segunda-feira, 31 de maio de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 55


Saber esperar.

Fazê-lo demonstra um grande coração, com maior capacidade de sofrimento. Nunca se apressar, nunca se apaixonar. Se somos senhores de nós próprios, sê-lo-emos, depois, dos outros. É preciso caminhar pelos espaços abertos do tempo até ao centro da ocasião oportuna. A espera prudente aperfeiçoa os acertos e amadurece os pensamentos secretos. A muleta do tempo é mais útil que o pau aguçado de Hércules. O próprio Deus não castiga com bastão, mas com oportunidade, com tempo. É uma grande máxima: "O tempo e eu, a outros dois". A própria Fortuna recompensa a espera com um grande galardão.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sexta-feira, 28 de maio de 2010

TEMPO UM BEM FUNDAMENTAL


Há quem afirme que o PS perdeu, nos últimos quinze dias, as próximas eleições legislativas. 

Houve, sem dúvidas, demasiados problemas e confusões que revelaram uma desorientação traumática a nível governamental, contudo o PS tem um trunfo que não pode desperdiçar: tempo.

Tem tempo para serenar e corrigir o método do discurso, para rever políticas e sobretudo para corrigir baptistisses*.

Se conseguir fazer isto talvez o PS não tenha perdido as eleições nos últimos quinze dias, porque aprendeu. 

*Neologismo com origem em Coimbra. 

A VITÓRIA DE ALEGRE


O respeito intelectual que é devido a Vital Moreira justifica que se acredite na bondade da afirmação, com que termina um post, sob o título Alegre, no blogue Causa Nossa: "Dito por quem é, isto pode parecer cinismo, mas não é: nas circunstâncias, Alegre é o melhor candidato que o PS poderia ter."

Sendo um reconhecimento tardio é também um reconhecimento difícil e perverso dado que se sustenta num PS agrilhoado e apresenta um Alegre perdedor, visão com que é legitimo discordar.

Primeiro, o PS não está condenado a apoiar Alegre. Haverá militantes e particularmente alguns dirigentes que se poderão apresentar como "condenados", por incapacidade própria ou falta de coragem, mas não o PS enquanto partido.

Depois, Alegre não está derrotado à partida. Vital Moreira era um vencedor à partida nas últimas eleições europeias e acabou por ser derrotado, por isso a sua avaliação não se sustenta em qualquer argumento de autoridade ou análise objectiva, aparecendo antes como um desejo próprio e de alguns que, comungando dele, não têm coragem de o dizer.

Se há alguém à esquerda que pode ganhar as próximas presidenciais é Manuel Alegre, por múltiplas razões, até pela contestação de alguns e o não apoio de outros.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 54

Ter coragem e prudência.

Até as lebres se atrevem com o leão morto. Com a coragem não se brinca. Se se cede à primeira, também terá de ceder-se à segunda, e assim por diante até ao fim. A mesma dificuldade terá de ser vencida mais tarde: mais vale fazê-lo agora. A coragem do espírito é superior à do corpo. É como a espada: deve estar sempre embainhada na sua prudência até o momento oportuno. É a defesa da pessoa. Maior dano causa a fraqueza do espírito que a do corpo. Muitos possuíram qualidades eminentes, mas, por lhes faltar este alento, pareciam mortos e acabaram sepultados na sua debilidade. Não foi por acaso que a natureza solícita juntou a doçura do mel com o picante ferrão da abelha. Nervos e ossos tem o corpo: que não seja o espírito todo brandura.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 26 de maio de 2010

UMA ECONOMIA RESILIENTE NUM PAÍS MACGYVER?


Há uns tempos o Ministro das Finanças afirmou publicamente que, neste momento de crise, a nossa economia tinha demonstrado uma grande resiliência.

Como o tenho por um homem competente e sério, que não diz coisas à toa, fiquei a saber que a nossa economia estava a reagir bem à "má sorte" que abalava a economia mundial, que demonstrava elasticidade,  capacidade de recobro e de rápida recuperação e adaptação, num contexto de grande indefinição e turbulência.

Depois daquele dia ainda ouvi o primeiro-ministro usar o mesmo termo - um conceito da física mas usado na psicologia e no mundo dos negócios - tendo ficado convencido de que havia finalmente uma perspectiva de retorno a "alguma normalidade" económica e financeira.

Contudo, passadas algumas semanas parece-me ter-mos chegado a um intrigante ponto de incerteza - porque nos confrontamos com um quadro de total irracionalidade - em que não se percebe se vamos cair no descalabro absoluto ou se está em curso uma inversão sustentada da situação graças à tal resiliência económica.

