segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

COIMBRA E A SÍNDROME DE BROWN-SÉQUARD

A política nacional é alvo de análise e de comentários permanentes, a todos os níveis. Não há quem não elabore cenários e fale ou escreva, com grande segurança e convicção, sobre políticas que de uma penada salvarão para sempre o país, e quem não conheça todas as incompetências e sinistros objectivos dos políticos nacionais.

Contrariamente, a política local é muito menos inspiradora e motivadora o que coloca o interessante problema de ver que a proximidade com os actores políticos é inibidora da crítica e/ou do comentário e que as políticas, que de forma determinante condicionam o quotidiano, tomadas pelo governo local, são muito menos questionadas, comentadas e criticadas.

É recorrente o xiste ou a acusação violenta a um qualquer primeiro-ministro, ministro ou dirigente político nacional enquanto se nota um "respeitinho", por vezes suspeito, perante a nítida incompetência de um político local. Há como que uma escala em que a violência da critica ou da acusação é inversamente proporcional à "localização" territorial do político.

A proximidade, que dá o conhecimento concreto e exacto da acção política é, surpreendentemente, castradora de uma expressão útil a uma democracia mais participativa. Por que será?

Aliás, também se nota a atribuição de uma hierarquia de inteligência política e de relevância mediática em função dos alvos da escrita ou do comentário. Quem escreve sobre a vida local é um "bárbaro" e provinciano, incapaz do alto pensamento sobre a salvação da pátria. Quem se pronuncia, mesmo que replicando ideias de outros, sobre a política nacional é alguém de estatuto firme e superior.

E, no caso do conteúdo da análise passa-se o mesmo. Veja-se a facilidade com que se fala do Orçamento do Estado e das críticas e comentários que se fazem sem tão pouco ser conhecido, e da ausência de análise e comentário sobre os orçamentos municipais ou das freguesias que vão formatar de forma determinante o desenvolvimento local.

Uma das criticas que alguns amigos me fazem, ainda que amavelmente, é a de me preocupar excessivamente com a política local e de ser muito crítico da política da Câmara e particularmente do seu presidente. Para alguns sou mesmo demasiado assertivo e excessivo. Devo confessar que são mais os que me fazem esta critica do que aqueles que contestam as minhas criticas. O que não é mau, devo dizê-lo.

Uma coisa é certa, ser excessivo em nome de ideias e na defesa dos interesses da minha cidade, não me traz qualquer desconforto, o que não sei se acontecerá àqueles que se calam por medo ou compromissos invisíveis.

Parece que Coimbra sofre de uma espécie de doença política, que clinicamente - e peço desculpas aos profissionais de saúde por me meter por estes caminhos - é equivalente à síndrome de Brown-Séquard que é uma síndrome neurológica devida a lesão da parte direita ou esquerda da espinal medula, caracterizada por paralisia e perda de sensibilidade articular e muscular do lado da lesão e, por perda da sensibilidade da pele à temperatura e à dor do lado oposto à lesão.

Será que não é assim?

1 comentário:

  1. Armando-me em intelectual de capoeira, para me socorrer onde quero chegar, vou citar Hannah Arendt (1906-1975) que diz o seguinte: "a contigência da liberdade humana é a crise real que hoje vivemos: trata-se de uma crise que não podemos evitar, e a única questão que faz sentido pormos a seu propósito é a de sabermos se a nossa liberdade nos agrada ou não, se estamos ou não dispostos a pagar o seu preço".
    O que quero dizer com isto? É que todos falam em Liberdade (com maiúscula), mas no fundo, verdadeiramente, poucos estão dispostos a pagar o seu preço, dando a cara para defender as pequenas liberdades que consumimos todos os dias. Em suma: estou parcialmente de acordo consigo. Só os loucos -de loucura sã- ousam declarar o que pensam. O amigo -se permite o trato de afinidade- é um deles.
    Abraço.
    Luís Fernandes
    (www.questoesnacionais.blogspot.com)

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