domingo, 20 de dezembro de 2009

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 5

Tornar-se indispensável.

Não torna sagrada a imagem aquele que a pinta e enfeita, mas aquele que a adora. O sagaz prefere os que dele necessitam aos que lhe agradecem. A esperança cortês tem boa memória, mas o agradecimento vulgar tem fraca memória e é um erro confiar nele. Obtém-se mais pela dependência que pela cortesia; aquele que foi satisfeito volta imediatamente as costas à fonte, e a laranja espremida cai do ouro ao lodo; acabada a dependência acaba a correspondência, e com ela a estima. A primeira lição da experiência deve ser entreter, mas não satisfazer; assim se conserva sempre a dependência dos outros, mesmo a do rei. Porém, não se deve chegar ao excesso de calar para que se equivoquem, nem, para proveito próprio, provocar aos outros danos irreparáveis.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián 

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