Esta dúvida, sustentada fortemente no facto de todos os dias vermos desmentidas na prática as afirmações da véspera e não tendo o hábito colectivo da reflexão, da procura prospectiva de soluções e de planeamento e organização, leva ao sentimento de que a salvação parece estar cada vez mais no aprofundamento das nossas tão apregoadas características idiossincráticas - o desenrascanço -, e, como tal, que os problemas se resolvem com soluções tipo MacGyver.

Ora, as crises são importantes janelas de oportunidade para realizar mudanças e transformações, implicando, contudo, a consciência colectiva de que é preciso mudar de vida e não é possível continuar no caminho até agora trilhado.

Assim sendo, este seria um importante momento de transformação mudança que exigiria, no entanto, duas coisas: primeiro, uma forte liderança política - entendendo-se que uma liderança forte é uma liderança ética; segundo, que a generalidade dos políticos com efectivas responsabilidades executivas soubessem andar de bicicleta, isto é, que tivessem a capacidade de "pedalar" olhando para a frente, de cabeça levantada, e não aos ziguezagues preocupados com os pedais.

Não parece que seja pedir muito, mas no nosso país talvez seja pedir o impossível, tanto mais que há precisamente um combate político assente na descredibilização ética dos principais protagonistas e, a nível geral, há uma sensação de que o exercício político assenta em duas fotografias mensais nos jornais e três promessas semanais aos crédulos "clientes" que integram o respectivo sindicato de voto.

Aqui chegado fico-me com a dúvida de saber se mais do que uma economia este é um país resiliente e, sobretudo, se será possível transformar este país "soluções MacGyver", num país sólido, económica, social e politicamente desenvolvido e equilibrado.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 53

 
Ser diligente e inteligente.

A diligência faz com rapidez aquilo que a inteligência pensou com calma. A pressa é uma paixão dos néscios: como não descobrem o fim, agem sem atenção. Pelo contrário, os sábios costumam pecar por lentos, pois um olhar atento requer contenção. Às vezes uma observação acertada é gorada por negligência no agir. A diligência é a mãe do êxito. Muito alcançou quem não deixou nada para o dia seguinte. Correr devagar é o augusto lema.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

segunda-feira, 24 de maio de 2010

CE QUE SERAIT "MA" GAUCHE - EDGAR MORIN

O jornal Le Monde publica, hoje, um artigo de Egar Morin sob o título "Ce que serait "ma" gauche", que merece leitura e reflexão e que por isso aqui o transcrevo:

"La gauche. J'ai toujours répugné ce  la unificateur qui occulte les différences, les oppositions, et les conflits. Car la gauche est une notion complexe, dans le sens où ce terme comporte en lui, unité, concurrences et antagonismes. L'unité, elle est dans ses sources : l'aspiration à un monde meilleur, l'émancipation des opprimés, exploités, humiliés, offensés, l'universalité des droits de l'homme et de la femme. Ces sources, activées par la pensée humaniste, par les idées de la Révolution française et par la tradition républicaine, ont irrigué au XIXe siècle la pensée socialiste, la pensée communiste, la pensée libertaire.

Le mot "libertaire" se centre sur l'autonomie des individus et des groupes, le mot "socialiste" sur l'amélioration de la société, le mot "communiste" sur la nécessité de la communauté fraternelle entre les humains. Mais les courants libertaires, socialistes, communistes sont devenus concurrents. Ces courants se sont trouvés aussi en antagonismes, dont certains sont devenus mortifères, depuis l'écrasement par un gouvernement social-démocrate allemand de la révolte spartakiste, jusqu'à l'élimination par le communisme soviétique des socialistes et anarchistes.

Les fronts populaires, les unions de la Résistance n'ont été que des moments éphémères. Et après la victoire socialiste de 1981, un baiser de la mort, dont François Mitterrand a été l'habilissime stratège, a asphyxié le Parti communiste.

Voilà pourquoi j'ai toujours combattu le la sclérosant et menteur de la gauche, tout en reconnaissant l'unité des sources et aspirations. Les aspirations à un monde meilleur se sont toujours fondées sur l'oeuvre de penseurs. Les Lumières de Voltaire et Diderot, jointes aux idées antagonistes de Rousseau, ont irrigué 1789. Marx a été le penseur formidable qui a inspiré à la fois la social-démocratie et le communisme, jusqu'à ce que la social-démocratie devienne réformiste. Proudhon a été l'inspirateur d'un socialisme non marxiste. Bakounine et Kropotkine ont été les inspirateurs des courants libertaires.

