terça-feira, 20 de abril de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - XV

O vice-presidente aguardava, ansioso, para falar com o presidente. A questão era velha e ele gostava de a resolver até porque também estavam em causa as suas ambições políticas.

- Bom dia, meu caro, hoje parece-me um pouco nervoso. Olhe eu também estou um bocado angustiado - disse o presidente.

- Pois é, senhor presidente, estou preocupado porque queria resolver aquela questão dos terrenos para os Bombeiros e não há maneira - respondeu o vice-presidente que, apesar da sua proverbial boa educação, até se esqueceu de cumprimentar o presidente.

- Não me diga que é isso que o preocupa - atalhou rápido o presidente e acrescentou - ainda bem que o problema não está resolvido.

O vice-presidente nem queria acreditar no que estava a ouvir. Depois de nove anos de promessas e de sucessivas alterações não percebia como é que o presidente lhe dizia agora aquilo e, confuso, perguntou - O senhor presidente está a falar a sério?

- Claro que estou a falar a sério. Então veja, já alterámos o local para que não ficassem junto ao rio, porque o quartel podia ser inundado agora veja o que seria se o quartel fosse construído num lugar alto como tem vindo a ser falado - respondeu o presidente.

- Sinceramente não entendo qual é o problema, senhor presidente - quase exclamou o vice-presidente.

- Calma, então não vê o perigo de o quartel ser construído num alto e de repente ser envolvido pelas cinzas de um vulcão. Era uma desgraça, não acha!? - acrescentou o presidente.

- Mas, senhor presidente, com todo o respeito, isso parece-me absurdo - atreveu-se o vice-presidente.

- Pois é, meu caro. É por essas e por outras que vocês nunca serão grandes políticos. Vá, calmamente, e escreva um cartão simpático à Direcção dos Bombeiros dizendo-lhes que vamos ter de apreciar de novo a questão dos terrenos porque não podemos construir o novo quartel numa zona de risco, por exemplo, temos de ter em atenção se não haverá perigo de ser construído num sítio susceptível de ser envolvido pelas cinzas do Eyjafjallajokull, o que seria uma desgraça - ensinou o presidente.

O vice-presidente pensou, mais uma vez, para com os seus botões, que a realidade ultrapassa frequentemente a ficção e antes de sair pediu - O senhor presidente não se importa de escrever o nome do vulcão...

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

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