PP e MFL encontraram-se numa pastelaria das avenidas novas e escolheram uma mesa situada estrategicamente - num recanto, o menos visível possível.
Evitando olhar para o empregado pediram um garoto e um galão, respectivamente, e uma torrada para dividirem. Diga-se, em abono da verdade, que o empregado também evitou olhar para PP, porque este se tinha transformado num verdadeiro mito urbano - havia quem dissesse que ele sugava o sangue dos adversários políticos, particularmente dos companheiros do seu próprio partido.
MFL começou por manifestar o seu desconforto por aquele encontro. Já não liderava nada e a conversa podia muito bem ter sido telefónica. Mas PP contrapôs, com vastos e escatológicos argumentos, que havia um património de luta pela verdade que não podia ser alienado e que pelo conhecimento que tinha sobre escutas não era seguro que a conversa telefónica não pudesse vir a ser gravada.
Acrescentou, ainda, PP que, mesmo ali, deveriam ter cuidado e por isso propôs que adoptassem um nome de código para enquadrar aquele encontro: "Operação Nautilus". Como MFL devia saber, acrescentou PP, Nautilus era o nome atribuído a um submarino, por Júlio Verne na sua obra "Vinte Mil Léguas Submarinas", que foi publicada em 1870 e que...
Nesta altura MFL interrompeu, inquieta, e pediu a PP que dissesse afinal o que pretendia com essa tal "Operação Nautilus". PP começou então a desenvolver um longa e elaborada teoria em que defendia a necessidade do partido avançar com uma Comissão de Inquérito sobre os submarinos, porque ele estava certo e seguro - aqui não havia ponta de dúvida - que o primeiro-ministro sabia do contrato e que por isso ele tinha de ser chamado à Assembleia para confirmar esse conhecimento. Mais, que conhecia a cor dos submarinos; que não se opunha às grandes obras públicas, que teriam de ser pagas pelas futuras gerações, como era o caso; e que tinha autorizado que os submarinos tivessem um periscópio que permitia espiar tudo, até a comunicação social...
MFL, esboçando um sorriso - atitude pouco vulgar - concordou plenamente. Não havia dúvidas desta vez Sócrates não tinha por onde fugir. Iria ser confrontado com a verdade e não podia fugir. Aliás, lembrou mesmo que se fosse necessário pedir-se-ia ao Paulo que emprestasse alguns dos milhares de documentos que fotocopiou quando foi ministro e onde constava tudo sobre a política de defesa.
Foi um momento de uma enorme e sintonizada felicidade. Ali estava a conciliação de duas práticas políticas consequentes - a de MFL pela verdade e contra o endividamento externo e a de PP que vivia para atacar Sócrates por terra, mar e ar.
Tratava-se agora, tão só, de estabelecer uma estratégia adequada que levasse o novo líder do seu partido a assumir a respectiva proposta de inquérito.
Para PP a primeira iniciativa seria a de enviar-lhe o livro de Júlio Verne, porque temia que ele não conhecesse nem a obra, nem o
autor, nada...
Neste momento, um dos clientes da pastelaria ao reconhecer aquelas duas ilustre figuras políticas, dirigiu-se-lhes, cumprimentou-os, pediu desculpa por interromper e pediu que lhe confirmassem se era verdade o que se dizia sobre a compra dos submarinos dado que tinha sido feita por um governo do partido a que eles pertenciam.
PP, sério como sempre, respondeu de imediato que não tinham ali elementos que permitissem responder e que poderia encontrar resposta na obra de Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, cuja leitura recomendava vivamente.
MFL e PP levantaram-se e preparam-se para sair, não sem que antes tivessem comprado, para disfarçar, uma bola de Berlim e um barquinho de chocolate.
Despediram-se, por entre um piscar de olho conivente, com PP a prometer que iria escrever um artigo contundente e definitivo sobre o assunto e MFL a anunciar que iria dar uma volta até Belém para espairecer e ver a entrada da barra.
Estava iniciada a "Operação Nautilus".
Nota: Como é compreensível - razões de confidencialidade - os nomes dos intervenientes está abreviado, mas vão ver que a operação está em curso.
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