Ces auteurs nous sont nécessaires mais insuffisants pour penser notre monde. Nous sommes sommés d'entreprendre un gigantesque effort de repensée, qui puisse intégrer les innombrables connaissances dispersées et compartimentées, pour considérer notre situation et notre devenir dans notre Univers, dans la biosphère, dans notre Histoire.

Il faut penser notre ère planétaire qui a pris forme de globalisation dans l'unification techno-économique qui se développe à partir des années 1990. Le vaisseau spatial Terre est propulsé à une vitesse vertigineuse par les quatre moteurs incontrôlés science-technique-économie-profit. Cette course nous mène vers des périls croissants : turbulences crisiques et critiques d'une économie capitaliste déchaînée, dégradation de la biosphère qui est notre milieu vital, convulsions belliqueuses croissantes coïncidant avec la multiplication des armes de destruction massive, tous ces périls s'entre-développant les uns les autres.

Nous devons considérer que nous sommes présentement dans une phase régressive de notre histoire. Le "collapse" du communisme, qui fut une religion de salut terrestre, a été suivi par le retour irruptif des religions de salut céleste ; des nationalismes endormis sont entrés en virulence, des aspirations ethno-religieuses, pour accéder à l'Etat-nation, ont déclenché des guerres de sécession.

Considérons la grande régression européenne. D'abord relativisons-la, car ce fut un grand progrès que l'émancipation des nations soumises à l'URSS. Mais l'indépendance de ces nations a suscité un nationalisme étroit et xénophobe. Le déferlement de l'économie libérale a surexcité à la fois l'aspiration aux modes de vie et consommations occidentales et la nostalgie des sécurités de l'époque soviétique, tout en maintenant la haine de la Russie. Aussi les idées et les partis de gauche sont au degré zéro dans les ex-démocraties populaires.

A l'Ouest, ce n'est pas seulement la globalisation qui a balayé bien des acquis sociaux de l'après-guerre, en éliminant un grand nombre d'industries incapables de soutenir la concurrence asiatique, en provoquant les délocalisations éliminatrices d'emplois ; ce n'est pas seulement la course effrénée au rendement qui a "dégraissé" les entreprises en expulsant tant d'employés et ouvriers ; c'est aussi l'incapacité des partis censés représenter le monde populaire d'élaborer une politique qui réponde à ces défis. Le Parti communiste est devenu une étoile naine, les mouvements trotskistes, en dépit d'une juste dénonciation du capitalisme, sont incapables d'énoncer une alternative. Le Parti socialiste hésite entre son vieux langage et une "modernisation" censée être réaliste, alors que la modernité est en crise.

Plus grave encore est la disparition du peuple de gauche. Ce peuple, formé par la tradition issue de 1789, réactualisée par la IIIe République, a été cultivé aux idées humanistes par les instituteurs, par les écoles de formation socialistes, puis communistes, lesquelles enseignaient la fraternité internationaliste et l'aspiration à un monde meilleur. Le combat contre l'exploitation des travailleurs, l'accueil de l'immigré, la défense des faibles, le souci de la justice sociale, tout cela a nourri pendant un siècle le peuple de gauche, et la Résistance sous l'Occupation a régénéré le message.

Mais la dégradation de la mission de l'instituteur, la sclérose des partis de gauche, la décadence des syndicats ont cessé de nourrir d'idéologie émancipatrice un peuple de gauche dont les derniers représentants, âgés, vont disparaître. Reste la gauche bobo et la gauche caviar. Et alors racisme et xénophobie, qui chez les travailleurs votant à gauche ne s'exprimaient que dans le privé, rentrent dans la sphère politique et amènent à voter désormais Jean-Marie Le Pen. Une France réactionnaire reléguée au second rang au XXe siècle, sauf durant Vichy, arrive au premier rang, racornie, chauvine, souverainiste.

Elle souhaite le rejet des sans-papiers, la répression cruelle des jeunes des banlieues, elle exorcise l'angoisse des temps présents dans la haine de l'islam, du Maghrébin, de l'Africain, et, en catimini, du juif, en dépit de sa joie de voir Israël traiter le Palestinien comme le chrétien traitait le juif.

La victoire de Nicolas Sarkozy fut due secondairement à son astuce politique, principalement à la carence des gauches. Sous des formes différentes, même situation en Italie, en Allemagne, en Hollande, pays de la libre-pensée devenant xénophobe et réactionnaire. La situation exige à la fois une résistance et une régénération de la pensée politique.

