Sinceramente, não entendo a polémica suscitada com a ausência do Presidente da República no funeral de José Saramago. Estranha e polémica seria a sua presença.
Percebo que muitos daqueles que nele votaram e que o apoiam numa nova candidatura se sintam incomodados. Afinal não é todos os dias que temos um Prémio Nobel, numa das áreas de maior visibilidade mundial e consequentemente com mais impacto internacional e, que para mais, trabalhou com a nossa maior riqueza - a nossa língua. É por isso óbvio, para todos, que o seu desaparecimento devia provocar uma expressiva, inequívoca e exemplar reacção de pesar e de exaltação do seu mérito, por parte de todos os líderes políticos, particularmente daqueles que desempenham funções institucionais ao mais alto nível.
Mas o Presidente da República decretou e fez promulgar que estava de férias e que cumpriu com as normas protocolares, enviando uma mensagem de condolências e fazendo-se representar no funeral. A mais não era obrigado.
Não há, portanto, razões para qualquer polémica, as normas mínimas foram cumpridas e seria estultícia esperar mais do que isto. Uma atitude diferente não faz parte dos "roteiros presidenciais", nem se enquadra numa visão superior de grandeza de alma, generosidade e reconhecimento àqueles que se vão da lei da morte libertando.
Houve um sentir popular que se expressou e se não ouvimos umas trinta mil vozes a cantar o Coro dos Escravos Hebreus do Nabuco, como aconteceu em 1901, pelas ruas de Milão, no funeral de Verdi, não deixou de ser comovente o que aconteceu, assim como não deixou de ser simbólica a grande mensagem do líder do PP espanhol e que um dos mais conseguidos discursos tenha sido o da vice-presidente do Governo do Reino de Espanha.
O Presidente Cavaco Silva fez a sua avaliação do que escritor José Saramago representava e representou para o país e, por isso, não foi capaz de abdicar de umas horas das suas férias para estar no funeral.
Esta é a avaliação e a visão de um presidente sem rasgo e sem dimensão cultural, incapaz de perceber o essencial.
Não se lhe peça mais, foi Cavaco Silva em todo o seu esplendor - um presidente de serviços mínimos.
Um Presidente de serviços mínimos, com diminuto bom senso e detentor de uma intervenção cada vez mais ausente e desprovida de sentido de realidade!
ResponderEliminarFaltou sentido de Estado e sentido de portugalidade na postura deste Presidente, que afinal, não o é de todos os portugueses!