A esquerda tem o salutar hábito de se discutir e questionar. A direita tem o ancestral hábito de se governar.
Quando nos confrontamos com uma, por todos reconhecida, grave crise económica - que já transbordou de forma dura para o campo social -, gerada no seio da actividade financeira, encontramos a esquerda a discutir e a equacionar soluções, mais ou menos pragmáticas e mais ou menos realistas, e a direita a trabalhar no silêncio.
Numa análise concreta - sem demagogias, nem afirmações panfletárias -, o que se conhece nestes momentos de aflição, sofrimento, desemprego e destruição humana é que a Bolsa tem excelentes resultados, os Bancos excelentes resultados e as grandes empresas excelentes resultados.
"Grandes gestores" são contratados a peso de ouro para salvar empresas, em que se limitam a aplicar as receitas
salvíficas que passam pelo cardápio tecnocrático do despedimento e da deslocalização em busca
de maior produção com menores salários.
Quantas empresas na aproveitaram a crise para, com os seus lucros fabulosos, despedirem trabalhadores qualificados de escalões mais elevados para depois contratar jovens de forma desregulada, garantindo com isso lucros imediatos e garantia de maiores lucros futuros?!
A desvalorização do trabalho e a apologia da ganância têm sido os elementos estruturantes da visão accionista que governa as empresas e que tende a perpetuar-se, sem regulação capaz.
A esquerda fala nisto, arranhado-se, contudo, num tacticismo confrangedor, e desgastando-se em mútuas acusações. A direita não, vai trabalhando, calada. Ninguém os ouve. Alguns dos seus "grandes teóricos" fizeram férias sabáticas no discurso público mas vão utilizando as suas energias a trabalhar na recomposição acelerada da situação que nos trouxe ao actual descalabro.
Neste quadro já de si dramático o grande problema é que nas questões económicas, contrariamente ao que acontece com a direita, há mais colaboracionistas à esquerda.
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