quinta-feira, 25 de março de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - XIII

O vereador olhava atento o vice-presidente que, com ar displicente, sorvia o café. 

No intervalo entre dois golos, o vice-presidente percebendo a ansiedade do vereador disse pausadamente - Também eu fiquei preocupado. O presidente pareceu-me irritado com aquele seu sorriso baço e umas frases enigmáticas. Acho que ele está à espera dos resultados eleitorais para reagir.

- Olhe, eu penso o mesmo. Parece-me que esta história da água ainda vai dar água pela barba a alguém - retorquiu o vereador.
 
- Pois é. Quando começam a falar muito, a apresentar muitos power points e a aparecer muito engravatados nos jornais, o presidente fica logo de pé atrás. Para mais há por ali umas histórias antigas, mal contadas, e a coisa ainda vai dar para o torto - acrescentou o vice-presidente.

- Sabe, eu custa-me a perceber onde está o problema mas a verdade é que o passado já devia ter ensinado ao nosso companheiro como as coisas funcionam. Aliás, eu até me parece que ele está a esticar a corda deliberadamente na convicção de que o seu candidato vai ganhar - respondeu o vereador.

- Tem razão. Mas eu, seja qual for o resultado, não estou muito certo de que as coisas fiquem por aqui e, então, se ele reincidir mais dia menos dia vai com uma perna às costas - retorquiu o vice-presidente, e acrescentou - Aliás, não sei se ouviu a história que o presidente resolveu contar, depois de ver os jornais?

- Não. Não ouvi, não estava presente - respondeu, curioso, o vereador.

- Olhe, sem mais nem menos resolveu dizer qualquer coisa assim: "Um homem sonha que é uma borboleta. Saltita de flor em flor, abrindo e fechando as asas sem se lembrar da sua natureza humana. Quando acorda, percebe que é um homem. Só que aquele sonho deixou-o confuso e fica a interrogar-se se será ele um homem que acaba de sonhar que era uma borboleta ou se é uma  borboleta a sonhar que é homem. Como não conseguia decidir-se houve alguém que teve de o trazer à realidade" - contou o vice-presidente.

- Não há dúvida, o presidente é um homem sabedor - disse, pausadamente, o vereador.

- E implacável - acrescentou o vice-presidente. 

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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