sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO

O Comandante entrou na sala de operações e com o seu olhar distante varreu os ecrãs e as imagens que as 17 câmaras debitavam. Limpou os óculos.

O Agente de serviço cumprimentou, sem desviar o olhar profissional dos ecrãs, e disse, antecipando-se à pergunta: Tudo calmo.

O Comandante sem demonstrar a sua desilusão sentou-se: Vou ficar um bocado. Alguma coisa me diz que vamos ter surpresas.

Não tardou que numa das câmaras aparecesse a imagem de alguém apressado que se colocou à frente de uma montra numa atitude de curiosidade. O Agente disparou de imediato: Vou aproximar a imagem. Há aqui qualquer coisa de suspeito!

O Comandante aproximou-se e os dois tentaram perceber se era aquele o momento tão esperado de gravar para identificação o primeiro assaltante. Passados alguns momentos e com a aproximação das imagens tiveram um suspiro de desilusão. Afinal era alguém que procurava saber qual era a Farmácia de serviço.

Ainda era cedo, pouco passava das 21 horas, a noite ia ser longa ou talvez não.

Passados alguns instantes há uma imagem familiar que aparece num dos ecrãs. O Comandante ordena, com firmeza: Aproxime aquela imagem. Mais, um pouco mais!

E, de seguida, sorriu e exclamou: Olha é o Jorge. Deve ter vindo à rua da Sabedoria. Só espero que não se tenha enganado na porta. São as duas quase juntas. Bom rapaz, aquele Jorge. O jeito que ele me deu. Tenho pena de não poder continuara a contar com ele. Até nadámos juntos, não me esqueço disso.

Passados alguns minutos a atenção é atraída para uma outra figura conhecida. O Agente chamou a atenção: Comandante já viu quem ali vai?! É o nosso Deputado. Olhe, parou na Portagem. É capaz de estar a ver se há autocarros a circular.

Engraçado este Victor, disse o Comandante. Já tenho saudades dele. Para mais quando vamos discutir o Orçamento. Aquilo era uma confusão. O que eu me divertia.

O Comandante tem tido muita sorte, disse o Agente.

Ia-se entrando pela noite e nada de criminalmente relevante. Nem assaltos, nem destruição de bens, nada... O que assustava era o vazio.

Finalmente, mais alguém conhecido. O Comandante cerrou os dentes mas escondeu a tensão. O que é que andará o Pina a fazer por ali àquelas horas, interrogou-se silenciosamente.

O Agente pareceu adivinhar o pensamento e disse: Sabe Comandante desconfio que ele vai ter com aquele músico que lhe andou a infernizar a campanha e que vão fazer uma serenata à frente da Loja do Cidadão. Vamos ter problemas com o barulho. Não será melhor colocar de prevenção uma equipa de intervenção rápida para os afastar dali. É que já passa das 22 horas e ainda vão acordar alguém. Há redes de ouvintes e podem-se criar sinergias preocupantes.
…….
Naquele momento o rádio/despertador tocou. O Comandante acordou do seu sonho de uma noite de inverno. Levantou-se. Foi à janela. Havia uma neblina cinzenta e pesada que envolvia a cidade. A locutora lia as notícias: “A greve dos motoristas dos SMTUCs paralisou a quase totalidade dos transportes públicos em Coimbra. Quem quer ir para o trabalho, naquela cidade, tem muita dificuldade nas deslocações e o comércio tradicional queixa-se amargamente das dificuldades que esta greve está a provocar.”

O Comandante foi tomar o seu duche e, com um breve sorriso, disse baixinho: Finalmente começaram o dia a falar de Coimbra.

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