quarta-feira, 10 de março de 2010

O QI DE COIMBRA


Em 2004 fomos surpreendidos com um livro "Portugal, Hoje: O Medo de Existir", da autoria de José Gil, um filósofo - "espécimen" a que no nosso país não damos grande valor e cuja existência até dispensávamos porque nos obriga a pensar, o que implica um enorme esforço -, que acabou por se transformar num best-seller.

Aí tivemos oportunidade de perceber, no contexto de uma relação que o autor assume com o país, sem estados de alma, e que marcou a quem o leu, que : "O estado de transição actual da sociedade portuguesa, com uma passagem rápida de um regime autoritário para um regime em que a disciplina emana do sistema orgânico da funcionalidade tecnológica, cria uma situação em que o novo "princípio de acção" surge como um prolongamento natural do medo. É também invisível e ubíquo, inelutável e único. E é, como veremos, uma certa forma transformada de terror."

Mas, José Gil é hoje notícia porque dá a sua última aula na Universidade Nova de Lisboa, onde é professor. Nesta oportunidade dá uma entrevista ao Público que merece ser lida e reflectida e que é encimada por uma frase lapidar: "Há uma inteligência que só a arte nos dá e que é fundamental."

Há, contudo, um passo dessa entrevista que me suscitou particular interesse e que levou ao título deste post. Diz, a certa altura, José Gil: "Ora, numa cidade inteligente, a arte existe e o discurso artístico, a problemática artística atravessa esse espaço independentemente dos interlocutores, ganha autonomia, atinge as pessoas, incluindo os que não pensam nisso. Eu, que não sou artista, tenho uma cultura artística que vem daí. E isso é um espaço público. Um espaço que vibra, que é autónomo, em que não sou eu que falo, ele fala por si e atravessa o espaço real, as conversas habituais. Nós não temos isso." 

Sendo esta uma constatação relativamente ao que se passa no país Coimbra não é excepção mas, é óbvio, que há cidades mais ou menos inteligentes, à luz do entendimento do filósofo, e, por isso, eu atrever-me-ia a perguntar: qual o Quociente de Inteligência (QI) de Coimbra?

A resposta fica a cargo de cada um, mas não me parece que tenhamos grandes motivos de orgulho, particularmente pelo tratamento que a Cultura tem merecido do poder político da cidade. 

Como recordatória será bom reler os documentos: "O Saneamento Básico da Cultura", publicado em 2005, e "Pelo Direito à Cultura e Pelo Dever de Cultura!", de Janeiro de 2008, subscritos por um vasto conjunto de cidadãos, relembrar as respostas que os mesmos mereceram do presidente da Câmara e reflectir sobre a situação cultural de Coimbra.

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