terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DIÁLOGOS NA CÂMARA

- Senhor presidente - começou timidamente o vereador - nós não gostamos de jornalistas?
- Nós!..., nós adoramos jornalistas - respondeu com veemência o presidente e continuou - Por que é que diz isso? Nós temos, aliás, uma enorme consideração por toda a comunicação social que merece bem o nosso apoio quando diz bem de nós.
- Mas então por que é que votámos contra a presença da comunicação social nas reuniões da Câmara - perguntou confuso o vereador.
- Meu caro, então não vê que tomámos essa decisão por gostarmos dos jornalistas. Foi apenas e exclusivamente a pensar no seu bem. Foi para lhes facilitar o trabalho. Então não acha que é muito mais fácil eu dizer-lhes o que se passou e evitar que eles fiquem confusos com aqueles disparates que os vereadores da oposição dizem a respeito de tudo e de nada.
- Tem razão senhor presidente, mas sabe, eu imaginei que a Câmara teria um funcionamento mais transparente se os debates no Executivo fossem assistidos pela comunicação social e os munícipes tivessem oportunidade de conhecer as diversas opiniões daqueles que elegeram - disse contristado o vereador.
- Disparate, meu caro, isso são tretas. Eu é que sei como é desagradável ouvir opiniões contrárias e perguntas sem resposta. Assim isto vai funcionar muito melhor. Ainda me lembro o que aconteceu nos anteriores mandatos em que as reuniões pareciam uma ópera-bufa, sabe, daquelas do Offenbach. Cada semana me lembrava de Les Brigands. Agora vai ser um sossego.
- Mas... senhor presidente, os cidadãos não vão ficar menos informados e  esclarecidos desta forma - insistiu timidamente o vereador.
- Você tem cada uma - ripostou o presidente. Mas para que é que eles têm necessidade de estar melhor informados ou de serem melhores esclarecidos. Não vê o esforço, as dúvidas e o cansaço que isso lhes provoca. Eu quero que os habitantes do meu concelho sejam felizes e para isso nada melhor do que a ignorância. Temos de evitar dissabores às pessoas. E depois, meu caro vereador, se os cidadãos estiverem esclarecidos será que não vão começar a pensar se foi boa ideia votar em nós. E, já pensou o que pode acontecer em futuras eleições. Temos de actuar quanto antes para que tudo vá correndo bem. Esta é uma questão política elementar. Ah, e já agora, nada de declarações públicas. Quando houver alguma desgraça, isso sim, pode explicar aos jornalistas que a Câmara não teve nada a ver com isso, que a culpa é do governo e dos astros, mas, não se esqueça, se for um esclarecimento sobre um acontecimento positivo isso é comigo. Só eu é que sei o que se faz de bom nesta cidade e só eu é que sei informar devidamente os jornalistas. 
O vereador, via-se, estava confuso e o presidente notou-o, e então resolveu, para o animar, contar-lhe aquela velha história de cientistas e perguntou ao vereador - Conhece a história da pulga? 
Não senhor presidente - respondeu desconcertado o vereador.
- Olhe - começou o presidente - Um cientista examina uma pulga pousada perto dele e ordena-lhe: "Salta!" e a pulga salta. O cientista escreve num a folha de papel: "Quando se manda uma pulga saltar, ela salta." Então agarra delicadamente a pulga e arranca-lhe as patas, coloca-a no mesmo sítio e ordena-lhe: "Salta!". A pulga não se mexe  e o cientista volta à folha de papel e anota: "Quando se arranca as patas a uma pulga, ela fica surda."
O vereador ficou "esmagado", levantou-se, despediu-se - Bom dia senhor presidente - e saiu do gabinete.


Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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