quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CENTRO DE ARTES OU SALA DE EXPOSIÇÕES


Coimbra está tão habituada a ser esquecida que quando lhe dizem que vai aqui ser exposta, por um tempo, a coleção de arte do BPN (196 obras) desata a gritar de alegria como se tivesse recebido uma enorme dádiva.

Aliás, num frequente comportamento ciclotímico entrou em euforia falando na criação na cidade de um centro de artes a instalar, num espaço municipal, sem ponderar um conjunto de questões preliminares fundamentais a um projeto dessa natureza.

Com efeito, a criação de um centro de arte (digno desse nome) implica perceber várias coisas entre as quais, desde logo: que tipo de centro de arte e qual a sua natureza e âmbito - municipal ou nacional?

É que um projeto de natureza e dimensão nacional é uma coisa, de natureza municipal é outra. Investir num projeto municipal, a nascer com base nas referidas 196 obras, implica a garantia de que as referidas obras são cedidas formal e definitivamente ao Município de Coimbra e que este deverá, num prazo razoável, apresentar e desenvolver um projeto concreto para o seu acolhimento.

Considerar a criação de um centro de artes de natureza nacional implica desde já a vontade expressa do governo no desenvolvimento desse projeto e o estabelecimento de uma agenda de trabalho com vista à definição concreta da sua natureza; modelo de articulação com a Câmara; etc.; etc.; etc.

Falar de repente num centro de arte e indicar logo um local para acolher a coleção (o seu embrião) parece-me ser o pior caminho para ir a algum sítio. Se queremos um equipamento cultural que signifique uma verdadeira mais valia para Coimbra e para a Região Centro não podemos embarcar numa precipitação primária que vai acabar, com toda a certeza, em mais uma frustração coletiva.

Aliás, como é que é possível apontar as antigas instalações da Manutenção Militar, que estão devolutas há anos a degradar-se e para as quais foi sussurrado um museu da cidade (?) Na verdade esta proposta apenas mostra que não só não há qualquer ideia do que se pretende fazer como demonstra não haver nenhuma ideia séria sobre o destino das referidas instalações, há longo tempo desocupadas. No fundo é qualquer coisa que de repente está mais à mão, e pronto!

Depois, se há a possibilidade de considerar, em conjunto com o governo, um centro de artes de âmbito regional e/ou nacional por que não pensar na adaptação do edifício da Estação Nova, que dizem vai ser desativado como estação ferroviária, ou então construir um edifício de raiz como um novo ícone de atração numa cidade que tão esquecida tem sido?

Antes de mais parece-me que o essencial é conseguir que a coleção seja exposta no edifício indicado pelo governo e depois que a Câmara consiga promover um forte debate na cidade e a mobilização institucional e cidadã que torne irreversível a instalação dum Centro de Artes de que nos possamos orgulhar. Chega de salas de exposições temporárias!

Na mesma altura em que a ministra da Cultura noticiou a instalação em Coimbra da coleção do BPN deu nota de que vai ser dada prioridade à instalação do Museu Nacional da Música em Mafra. Há anos que ando a sugerir que este era um interessante museu a instalar em Coimbra, tanto mais que há aqui uma imensa tradição e vida musical. Nunca ouvi uma palavra de apoio a esta ideia, porque decerto não tinha nem tenho qualquer razão, mas a minha teimosia leva-me a dizer que é uma pena Coimbra não se ter proposto acolher este museu. Tenho a certeza de que seria uma mais valia par a nossa cidade e que, pelo que se vê, até poderia ter sido instalada na antigas instalações da Manutenção Militar.


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