segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - IV

O presidente agarrou no telefone e disse à secretária - Diga à senhora vereadora para vir ao meu gabinete.

Qual das vereadoras, senhor presidente? - perguntou a secretária.

- Ah! A vereadora dos polícias - respondeu o presidente, num tom confuso.

Chegada a vereadora, depois de ter aguardado algum tempo e dos habituais beijos de cumprimentos, o presidente dirigiu-se à janela, espreitou e começou  - Estou muito preocupado com a situação da Polícia. É verdade que quando venho de casa pela Ferreira Borges e pela Visconde da Luz não encontro engarrafamentos nem estacionamentos em segunda fila, aliás cada vez encontro menos gente, mas leio e oiço tantas criticas que... As coisas não vão bem. Vai ter de agarrar no problema.

- Também tenho andado muito preocupada, senhor presidente, - começou a vereadora - e agora que parecia que tudo estava bem encaminhado volta a haver problemas com o concurso para comandante.

- Pois é, incompetência vossa -  atalhou o presidente.

- Senhor presidente, minha não, é um processo que já vinha de trás e que tem a ver com o júri do concurso - respondeu a vereadora.

- Senhora vereadora, não queira fugir já às responsabilidades, olhe que por essas e por outras é que já por aqui passou uma jovem vereadora a quem tive de retirar funções, por deslealdade. Portanto, exijo-lhe solidariedade e se o júri fez asneira é porque foi incompetente. Eu só lhes disse quem queria e eles é que não souberam fazer convenientemente as coisas, mas adiante...- disse o presidente de sobrolho carregado, e continuou - Um dia destes vou visitar o quartel e passar revista aos agentes e queria que me apresentasse um plano de formação do pessoal.

- Com certeza, senhor presidente - respondeu a vereadora, um pouco confusa e angustiada, e acrescentou - Haverá alguma matéria que gostasse de ver tratada de forma especial.

- Olhe, minha cara, eu aprecio muito os filmes da série "Academia de Polícia" e acho que são um bom exemplo para a nossa Polícia - esclareceu firme o presidente. Mas - acrescentou - investigue, também, se não haverá por lá algum agente infiltrado. Há dias vi aquele filme "Entre inimigos" e fiquei a pensar se não haverá por ali coisa parecida.

- Mas, senhor presidente, as coisas não têm comparação - disse, de forma mais descontraída, a vereadora.

- Lá está a senhora a facilitar. Veja com atenção e, mais uma coisa, não se esqueça, eu quero ver o canhão.

A vereadora, que já se tinha levantado e preparava para despedir, ficou paralisada, e passado alguns eternos segundos atreveu-se: - O canhão!?

- Sim, o canhão. Nós comprámos um canhão para a inauguração do Estádio Sérgio Conceição. Espero que esteja operacional e que saibam manobrá-lo convenientemente. Não se esqueça.

A vereadora dirigiu-se para a porta e de tão confusa até se esqueceu de despedir do presidente.

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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