Il ne s'agit pas de concevoir un "modèle de société" (qui ne pourrait qu'être statique dans un monde dynamique), voire de chercher quelque oxygène dans l'idée d'utopie. Il nous faut élaborer une Voie, qui ne pourra se former que de la confluence de multiples voies réformatrices, et qui amènerait, s'il n'est pas trop tard, la décomposition de la course folle et suicidaire qui nous conduit aux abîmes.

La voie qui aujourd'hui semble indépassable peut être dépassée. La voie nouvelle conduirait à une métamorphose de l'humanité : l'accession à une société-monde de type absolument nouveau. Elle permettrait d'associer la progressivité du réformisme et la radicalité de la révolution. Rien n'a apparemment commencé. Mais dans tous lieux, pays et continents, y compris en France, il y a multiplicité d'initiatives de tous ordres, économiques, écologiques, sociales, politiques, pédagogiques, urbaines, rurales, qui trouvent des solutions à des problèmes vitaux et sont porteuses d'avenir. Elles sont éparses, séparées, compartimentées, s'ignorant les unes les autres... Elles sont ignorées des partis, des administrations, des médias. Elles méritent d'être connues et que leur conjonction permette d'entrevoir les voies réformatrices.

Comme tout est à transformer, et que toutes les réforme sont solidaires et dépendantes les unes des autres, je ne peux ici les recenser, cela sera le travail d'un livre ultérieur, peut-être ultime. Indiquons seulement ici et très schématiquement les voies d'une réforme de la démocratie.

La démocratie parlementaire, si nécessaire soit-elle, est insuffisante. Il faudrait concevoir et proposer les modes d'une démocratie participative, notamment aux échelles locales. Il serait utile en même temps de favoriser un réveil citoyen, qui lui-même est inséparable d'une régénération de la pensée politique, ainsi que de la formation des militants aux grands problèmes. Il serait également utile de multiplier les universités populaires qui offriraient aux citoyens initiation aux sciences politiques, sociologiques, économiques.

Il faudrait également adopter et adapter une sorte de conception néoconfucéenne, dans les carrières d'administration publique et les professions comportant une mission civique (enseignants, médecins), c'est-à-dire promouvoir un mode de recrutement tenant compte des valeurs morales du candidat, de ses aptitudes à la "bienveillance" (attention à autrui), à la compassion, de son dévouement au bien public, de son souci de justice et d'équité.

Préparons un nouveau commencement en reliant les trois souches (libertaire, socialiste, communiste), en y ajoutant la souche écologique en une tétralogie. Cela implique évidemment la décomposition des structures partidaires existantes, une grande recomposition selon une formule ample et ouverte, l'apport d'une pensée politique régénérée.

Certes, il nous faut d'abord résister à la barbarie qui monte. Mais le "non" d'une résistance doit se nourrir d'un "oui" à nos aspirations. La résistance à tout ce qui dégrade l'homme par l'homme, aux asservissements, aux mépris, aux humiliations, se nourrit de l'aspiration, non pas au meilleur des mondes, mais à un monde meilleur. Cette aspiration, qui n'a cessé de naître et renaître au cours de l'histoire humaine, renaîtra encore."

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O ARGUIDO E O SEU CRIADOR


A comunicação social vai dando notícia do julgamento do presidente da Académica/OAF. Pelo menos é assim, sob este título, que as peripécias do julgamento vão sendo relatadas, ainda que quem verdadeiramente  esteja a ser julgado é um ex-director municipal da Câmara de Coimbra, que também era e é presidente da Académica/OAF.

Obviamente que não é possível dissociar as duas qualidades mas a verdadeira génese da questão está no facto de ter havido uma decisão de cálculo político de alguém - o presidente da Câmara -, que decidiu aproveitar, em beneficio partidário próprio, a vantagem eleitoral de ter junto de si o presidente do principal clube de futebol de  Coimbra e decidiu fazê-lo director municipal. 

O presidente da Académica/OAF não chegou à Câmara de Coimbra, por iniciativa própria,  para despachar processos de obras particulares. Não, ele foi convidado e nomeado pelo presidente da Câmara, num acto consciente para ganhar votos, apesar de todos os alertas quanto ao cocktail explosivo que era juntar futebol, construção imobiliária e poder local.

Os alertas quanto aos potenciais riscos de surgirem problemas com esta solução foram muitos e públicos o que ainda menos desculpa quem resolveu de forma consciente, determinada e oportunista, ir por aí. Aqui não há desculpas ou ingenuidades e hoje se temos um julgamento a decorrer, com o desgaste institucional para a Académica/OAF e para Coimbra isso deve-se  única e exclusivamente ao presidente da Câmara.

