terça-feira, 16 de março de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - XII

- Então, senhor presidente, gostou do congresso do nosso partido - interrogou, jovial, o vice-presidente.

- Olhe, por um lado sim, por outro não - respondeu, com ar distante, o presidente.

- Não me diga. Não esperava vê-lo com esse ar tão dividido. Eu até acho que correu muito bem - assumiu o vice-presidente.

- Bem, meu caro, gostei da decisão de proibir posições públicas de militantes contra os dirigentes do partido antes dos actos eleitorais mas achei pouco. Também não devia ser possível criticar os presidentes de Câmara. Lembre-se do que eu passei com um ex-vice-presidente...Depois também entendo que a comunicação social devia ser proibida de transmitir determinadas imagens e os jornalistas proibidos de fazer certas perguntas. Veja o sossego que agora temos na Câmara sem a presença deles - esclareceu o presidente.

- Mas, senhor presidente, isso seria impossível e nós precisamos da comunicação social para divulgar as nossas mensagens. Mais, isso é que seria verdadeira asfixia democrática - contrapôs o vice-presidente.

- Ora, isso da asfixia democrática são é connosco. Veja como governamos bem na Madeira e como a actual líder do partido, que é especialista nessa matéria, esteve de acordo com a alteração aprovada. Digo-lhe mais, isto faz-me lembrar aquela velha história japonesa -  segundo creio - em que um velho monge critica a estupidez daqueles que não são capazes de moer os cereais em duas gamelas ao mesmo tempo com o mesmo pilão - respondeu o presidente com um ar visionário.

- Mas, senhor presidente, não conheço a história e sou-lhe sincero também não vejo como isso é possível - arriscou o vice-presidente.

- Olhe, é muito simples. Coloca-se uma das gamelas no chão e a outra pendura-se voltada para baixo. Assim ao levantar e baixar o pilão bate-se nas duas gamelas ao mesmo tempo - explicou o presidente.

- Senhor presidente... isso seria possível se o cereal não caísse da gamela que está virada para baixo - contrapôs, convicto, o vice-presidente.

- Pois é, meu caro, é esse precisamente o problema - rematou o presidente, enquanto fazia um pequeno avião de papel.

O vice-presidente hesitou em ripostar mas resolveu calar-se e saiu do gabinete a desejar que começasse a Primavera.

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