terça-feira, 5 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA

- Senhor presidente trago aqui um dossier sobre a elaboração de um plano anticorrupção para a Câmara, que gostava de ver com V. Ex.ª - disse o vereador quando, com um ar decidido, entrava no gabinete do presidente.
- Ora ainda bem que se lembrou desse assunto que já me andava a preocupar há tanto tempo.  Como sabe  uma  das características dos meus mandatos é a de fazermos planos, por isso, meu caro vereador, vamos a isso! - atirou o presidente.
- Sendo assim, senhor presidente, trago aqui um conjunto de orientações e vamos encarregar os  técnicos de começarem, com urgência, o trabalho - respondeu o vereador.
- Mas, meu caro vereador, não se precipite, isso é um trabalho especial, no meu entendimento temos de recorrer a alguém de fora da Câmara para fazer o plano. É verdade que temos muitos técnicos mas tem de concordar que tem outro impacto se o plano for feito por uma entidade externa.
- Mas, senhor presidente, isso vai custar caro e levar bastante tempo. Temos de preparar e abrir um concurso, há regras e prazos a cumprir e o dinheiro é pouco.
- Não se preocupe, meu caro, fazemos um concurso à medida de alguém ou de alguma empresa que a gente conheça, de gente amiga, e um dia lá se pagará - respondeu o presidente.
- Estupefacto o vereador balbuciou - Mas, senhor presidente, o plano não se destina a evitar procedimentos desse género!?
- Olhe, meu caro, ando cheio de problemas, então não sabe que eu tenho buracos na memória - retorquiu o presidente.
- Buracos na memória!? Não sabia, senhor presidente, e desde quando é que tem isso?
- Desde quando tenho o quê, meu caro?
O vereador saiu do gabinete vergado, com o dossier.

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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