segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A RTE DA PRUDÊNCIA - 19

Não começar nada com demasiadas expectativas.

É um engano frequente ver que tudo o que recebe muitos elogios antes de iniciado não atinge depois a altura esperada. O real nunca consegue igualar o imaginado, porque imaginar as perfeições é fácil, mas é muito mais difícil consegui-las. A imaginação casa-se com o desejo, idealizando muito para além do que as coisas são. Por grandes que sejam as excelências, não chegam para satisfazer o idealizado. Ao imaginar as excelências com uma expectativa exorbitante, decepcionam mais do que entusiasmam. A esperança é uma grande falsificadora da verdade. A cordura deve refreá-la, procurando que o desfrute do real supere o desejado do imaginário. Os começos honrados servem para despertar a curiosidade, e não para comprometer o propósito final. É melhor quando a realidade supera a ideia prévia e é mais do que se imaginou. Esta regra não se aplica àquilo que é mau, pois o próprio exagero o ajuda: a realidade desmente com aplauso a imaginação, chegando a parecer tolerável o que a príncipio se temeu por muito ruim.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

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