Foi o Dr. Carlos Encarnação que, sem sombras de dúvidas, criou as condições para as suspeitas que estão em apreciação judicial. É ele que moral e politicamente "criou" este arguido e é também ele que, por isso mesmo, está a ser julgado.

Mais ainda, perante rumores e dúvidas que foram surgindo o Dr. Carlos Encarnação manteve durante três anos o referido director municipal sem se quer se questionar sobre o que estava a acontecer no seio da Câmara, não exercendo assim o seu dever de zelar pelo bom funcionamento da instituição e pela supervisão funcional e política que é exigida a um presidente.

No meio de tudo isto o Dr. Carlos Encarnação tem-se escondido e fugido às suas responsabilidades, atirando para o presidente da Académica/OAF e director municipal do urbanismo o ónus moral da sua presença na Câmara e para o vereador do urbanismo o ónus técnico-político de ter de o aguentar.  É necessário lembrar e sublinhar que o directo municipal e presidente da Académica/OAF exerceu na Câmara competências delegadas, durante três anos, numa dependência directa do orgão político o que torna conivente o seu presidente com tudo o que se passou.

Por isso, podem alguns omitir, por distracção ou por medo, as verdadeiras responsabilidades pelo vexame que a cidade e a Académica/OAF sofreu e continua a sofrer com esta história de promiscuidades mas é óbvio que em todo este processo há um "fugitivo" que, numa óbvia postura de cobardia política, faz do silêncio a sua defesa tentando passar pelos pingos da chuva e "chutando", como é seu timbre, as responsabilidades para outros sabendo que é ele o verdadeiro causador de toda esta vergonha.

Temos assim um julgamento de que se conhece o arguido sendo no entanto politicamente saudável e necessário não esquecer quem foi o seu "criador", que está  por aí, caladinho como um rato, na expectativa de que não se lembrem dele no Palácio da Justiça e nas ruas da Cidade.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

EMERGÊNCIA POLÍTICA


Parece-me inequívoco que neste momento há uma emergência política: estruturar devidamente os serviços de saúde mental e elaborar um plano de emergência!

Com efeito - para além do reconfortante facto de haver centenas, senão milhares de felizes cidadãos que vão assistindo religiosamente aos treinos de sete jogadores da selecção nacional futebol na Covilhã, provando que a crise é uma ficção -, fica-se altamente perturbado com o ambiente político que se vive e é quase certo que dentro em breve haverá uma grave situação de saúde pública de natureza psíquica, muito mais intensa e perigosa do que uma gripe, seja qual for a letra do abecedário com que venha a ser baptizada.

Começa com um vulcão da Islândia, sem nome de gente, que vai bufando, com um desplante gozão, sem respeito pela "Velha Albion", pela flexi-segurança nórdica ou pela senhora Merkel (que manda nisto tudo) e põe a Europa em terra.

Depois, cá na pátria, os dois grandes partidos, que se assumem como alternativa de governo, recusam-se a alternar (peço uma leitura bondosa da palavra) e fazem acordos informais ou será formais (?) numa clareza política embasbacante. 

Por outro lado, o líder da oposição pede desculpa pelas medidas que o governo toma, medidas que o primeiro-ministro garante que são indispensáveis para salvar o país e a todos nós e, portanto, medidas de que não se deve pedir desculpas mas enaltecer.

Na Assembleia da República planeia-se um bunker para fumadores e vive-se uma euforia inquisitorial que arrasa qualquer das mais reputadas telenovelas venezuelanas, com a única diferença de que toda a gente conhece o final e sabe o que vai concluir e votar cada um. 

Trata-se do mais belo e completo exercício parlamentar com que a Assembleia, a quem delegamos a defesa dos superiores interesses do país, capitaneada pelo estóico Pacheco Pereira, assinalará os cem anos da República.

Simultaneamente, no intervalo publicitário em que os Bancos, que vão tendo excelentes lucros, fazem publicidade aos seus produtos, nomeadamente à facilidade de empréstimo, aparecem os banqueiros a dizer que não há dinheiro e que vamos passar as passas do Algarve, para onde vai depois tudo de férias com créditos bancários.

Bem, é melhor ficar por aqui para não acrescentar sofrimento e dizer que no meio disto tudo apenas há um elemento de racionalidade - a moção de censura do PCP. O sonho do PCP sempre foi o de ter a direita a governar e mantém a sua coerência.

Aliás, perdoem-me um localismo, aqui por Coimbra, o combativo PCP das políticas de direita ,está coligado na Câmara com a direita vai para nove anos. Faz a política da direita com as competências que a direita lhe delegou, colaborando com o despesismo, o compadrio e o vazio de ideias que se abateu sobre a cidade.

Digam-me lá se por tudo isto não é uma emergência política organizar e estabelecer um plano de emergência na área da saúde mental? Será que não vamos ficar todos doidos!?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 52

Nunca perder a compostura.

A principal finalidade da prudência é não perder nunca a compostura. Disso dá prova o verdadeiro homem, de coração perfeito, porque é difícil perturbar os espíritos elevados. As paixões são os humores do espírito; qualquer excesso prejudica a prudência; e se o mal chegar aos lábios, a reputação correrá perigo. Devemos ser tão senhores de nós próprios que nem na maior prosperidade nem na maior adversidade alguém nos possa criticar por termos perdido a compostura. Assim seremos admirados como superiores.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

terça-feira, 11 de maio de 2010

ADÁGIOS



Talvez pelo tempo, talvez pelo ambiente político ou pelas tolerâncias de ponto senti a necessidade de ouvir e sentir aquele andamento lento da estrutura musical dos adágios. 

Pelo conforto, paz e tranquilidade que é possível conseguir aqui deixo a minha sugestão para este dia - ouvir uma compilação de adágios.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

FÉ, PROBAILIDADES E CERTEZAS


Por estes dias ficámos a saber que somos quase tantos católicos como benfiquistas, ou vice-versa, e que uma conjugação "astral" leva a que haja nesta semana tantas referências a Jesus que não consigamos distinguir as de ordem teológica das puramente futebolísticas.

Para mais há, coincidentemente, uma celebração futebolística e uma celebração religiosa, que se entrelaçam e se apregoa que vão deixar "arrasados" uns oito milhões de portugueses.

Também parece que há uma crise que afecta para aí uns oitenta por cento da população o que corresponde, ainda que não de modo sobreponível, ao mesmo número de benfiquista e de católicos, ou vice-versa. 

As grandes diferenças estão no facto de que num caso estamos perante uma questão de fé, noutro no campo do jogo e portanto das probabilidades e no caso da crise, no das certezas. 

Aliás, a crise é uma certeza que nos persegue de há muito e que nunca nos abandona. Por vezes tem recaídas e durante uns tempos somos fustigados com a ideia de um certo desenvolvimento mas quando ouvimos isso tratamos logo de dar cabo da coisa e de arranjar uma nova crise, ainda pior do que a anterior.

Tenho de confessar que depois de já ter ficado sem o décimo terceiro mês, de ter trabalhado num fim de semana a bem da salvação financeira do país e de ter vindo paulatinamente, mas consequentemente, a perder poder de compra deixei de acreditar que vou acabar os meus dias num país sem crise.

Em certa altura pensei que a crise apenas se pegasse à minha geração e que os mais novos fossem poupados dessa moléstia, mas não. Gerações mais novas têm, desde o primeiro vagido, sido "baptizadas" na crise. Estou certo que não há  hoje nenhum jovem que não tenha a convicção, mesmo quando conversa com o parceiro do lado através de um telemóvel da última geração, que vive em estado de crise.

A crise é um estado permanente que suscita a análise e a preocupação de todos e para a qual quase todos têm a solução, mas que felizmente não se resolve porque como a meteorologia é um bom tema de conversa e uma excelente desculpa para a compra de um novo carro, topo de gama, do último modelo. A única coisa que me parece discutível - peço toda a bondade e compreensão para a minha iletrada opinião - é que os mais preocupados e que melhores soluções advogam para a sua solução sejam exactamente aqueles que tendo podido não foram capazes de a evitar.

Se perguntassem a um doente, que teve alta dada por uma junta médica e que vai para casa em sofrimento, a quem pediria ajuda estou convencido de que ele não aceitaria recorrer a nenhum dos médicos da junta.

No caso da crise é o contrário. Dos oito milhões de portugueses que sofrem a crise e que não tiverem qualquer responsabilidade na sua previsão ou na tomada de decisões para a evitarem são logo chamados a analisá-la e a prescrever os necessários remédios, pelo menos dez que tiveram responsabilidades políticas  objectivas e concretas no seu desenvolvimento.

Somos sem dúvida um país peculiar onde tudo se baralha e confunde, o que se prova nesta semana. Com efeito temos a certeza de que o Benfica é campeão, que vinda do Papa é uma forte probabilidade, porque o inominável vulcão islandês vai fumegar para outro lado, e temos, finalmente,  fé de que os sábios que tiveram nos últimos anos a abanar o berço da crise têm a receita necessária à sua erradicação.

Contra tudo o que se pode dizer é muito bom viver em Portugal, pelo menos é um espaço político intelectualmente excitante e religiosa e futebolisticamente emocionante.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 51


Saber escolher.

Viver é saber escolher. É necessário bom gosto e um discernimento rectíssimo, uma vez que não são suficientes o estudo e a inteligência. Não há perfeição onde não houver escolha. Ela tem duas vantagens: poder escolher e eleger o melhor. Muitos, de inteligência rica e subtil, de discernimento rigoroso, estudiosos e de cultura amena perdem-se quando têm de eleger. Casam-se sempre com o pior, de tal maneira que parecem equivocar-se por ostentação. Por isso, este é um dos maiores dons do céu.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O GRANDE COOPERANTE E O CANDIDATO NAÏF


Cedo se percebeu que a dita "cooperação estratégica" não passava de um envenenado presente político do Presidente Cavaco Silva ao Governo e, particularmente, ao Primeiro-ministro.

No fundo, o que estava e tem estado em causa, é uma mistificação, "vendida" pelo discurso presidencial, que deixa transparecer que, graças à "cooperação estratégica", os únicos actos "bons" do governo são aqueles que acontecem por influência do Presidente.
 
O que a prática tem vindo a demonstrar é que há um projecto presidencial de governação que se traduz num arremedo de co-gestão governamental, que transcende o magistério de influência e incorpora o magistério executivo na componente presidencial.

Os mais cépticos da sublinhada postura presidencial sempre desconfiaram que havia alguma coisa para além de uma  bondosa sessão de trabalho às quintas-feiras em Belém, entre o Presidente e o Primeiro-ministro e, passado algum tempo, começaram a perceber que nos restantes seis dias da semana havia uma irradiação programática que partia de Belém e se envolvia em influências e decisões que consubstanciavam uma verdadeira cooperação estratégica com personalidades e partidos da oposição, em divergência com as opções políticas governativas.

Se há, e sempre houve, uma tendência dos inquilinos de Belém para influenciarem as políticas governamentais, no caso presente houve uma designação especifica - num assumido marketing político - que tentou, mais do que clarificar posições, esconder propósitos.

Hoje, tudo isto é por demais evidente e, porque as eleições presidenciais estão aí, será bom olhar com clareza para as afirmações e para os propósitos dos candidatos não deixando de escrutinar devidamente as nuances semânticas dos discursos com que tentam esconder os seus reais propósitos.

O candidato Cavaco Silva, pese tudo o que irá dizer, já demonstrou que não é um "leal conselheiro" mas sim o "grande cooperante" que assume a intervenção presidencial em nome de um projecto político de cariz executivo, com componentes especificas de governação, com uma leitura própria da Constituição e uma procura de interferência directa e dirigista  nas políticas sufragadas em eleições legislativas. 

É, por isso, preciso, no contexto de dificuldade que vivemos e no começo de um século que se aguardava luminoso e se tem revelado desastroso, escolher uma alternativa ao cinismo, mascarado de pragmatismo, do "grande cooperante" e à impreparação evidente de um respeitável candidato naïf, que aparece quase como uma encomenda, e essa escolha só pode ser a de Manuel Alegre.

É imperioso que o PS perceba isto e se decida rapidamente porque há uma angustia desgastante que politicamente não lhe traz qualquer benefício tanto mais quando esta é a opção certa e possível.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 50


 Nunca perder o respeito por si próprio.

É melhor que nem se quer se familiarize a sós consigo mesmo. A sua própria integridade deve ser a norma de rectidão. É melhor que deva mais à severidade da sua opinião que a todas as normas externas. Que deixe de cometer indecências mais por temor da sua própria cordura que pelo rigor da autoridade alheia. Se chegar a tremer-se não necessitará do aio imaginário de Séneca*.

* A sua própria consciência

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 5 de maio de 2010

TGV LISBOA-MADRID. CONSTRUAM-ME, PORRA!


O século XIX trouxe-nos o comboio. E, desconhecendo estudos de custo/benefício é inaugurado em 1 Abril de 1868 o serviço directo de Lisboa a Madrid. Alguns anos mais tarde, em 1887, foi criado o Sud-Express que passou a ligar Lisboa-Madrid-Paris e Calais, com serviço diário, desde em 1906.

