terça-feira, 26 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA – V

A vereadora estava confusa e não sabia como abordar o problema, mas…, respirou fundo e dirigiu-se ao gabinete do presidente.

- Então senhora vereadora – atirou o presidente – continuamos com problemas com os motoristas. Dizem que eu lhes prometi coisas. Não me lembro de nada. Eu sei que não é nada consigo, mas tenho de desabafar com alguém e a senhora melhor do que ninguém sabe destas coisas do pessoal. São os chatos. Em campanha há sempre uns que dizem que nos apoiam e a quem a gente não pode dizer que não, depois, em vez de se esquecerem, como eu faço, lá vêm com aquelas lembranças…

- Pois é, senhor presidente, as questões do pessoal são muito melindrosas e quase sempre são os “nossos” que mais problemas nos levantam. Julgamos que está tudo bem e de repente resolvem inventar umas coisas para complicar. Por falar nisso eu…

- Não me venha com problemas hoje, atalhou o presidente, isto tem andado sossegado nos jornais. Só há crimes onde não há câmaras instaladas e agora vai haver umas eleições na oposição o que os vai entreter uns tempos. Devíamos aproveitar para umas férias.

- Mas, senhor presidente, vai-me desculpar mas tenho de o incomodar com uma questão. É uma questão nova, que não sei como resolver.

- Diga lá então – suspirou o presidente.

- Bem, acabei de receber um pedido. É um pedido especial e eu não sei bem como decidir. Veja, recebi este requerimento de um jornalista a pedir para poder trabalhar embedded na Polícia Municipal. Ora eu fui ao dicionário e fiquei a saber que embedded queria dizer “na cama com” o que me deixou confusa. Nunca tal… um pedido desta natureza…

- Dum jornalista… bem isso é suspeito, muito suspeito… Peça aí para me ligarem ao vice-presidente.

Feita a ligação o vice-presidente foi confrontado com o pedido de ajuda e análise da pretensão e, com a sua simpatia titubeante, começou por responder – O senhor presidente não está a brincar comigo!? É que na guerra do Iraque é que os americanos usaram essa técnica de “introduzir” os jornalistas nas unidades militares operacionais para presenciarem os acontecimentos e darem as notícias.

- Obrigado. Então está explicado, senhora vereadora, temos aí alguém que quer introduzir-se na Polícia Municipal para assistir às operações de combate – disse, com olhar presidencial, o presidente.

- Mas, senhor presidente, isso é inaceitável. Vou já dizer que não, até porque com tantos processos nem há espaço para mais camas. Olha que ideia – exclamou irada a vereadora.

- Calma, minha cara, as coisas não podem ser assim tratadas, estamos a falar de jornalistas – disse pausadamente o presidente e acrescentou – Vamos responder, dizendo que teríamos muito gosto na presença do senhor jornalista a dormir na camarata dos agentes mas não temos espaço para mais camas e que para resolver o problema eu darei uma conferência de imprensa semanal sobre a Polícia Municipal.

- Mas, senhor presidente, acha que chega uma conferência de imprensa semanal – interrogou a vereadora.

O presidente disse um contido – Continuação de um bom dia – e recomeçou a ler o jornal.

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

1 comentário: