Coimbra
está tão habituada a ser esquecida que quando lhe dizem que vai
aqui ser exposta, por um tempo, a coleção de arte do BPN (196
obras) desata a gritar de alegria como se tivesse recebido uma enorme
dádiva.
Aliás,
num frequente comportamento ciclotímico entrou em euforia falando na
criação na cidade de um centro de artes a instalar, num espaço
municipal, sem ponderar um conjunto de questões preliminares
fundamentais a um projeto dessa natureza.
Com
efeito, a criação de um centro de arte (digno desse nome) implica
perceber várias coisas entre as quais, desde logo: que tipo de
centro de arte e qual a sua natureza e âmbito - municipal ou
nacional?
É
que um projeto de natureza e dimensão nacional é uma coisa, de
natureza municipal é outra. Investir num projeto municipal, a nascer
com base nas referidas 196 obras, implica a garantia de que as
referidas obras são cedidas formal e definitivamente ao Município
de Coimbra e que este deverá, num prazo razoável, apresentar e
desenvolver um projeto concreto para o seu acolhimento.
Considerar
a criação de um centro de artes de natureza nacional implica desde
já a vontade expressa do governo no desenvolvimento desse projeto e
o estabelecimento de uma agenda de trabalho com vista à definição
concreta da sua natureza; modelo de articulação com a Câmara;
etc.; etc.; etc.
Falar
de repente num centro de arte e indicar logo um local para acolher a
coleção (o seu embrião) parece-me ser o pior caminho para ir a
algum sítio. Se queremos um equipamento cultural que signifique uma
verdadeira mais valia para Coimbra e para a Região Centro não
podemos embarcar numa precipitação primária que vai acabar, com
toda a certeza, em mais uma frustração coletiva.
Aliás,
como é que é possível apontar as antigas instalações da
Manutenção Militar, que estão devolutas há anos a degradar-se e
para as quais foi sussurrado um museu da cidade (?) Na verdade esta
proposta apenas mostra que não só não há qualquer ideia do que se
pretende fazer como demonstra não haver nenhuma ideia séria sobre o
destino das referidas instalações, há longo tempo desocupadas. No
fundo é qualquer coisa que de repente está mais à mão, e pronto!
Depois,
se há a possibilidade de considerar, em conjunto com o governo, um
centro de artes de âmbito regional e/ou nacional por que não pensar
na adaptação do edifício da Estação Nova, que dizem vai ser
desativado como estação ferroviária, ou então construir um
edifício de raiz como um novo ícone de atração numa cidade que
tão esquecida tem sido?
Antes
de mais parece-me que o essencial é conseguir que a coleção seja
exposta no edifício indicado pelo governo e depois que a Câmara
consiga promover um forte debate na cidade e a mobilização
institucional e cidadã que torne irreversível a instalação dum
Centro de Artes de que nos possamos orgulhar. Chega de salas de
exposições temporárias!
Na
mesma altura em que a ministra da Cultura noticiou a instalação em
Coimbra da coleção do BPN deu nota de que vai ser dada prioridade à
instalação do Museu Nacional da Música em Mafra. Há anos que ando
a sugerir que este era um interessante museu a instalar em Coimbra,
tanto mais que há aqui uma imensa tradição e vida musical. Nunca
ouvi uma palavra de apoio a esta ideia, porque decerto não tinha nem
tenho qualquer razão, mas a minha teimosia leva-me a dizer que é
uma pena Coimbra não se ter proposto acolher este museu. Tenho a
certeza de que seria uma mais valia par a nossa cidade e que, pelo
que se vê, até poderia ter sido instalada na antigas instalações
da Manutenção Militar.
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