Muitas e interessantes histórias haverá para contar sobre esta ligação ferroviária à Europa, muito particularmente sobre a sua importância económica, social e cultural para o nosso país, mas nenhuma história se comparará em enredo, ao que tem sido a discussão sobre a oportunidade do necessário salto qualitativo na ligação ferroviária à mesma Europa, que se arrasta desde finais do século passado, e que tem a ver com a construção de uns cento e tal quilómetros de uma linha para comboios de alta velocidade.

Hoje, quando a França tem cerca de 1.200 quilómetros de TGV e a Espanha constrói aceleradamente uma extensa rede ligando as suas principais cidades, nós centrámos a discussão, como não poderia deixar de ser, na construção desses cento e tal quilómetros como se daí dependesse, ao fim de mais de oito séculos, a nossa salvação ou a nossa ruína.

A irracionalidade da discussão abateu-se sobre o país e a o TGV tornou-se um instrumento de luta partidária e de campanha eleitoral presidencial.

Gastámos rios de dinheiro em estudos, os governos aprovaram e até se comprometeram internacionalmente com a construção de cinco linhas em H e com duas em T. Agora só resta uma, da fronteira até ao Poceirão (nome simpático para pronúncia internacional e grande centro estratégico).


Dirigentes políticos da oposição, sapientes ex-ministros das Finanças e reputados economistas vão ao Presidente da República profetizar o fim do país com a construção de uns cerca de cem quilómetros de linha de comboio necessários à nossa ligação à rede europeia de alta velocidade.


O Presidente da República dá uma lição de macro-economia (?) na visita a uma fábrica de enchidos, para acirrar os ânimos anti-TGV, mesmo depois de ter aprovado o decreto-lei que permite a adjudicação, numa coerência de candidato presidencial em cooperação estratégica com a oposição de direita.


Por mim, ainda gostava de ir a Madrid no TGV, visitar o Prado, nem que tenha de entrar na estação do Poceirão, recordando que por uma vez a esquerda esteve unida na decisão de avançar com este projecto e que essa mesma união se estendeu ao apoio a um candidato presidencial - Manuel Alegre.


Entretanto, e à semelhança do que alguém um dia escreveu no Alqueva, sugiro um simples outdoor, à entrada de Lisboa, com a frase: "TGV Lisboa-Madrid. Construam-me, porra!". 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O GALO CELESTIAL


A notícia de que o Presidente da República vai receber nove ex-ministros das Finanças tem um óbvio significado político de pressão sobre o governo e as suas opções, para mais sabendo quem são esses ex-ministros e as teses que vêm defendendo no que se refere ao investimento público.

Há aqui, contudo, um problema de autoridade que não pode deixar de ser considerado: é que o ex-dez ministros das Finanças (o Presidente da República também foi ministro das Finanças) terão todos um quota-parte na situação em que nos encontramos.

Esta reunião que vai ser tema para muitas análises nos próximos dias fez-me lembrar um ser imaginário assim descrito por Jorge Luís Borges:

"O Galo Celestial

Segundo os Chineses, o Galo Celestial é uma ave de plumagem dourada, que canta três vezes ao dia. A primeira, quando o Sol toma o seu banho matinal nos confins do oceano; a segunda, quando o Sol está no zénite; a última, quando se esconde no poente. O primeiro canto sacode os céus e desperta a humanidade. O Calo Celestial é um antepassado do Yang, princípio masculino do uinerso. Está dotado de três patas e faz ninho na árvore fu-sang, cuja altura se mede por centenas de milhas e cresce na região da aurora. A voz do Galo Celestial é muito forte e o seu porte é majestoso. Põe ovos de que saem pintainhos com cristas vermelhas que respondem ao seu canto todas as manhãs. Todos os galos da terra descedem do Galo Celestial, que também se chama a "Ave da Alva".

sábado, 1 de maio de 2010

POLÍTICA



Política

Que simpático rato!
Não tem nada de repelente ou tétrico ou nojento.
E - para dizer tudo -
Há homens menos inofensivos.

Raul de Carvalho

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 49



Ser um homem interessante e observador.

Ele manda nos objectos e não os objectos nele. Sonda o carácter mais profundo; sabe traçar com perfeição a anatomia do talento. Entende e valoriza a essência de qualquer pessoa apenas por vê-la. É, pelos seus raros dotes de observação, um grande decifrador da mais oculta interioridade. Observa com rigor, pensa com subtileza, infere com discernimento. Tudo descobre, adverte, atinge e compreende.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián