terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - VIII

Então viu aquelas imagens do Carnaval na Madeira? - atirou de chofre o presidente assim que o vice-presidente entrou no seu gabinete. E continuou - O Alberto João faz-me inveja. Sabe, tenho por ele uma grande admiração.

- Vi sim, senhor presidente- respondeu, um pouco atarantado, o vice-presidente.

- Pois olhe, meu caro, estou a pensar que a Câmara também deve organizar um corso carnavalesco. Vamos ter de pensar nisso a sério - acrescentou o presidente, com um olhar distante e profético.

- Mas sabe, senhor presidente -  retorquiu o vice-presidente - nós não temos tradição, o tempo nem sempre ajuda, temo que possa ser um fiasco e não apareça ninguém.

- Quanto ao tempo tem razão, mas quanto à participação não estou de acordo. Basta que se dê instruções ao nosso pessoal aqui na Câmara, nos Serviços e Empresas Municipais para que se constituam vários grupos e se faça um bom desfile - afirmou o presidente. 

- Mas se assim é, se é essa a vontade do senhor presidente, temos de começar a preparar as coisas quanto antes - disse sem convicção o vice-presidente e acrescentou - E o senhor presidente também vai desfilar, como faz o Dr. Alberto João?

- Mas claro. São momentos que não podemos deixar de aproveitar.

Fez-se silêncio e, passados alguns momentos, o presidente acrescentou - E até já sei como é que vou mascarado.

Sem esconder o seu espanto o vice-presidente apressou-se a perguntar - Ah sim, e como é?

- Olhe vou mascarado de futebolista - exclamou o presidente.

- De futebolista!? - o vice-presidente arregalava os olhos de espanto - E... e de que equipa?

- Ah isso não digo, o que lhe digo é que o equipamento terá como modelo as camisolas, os calções e as botas de futebol que se usavam há trinta anos. Sabe, meu caro, eu tenho imensas saudades do antigo Estádio Municipal, das bancadas descobertas onde se respirava o ar puro e então da pala na bancada central, onde já faltavam bocados mas que era linda, nem se fala. Tudo aquilo era de uma enorme beleza e grande  conforto. Que saudades. Olhe, eu sempre estive contra um estádio novo. Para mim, a verdadeira modernidade passa pelos centros comerciais. O actual estádio devia ter sido destruído há trinta anos!

O vice-presidente, constrangido, olhava sem saber bem o que dizer. A medo sussurrou - Mas, senhor presidente, o estádio só tem seis anos...

- Ora deixe-se lá de confusões com datas. Vamos, mas é, pensar nisto e, já agora, peço-lhe que não se esqueça de que um dos convidados de honra vai ser aquele nosso companheiro que media estádios com uma grua e punha publicidade nos camiões TIR com nomes antigos. A esse, pela sua experiência, vamos propor que organize um trem eléctrico - concluiu o presidente. 

O vice-presidente, preso de movimentos, não sabia o que pensar naquela fria manhã.

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

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