segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CRISPAÇÃO DEMOCRÁTICA

É surpreendente o alarido político-mediático que por aí vai sobre: a governabilidade; as chantagens; as ameaças; o não diálogo e o diálogo; etc. A surpresa é sobretudo grande quando esse alarido e esbracejar de indignação vem de comentadores e políticos que fizeram toda uma campanha no sentido de conseguir que das últimas eleições legislativas resultasse exactamente o quadro político que temos.


Reconhecendo a inexistência de qualquer alternativa credível a um governo PS e ao seu "candidato" a primeiro-ministro José Sócrates, o que se ouviu foram anátemas às maiorias absolutas, e os insistentes apelos à derrota do PS e de Sócrates. É evidente que o PS já de há muito se tinha colocado a jeito e tinha demonstrado que não merecia voltar a ter uma nova maioria absoluta.


Com algumas surpresas, sobretudo no que toca aos resultados do BE e do CDS, o quadro político parlamentar corresponde ao que foi o grande desejo da maioria dos teorizadores e dos politicólogos que diariamente apregoavam a boa solução para o nosso futuro e  para a salvação do país.

Não parece, por isso, que haja agora motivo para tanta surpresa e indignação pelo  esplendor do actual Parlamento, pelos jogos partidários de bastidores ou pelas intervenções políticas diárias a que os media dão grande relevo. A Assembleia perfeita e o Governo perfeito então tão apregoados são os que aí estão e por isso nada melhor que pouparem-nos a exercícios de indignação hipócrita perante o que se está a passar. 


Era, por demais, evidente que haveria necessidade de um período de ajustamento politico num quadro totalmente novo e que o facto mais relevante estava e está numa maioria que não quer nem "pode" ser poder mas que quer e pode ter influência. Uma influência decisiva, dentro de certos limites, que ainda está a ser descoberta pelas diversas partes. 

As grandes questões que se colocam são as de saber quanto tempo ainda teremos de suportar tanta "crispação democrática", até que o período de ajustamento político seja concluído, e quando é que começamos a ver aparecer a grande política, aquela que nos aponta soluções para a grave crise que enfrentamos: a crise interna, paradigmática dum Portugal politicamente confuso e irresponsável.

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