esta
questão faz lembrar aquela cena, que não leva a lado nenhum e que
já todos viram, do cão a correr atrás do rabo, e que os
especialistas consideram tratar-se da reação a um determinado
incómodo ou apenas a uma tentativa de chamar a atenção.
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