Uma das tarefas familiares que me está atribuída é a da escolha do melão. Acreditem que não é uma tarefa fácil. Chegado o momento, todos querem deliciar-se com uma talhada de melão maduro, gostoso e cheio de sol.
Por isso, no momento da compra, quando enfrento aquele amontoado de melões, apuro os sentidos, olho a casca mais ou menos rugosa, tento perceber o aroma, sopeso o visado, apalpo-o e aperto-o e depois lá parto, com a alma apertada de desconfiança, para a pesagem. Sei que vai ali muita da minha credibilidade familiar e o medo de ouvir, no momento solene da prova, aquela afirmação que destrói qualquer reputação: "É pepino".
Da última vez que me abalancei - obviamente obrigado - na escolha, quando coloquei o melão na balança resolvi, para testar a escolha, dizer à pessoa que me atendia: "Espero que esteja capaz de comer hoje!?".
Como resposta, numa afirmação de categórica cientificidade, foi-me dito com a bonomia e a tolerância que se tem para com os ignorantes: "É capaz de estar um bocado verde. Não tem o cu seco!".
Sinceramente, eu nunca tinha ligado atenção ao "cu dos melões", era um pormenor que me faltava e, por isso, lá voltei para trás e recomecei a escolha, agora com mais um elemento de avaliação.
Tendo repetido todos os anteriores trâmites e mais este último, escolhi um novo exemplar que mereceu a aprovação da vendedora.
Chegado o momento fatal e perante a angustia que invade o escolhedor, quando o melão foi aberto e provado, a frase que se ouviu foi: "É Bom!"
Passado o momento e com o peito cheio de ar, orgulhoso pela capacidade demonstrada de uma escolha acertada, unanimemente reconhecida, lancei-me a uma talhada e enquanto a comia lembrei-me, não sei porquê, que há um candidato presidencial que, seguindo a técnica da escolha dos melões, eu não escolheria. Falta-lhe peso, aroma e uma coisa muito importante - não tem o cu seco. Está muito verde.
Pensem bem e vejam se não é verdade!?
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