Ter coragem e prudência.
Até as lebres se atrevem com o leão morto. Com a coragem não se brinca. Se se cede à primeira, também terá de ceder-se à segunda, e assim por diante até ao fim. A mesma dificuldade terá de ser vencida mais tarde: mais vale fazê-lo agora. A coragem do espírito é superior à do corpo. É como a espada: deve estar sempre embainhada na sua prudência até o momento oportuno. É a defesa da pessoa. Maior dano causa a fraqueza do espírito que a do corpo. Muitos possuíram qualidades eminentes, mas, por lhes faltar este alento, pareciam mortos e acabaram sepultados na sua debilidade. Não foi por acaso que a natureza solícita juntou a doçura do mel com o picante ferrão da abelha. Nervos e ossos tem o corpo: que não seja o espírito todo brandura.
A Arte da Prudência
Baltasar Gracián
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