Ao
ver certa intervenções que estão a ser feitas no espaço público
resolvi revisitar a publicação de novembro de 1993, da Câmara de
Coimbra “Urbanismo, Coimbra, anos 90”, e pude constatar que,
infelizmente, apenas algumas das intervenções urbanas ali propostas
só agora, passadas mais de duas décadas, estão a ser realizadas.
Houve,
por isso, uma geração que acabou por não ter a oportunidade de
usufruir de benfeitorias que foram pensadas para ajudar a melhorar a
sua qualidade de vida, que poderiam ter sido realizadas em tempo útil
e feito de Coimbra uma cidade liderante e inovadora, não se deixando
ultrapassar como veio a acontecer.
Mas
não é de estranhar porque é sabido que gostamos muito mais de nos
discutirmos do que fazermos – é da idiossincrasia coimbrã – e
também porque como Max Weber ensinou: ”O resultado final da
atividade política raramente corresponde à intenção primitiva do
ator”.
Olhando
agora para o que se vem passando é com pena que não vejo uma visão
global de intervenção urbana como a que então foi desenhada, e o
que vou ouvindo e lendo são sobretudo referências e discussões à
volta de grandes projetos: um aeroporto para região centro a
construir próximo de Coimbra; uma candidatura de Coimbra a Capital
Europeia da Cultura em 2027; o fim da chegada dos comboios à Estação
Nova e consequentemente do seu encerramento; o desenvolvimento do
projeto de um sistema de transporte que resolva o fim da Linha da
Lousã; e a construção, sem data, de um novo heliporto com
maternidade por baixo, junto dos HUC.
Haverá
mais coisas que o dia a dia nos vai trazendo mas sempre numa
perspetiva avulsa e em muitos casos sem que se percebam as conexões
com o construído e com uma visão, até ideológica, do modelo de
cidade que pretendemos.
Aliás,
queremos um aeroporto, cuja viabilidade implica um conjunto de
condições que à partida não serão fáceis de conseguir, quando
não somos capazes de um entendimento sobre a questão, com outras
cidades da região cujo contributo é indispensável à sua
viabilidade. Aliás, nós nem a nível rodoviário conseguimos ter
uma rede decente de ligação a Leiria ou a Viseu, cidades que se têm
vindo a afastar cada vez mais de Coimbra.
Falamos
de um aeroporto quando não conseguimos regularizar um rio que há
séculos nos banha e periodicamente nos engravida com água, para
além de não termos uma rede de transportes públicos, que evite a
entrada diária de milhares de carros na cidade e que depois
estacionam em centenas de metros de passeios à volta dos hospitais.
Mesmo
no momento em que a grande aposta nacional é na ferrovia – onda
que devíamos aproveitar – nós andamos a discutir impossíveis,
até pela recente decisão do aeroporto de Alcochete, esquecendo o
destino a dar à Estação Nova, cujo desaparecimento damos por
adquirido, apesar da visão do próprio ministro da área de que o
comboio deve ir ao centro das cidades.
Pretendemos
vir a ser Capital Europeia da Cultura, em concorrência com outras
importante cidade da região: Leiria e Guarda, esquecendo o flop que
foi Coimbra Capital Nacional da Cultura.
Mais
ainda, queremos ser capital Europeia da Cultura quando sendo uma
cidade universitária não conseguimos resolver a vergonha dos
arranjos e da envolvente dos nossos polos universitários, com
passeios degradados, espaços abandonados e carros por todo o lado.
Veja-se
o triste espetáculo de termos uma guarda de honra automóvel na
Porta Férrea, donde aliás vai partir o Rally de Portugal, repetindo
uma iniciativa publicitária, que no momento em que por esse mundo
fora se discute a questão da emissão de CO2, nada tem de virtuoso.
Não será uma iniciativa negativa fazer da Universidade, uma das
mais antigas do mundo, Património da Humanidade e onde não se come
carne de vaca, capital de carros altamente poluidores?
Queremos
ser Capital Europeia da Cultura mas não somos capazes de ter uma
Maternidade decente para as nossas crianças nascerem e onde nem as
suas entradas, contrariamente ao que acontece por vilas e cidades
europeias, conseguimos apresentar com obras de arte ou, ao menos,
umas simples flores?
Eu
gostaria que pudéssemos ser a curto prazo, muito antes de 2027,
Capital Europeia da Qualidade de Vida, mas parece-me impossível
porque vivemos um portefólio de contradições e uma crise de
realismo.
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